Narrado por Gabriel
Éric e Anna passaram a noite em casa, estavam cansados de mais e não tinham onde ficar, além da casa da avó que estava interditada. Enquanto não acordavam preparei um café da manha diferente do qual costumo fazer diariamente, tive de passar na padaria e no supermercado mais cedo para abastecer as prateleiras da cozinha que só tinha café e arroz integral. Era difícil comer em casa com a vida do jeito que estava, com um trabalho que me ocupava praticamente as 24 horas do dia por conta das demandas de assassinato que rondavam a cidade.
Assim que acordaram, o café da manhã estava à mesa, mesmo não sendo um bom cozinheiro, ao menos a comida não estava tão mal. Eles me fitaram silêncio e sentaram para comer. Éric estava com os olhos vermelhos, parecia ter chorado antes de vir para a cozinha e Anna estava com a maquiagem borrada, tinha ido dormir sem tomar banho de tão exausta que se encontrava.
- Vou pegar o emprego que foi oferecido pra mim lá na pizzaria - disse Éric de repente ao pegar uma fatia de pão e passar geleia de morango nela.
Anna olhou pra ele franzindo a testa.
- Você trabalhando? - disse ela meneando a cabeça. - Nunca vi isso...
- Vai me ajudar a deixar a mente ocupada - disse ele e a mesa voltou a ficar em silêncio.
Respirei fundo, sentei junto deles e disse:
- Que bom, ao menos vamos diversificar as jantas por aqui. Pizza de vez em quando seria bom.
Éric me encarou irritado e falou em seguida:
- Depois de viver algum tempo sem meu outro pai vivo em casa, descobri que não preciso de mais ninguém cuidando de mim. Não vai ser agora que farei 18 anos que terei você mandando na minha vida e outra nem te conheço, cara!
Ele quis levantar da mesa, mas eu falei antes que fosse:
- As coisas por aqui serão diferentes. - segurei seu braço - Eu sou seu pai. - minha voz saiu ríspida.
O garoto piscou algumas vezes, assustado com minha reação, baixou a cabeça e ficou silêncio.
- Calma, pai... - disse Anna pegando em minha mão espalmada sobre a mesa, me virei pra encará-la. - mais tarde vou conversar com ele. Éric tá estressado agora.
Assenti a encarando.
- Já eu gostei de saber que ficarei aqui com você... - ela tentou mudar de assunto.
Me recostei na cadeira e tentei relaxar.
- A casa não é muito grande - respondi, observando os móveis velhos, mas conservados.
- Achei ela bem bonita, não me importo de dividir o quarto com Éric, ele apesar de ser menino não é espaçoso.
Éric permaneceu cabisbaixo mesmo ouvindo sua irmã dizer seu nome.
- Vou comprar camas novas pra vocês - falei, pois no quarto em que eles estavam só havia uma cama de casal.
- Obrigado-o - gaguejou ele - posso-o subir pro-o meu quarto-o?
Pigarreei.
- Posso subir para o meu quarto, por favor? - ele corrigiu a frase.
- Sim, mas sem uso de telas digitais - falei e ele mais que depressa saiu dali, sem olhar pra trás.
Na cozinha ficaram apenas eu e Anna. Ela me fitava, seu olhar estava com uma mistura de medo e admiração.
- Sempre gostei do senhor... - ela proferiu em um sussurro pegando a minha mão novamente com um olhar que me prendia em pensamentos de outrora - agora sei o motivo.
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Desaparecida na penumbra
Misteri / ThrillerEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...