Capítulo 29

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Marcelo

— Como é que é? — Questiono irritado. — Como foi que perderam ele de vista?

— Ele estava lá dentro, mas já não está mais, nosso infiltrado disse que eles estão desconfiados, e o FP saiu por um túnel que dá em outro prédio.

— Que Caralho! — Esbravejo. — Vamos voltar para a base, não vai dar pra fazer nada agora. Fala pro J ter cuidado.

— Ok, chefe.

Estamos há uma semana no Paraguai, ficamos uma semana nos EUA rastreando as atividades ilícitas do Sardinha, ele pegou um avião com destino a Pedro Juan Caballero, uma cidade que faz fronteira com o Brasil e foi transformada no centro do narcotráfico. E já estamos aqui há duas semanas, duas semanas e nada de conseguimos a brecha para pegar esse bandido.

Estou focado, no entanto a frustração vem me deixando mais irritado do que o costume.

Detesto quando algo não sai como planejado.

Quando chegamos na base onde estamos instalados, decido extravasar um pouco da minha frustração dando alguns golpes no saco de areia instalado.

Preciso relaxar.

Estou dando o segundo golpe, quando a música para e meu celular toca, abandono o saco e pego meu celular vendo um número privado aparecendo na tela, fico indeciso, mais prefiro atender, nunca se sabe.

— Alô? — Já atendo indagando.

— Delegado, fiquei sabendo que está me procurando?

Puta que pariu! Como esse escroto descobriu nossa operação.

— Sardinha. — Afirmo e o nojento solta uma gargalhada.

— Surpreso Fontana. — Ri ainda mais e depois diz. — Achou mesmo que eu não iria ficar sabendo, uma hora ou outra sempre vou ficar sabendo, você nunca vai me pegar, e sinto lhe informar que agora se tornou algo pessoal sabe? Por isso não achei injusto fazer uma visita a sua namoradinha.

— Ta maluco porra? — Indago. — Eu não tenho namorada.

— Não? — Bom saber, quer dizer que a americana gostosa tá livre. — Meu corpo gela ao ouvir sua frase, mais prefiro continuar negando, pode ser um blefe. — Caralho! Vou me esbaldar naquele corpo.

— Que merda ta falando?

— Para de hipocrisia cara. Tô falando da linda Amy Montgomery, lembrou agora?

Eu não tô acreditando nisso, não acredito. Que merda!

— Você sabia que ela foi na sua casa?  — Ele pergunta mais é uma pergunta retórica já que responde logo em seguida. — Não né? Tu tava atrás de mim, sem chance de saber. Meu amigo disse que ela saiu com uma fisionomia muito triste de lá, algo me diz que ela não conseguiu o que queria.

Amy na minha casa? O que ela queria? Será que tá falando a verdade?

— O que você quer realmente Sardinha? — Indago com raiva.

— Eu quero te convidar pra gente ter uma conversinha entre amigos. Sem compromisso, vamos resolver essas questões. Mas se não quiser conversar não se preocupa tá, eu tenho uma conversa que acho que será muito mais proveitosa com a tua mulher. Um amigo meu tá acompanhando ela e desde que voltou pra casa não saiu pra nada, ela deve ta muito decepcionada cara, que merda tu fez hã? Me conta.

— Eu não tenho nada pra falar com você, muito menos numa conversa de amigos. — Enfatizo a palavra amigo.

— Que pena cara, então terei que pedir pra meu amigo bater na porta da sua namorada, acho que ele vai adorar, já que está doido pra conhecer a amiga dela, acho que é Zoe, o nome da menina.

— Deixa elas fora dessa merda, seu filho da puta! — Grito.

— Agora eu gostei. Assumiu que se importa né? Bom saber viu, porque hoje mesmo elas receberão uma visitinha.

— Seu desgraçado.

— Não adianta ficar me falando palavras xulas contra mim. Isso não me afeta em nada. Acho bom você estar hoje às 23:00hrs no endereço que vou lhe mandar, se não seu amigo J e a família dele irão pagar muito caro por isso.

Droga, merda, caralho, que bosta! Não acredito que ele descobriu o J.

— Vocês se acham muito espertos não é mesmo. Mas não são, eu não sou otário, muito menos meus funcionários, então se você não quiser ver sangue ao modo mexicano¹ é bom aparecer.

Diz isso e finaliza a ligação.

E agora caralho? Isso vai foder com toda a operação. Saio da área onde está o saco e chamo Dênis.

— Tenta contatar o J. — Peço quando ele vem.

Ele acena afirmativamente e sai, eu fico parado olhando para o teto e tento me controlar.

Olho para meu celular e resolvo ligar para Amy.

No terceiro toque ela atende.

— Onde você está? Preciso falar com você urgente. — Ela diz quando atende.

Sinto um alívio ao ouvir sua voz.

— Liga para seu irmão e seu pai e avisa que você está sendo seguida por um traficante. Fala pra eles pedirem proteção pra você e sua amiga, as duas estão correndo perigo, não saiam de casa enquanto o seu irmão e seu pai consiga um lugar seguro pra vocês.

— Que conversa é essa? — Indaga e sinto sua voz tremer no final.

— Estou em uma operação e o chefe do narco descobriu nossa ligação, você não está segura e eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a você. Por favor Amy, faz o que tô pedindo.

— O que você vai fazer? — Ela questiona e sinto sua apreensão.

— Eu vou conversar com o chefão, é isso ou a família e um membro da equipe irão ter que pagar caro por isso.

— Você não pode fazer isso, essas pessoas podem te matar! — Ela grita em meu ouvido e eu suspiro cansado.

— Não tenho saída Amy. É minha equipe e se for preciso me sacrificar pelos meus eu faço. — Respondo para ela que solução.

Sinto meu peito apertar e a garganta queimar, mas é necessário.

— Amy, eu preciso desligar agora. — Falo. — Se algo acontecer hoje, eu quero que você saiba que eu te amo, amo pra caralho e desejo que seja feliz.

— Não fala isso, parece uma despedida, e não pode ser uma despedida. Eu fui na sua casa e não consegui realizar meu objetivo. Eu fui pra dizer que te amo e que não queria ficar mais nem um minuto longe, mas você não estava e eu não queria te falar isso assim, mas você não pode deixar que nada aconteça, você tem que voltar pra mim. Está ouvindo? — Ela Indaga.

Puta que pariu! Tínhamos que nos declarar assim, logo quando não posso estar ao seu lado para beijar-lhe os lábios.

Dênis aparece e faz um sinal.

— Amy eu preciso desligar. Faz o que te pedi. — Não dando chance para que ela fale algo, eu desligo e chamo Dênis.

— E aí? — Indago.

— Nada Marcelo, ele sumiu do mapa.

— Caralho! — Exclamo.

Faço um breve resumo para Dênis e falo o que vou fazer. Ele não apoia mais entende que eu quem decido como vai funcionar. Dou-lhe umas orientações e depois sigo para meu destino.

É o certo a se fazer, mesmo que eu não saiba se voltarei para casa.

*Modo Mexicano¹: As pessoas são decapitadas, queimadas vivas, tem seus membros arrancados e por aí vai. Isso acontece muito nas disputas pelo tráfico ou como acerto de contas.

Marcelo (Spin-off Tudo Culpa dos Croquis)Onde histórias criam vida. Descubra agora