Capítulo 21 - Recepção

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Narrado por Sra. Palmer

Após o enterro de Lúcia e de Cecília, todos seguiram para a minha casa, em silêncio. Alguns chorando e outros apenas cabisbaixos, eu estava chorando e ao mesmo tempo reflexiva. Verônica me amparava, mesmo ela não querendo estar ali ao meu lado. 

Verônica havia encontrado o corpo nu de Cecília na banheira de casa, estava de bruços e havia um machucado na nuca, parecia ter sido feito por um pedaço de madeira. Mesmo com a morte de Cecília, ela não iria reconciliar comigo, havia deixado claro isso.

Assim que entramos à casa, Anna e Éric sentaram-se no sofá e pegaram para si alguns biscoitos e chocolate quente que Verônica havia me ajudado a preparar mais cedo.

Havia muita gente em casa e aquilo de certa forma era reconfortante, pois há muito não recebia tantas visitas assim.

Verônica ficaria hospedada em casa por mais vinte dias e ela havia me informado que esperava pela resposta de seu chefe, pois havia boatos que logo seria mandada para Londres. Seria Gerente-Geral da filial da empresa que ela trabalhava. Ela enfim estaria longe de mim e isso parecia animá-la um pouco e me deixava ainda mais entristecida. Perder minhas filhas para a morte e para o emprego em outro continente eram baques muito grandes. Não tinha muitas razões para viver mais. Será que meus dias na Terra estavam enfim chegando?

Enquanto alimentava o pessoal com biscoitos, ouvia de um canto a outro, cochichos sobre Mariana e seu meio-irmão. Até mesmo no velório de outrem, Mariana e Gabriel eram assuntos prioritários.

Eles não respeitavam os filhos de Lúcia e muito menos as mulheres que haviam morrido. Os vizinhos pouco se importavam se eu era a mãe de uma das falecidas, pois falar de Gabriel e deixá-lo desconfortável era mais importante.

- Ele a estuprou, você lembra? - sussurrou Sra. Kwin a Sra. Sekman, enquanto essa última molhava seu biscoito no chocolate quente.

- Lembro, mas é claro que lembro... - disse a Sra. Sekman um pouco mais alto - Não sei como ele ainda é nosso policial e não sei como Holly Palmer deixa ele visitar sua casa. Jamais deixaria ele se aproximar de minhas netas e filhas.

Gabriel sentava-se próximo de Anna e de Éric, em silêncio, observando, sem piscar o marshmallow que boiava em sua caneca de chocolate, agora frio como a morte. Ele ouvia as conversas em volta e sentia os olhares de soslaio para ele. Não era difícil de notar as pessoas lhe olhando e acusando de coisas terríveis.

- E se ele matou Mariana e Lúcia? Só por que ele tem um distintivo não quer dizer que ele esteja livre de todas as acusações - disse o Sr. Holland enchendo seu copo com mais Whisky e gelo.

- Onde ele estava quando Cecília foi morta? - perguntou o Sr. Mercedes, que fumava um charuto e exalava uma fumaça fétida. Aquele cheiro demoraria semanas para sair de casa.

O semblante de Gabriel cada vez mais transparecia incômodo e irritação com aquelas conversas. Eu queria que ele sofresse um pouco, ele havia abandonado Cecília para ficar com a meio-irmã dele e isso não faria com que o perdoasse tão cedo. Mesmo que Cecília me desprezasse, eu a apreciava e queria que ela se casasse com um bom homem. Quando finalmente ela havia encontrado, ele a havia deixado no mesmo instante assim como ele havia deixado Verônica.

Gabriel era galante e as moças da cidade se apaixonavam fácil, mas depois que o estupro de Mariana veio à tona, todas se distanciaram, com medo de serem as próximas. Os anos passaram-se e Meredith foi a única que continuou próxima, pois o trabalho dela de certa forma a obrigava a ter esse vínculo. Talvez os dois também estivessem tendo um caso e isso ainda não viera à tona como os demais.

Ao voltar a observá-lo, Gabriel já não estava mais sentado no sofá. Anna e Éric fitavam a Tv, em silêncio. Olhei em volta e não o encontrei, dei uma espiada na janela e o encontrei na varanda sozinho. Quando voltei o olhar para dentro, vi Meredith saindo e indo para a varanda, os dois iriam conversar a sós.

- Mãe? - chamou Verônica e continuou assim que a fitei - vou dar uma volta lá fora e fumar um pouco, aqui dentro está muito cheio.

Aquiesci e ela seguiu para a porta da frente. Verônica não queria sair para fumar ou por que dentro de casa estava lotado, ela queria sair, pois queria ficar o mais longe possível de mim.

- A senhora não quer se sentar um pouco? - perguntou Anna, despertando-me dos devaneios, ela fitava o lugar que antes tinha sido de Gabriel.

Sorri educada e sentei ali, mas minha vontade não era de seguir minha filha que tinha se afastado de mim, mas sim de seguir Meredith e ouvir a conversa dela com Gabriel.

Anna pegou a minha mão e segurou com força, olhei em seu rosto e ela chorava em demasia. Talvez também devesse chorar, pois era o enterro da minha filha e se nenhuma outra lágrima caísse de meu rosto, seria motivo de fofoca na vizinhança.

Avistei os pais de Gabriel do outro lado da sala, eles vinham em minha direção. O bom era que o filho não estava no mesmo ambiente que eles, se não a noite ficaria ainda mais sombria.

Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora