Capítulo 31 - Reconhecimento

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Narrado por Gabriel

Reconhecer um cadáver de certa forma para um familiar é muito doloroso, especialmente quando se trata de um ente querido, quando tive que confrontar as fotos de Mariana foi como reviver um pesadelo, senti um nó na garganta que quase me fez vomitar sobre elas.

Ao longo da minha carreira deparei-me com cenas chocantes, corpos em decomposição, vítimas de tiros, casos de suicídio e overdose, no entanto, nada se comparava a dor e a angústia de encarar o corpo inerte de alguém tão próximo. Meredith, não era muito minha amiga, mas se tornara leal naquele dia, assumiu todas as responsabilidades burocráticas, proporcionando-me um apoio inestimável e consolador.

A verdade é que não podia fazer aquilo, dar continuidade ao caso de Mariana sozinho, mesmo sendo o seu meio-irmão, mesmo que tenhamos crescidos juntos, compartilhado um passado em comum e sermos confidentes, até o dia em que bebi e cometi o imperdoável, a estuprei.

Não me perdoava por isso, o remorso me consumia. Acho que nunca me perdoaria, ainda mais sabendo que não terei a oportunidade de vê-la novamente, viva.

Eu não tive tempo nem de ter um luto apropriado, não tive uma conversa com minha família, não tive tempo pra conversar com um amigo, tive apenas aquele momento com Meredith, na cama, mas que também fora rápido e sem emoção da minha parte. Ela estava arrasada. Mesmo assim reconheci no olhar de Meredith alguma coisa diferente, quando ela me viu junto de Anna. Ela havia me encarado assustada. Não entendi muito bem o que era.

Será que ela ficou brava por quê eu estava dando bola pra uma garota mais jovem e que tinha ficado com ela mais cedo na cama de Mariana? Será que ela estava com ciúmes de Anna...

Com toda aquela profusão de acontecimentos e assassinatos, eu não estava com o juízo certo para conversar com essa garota e pensar sobre sexo. Eu sentia uma vontade muito forte de ficar com ela, beijá-la, ela era jovem de mais pra mim, porém parecia muito me querer e eu não iria dispensar a oportunidade. Eu precisava extravasar as emoções. Que emoções! E sexo era a coisa mais fácil de se apegar àquela altura.

Maneei a cabeça e voltei à realidade sombria, uma lápide me esperava no cemitério junto de um túmulo de mármore e flores murchas, uma sensação gélida percorreu minha espinha ao lembrar que Mariana estava lá, dentro de um caixão, confinada a sete palmos, isso me causava náuseas e eu me via ali, no portão de entrada, com mais mortes nas mãos.

Adentrei o cemitério de lápides altas e adornadas de anjos e monumentos, fui até o lugar em que o crime havia acontecido.

Era o túmulo de Mariana, policiais estavam interditando o local, havia sido violado. Sobre o mármore jazia o cadáver recente de uma jovem mulher.

Outra mulher assassinada.

Quem fez aquilo queria deixar rastros e conectar a morte de Mariana às mortes subsequentes. Não era mais uma teoria de Meredith, tudo se confirmava.

Era um serial-killer.

Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora