Narrado por Gabriel
Éric encontrava-se abraçado de seu skate, sentado na rampa, o olhar choroso e distante. Era claro que ele gostava da moça morta, de certa maneira. O cadáver estava nu, de bruços, havia sangue em sua volta, vindo da cabeça. Uma poça seca e escura.
A noite estava sombria e havia névoa por todo o gramado próximo, uma cena perfeita de filme.
Anna aproximou-se de mim e me abraçou, também estava chorando. Tentei me desvencilhar, com receio de me beijar em público. Ela era linda, esbelta e magra, corpo que apreciava observar e apreciar na cama, mas não ali, não em uma cena de crime.
Me afastei dela e aproximei-me de Éric, tirei o casaco e o cobri, ele tremia. Seu choro silenciou, limpou os olhos com o punho, deixou o skate no chão e levantou-se cambaleante, indo em direção de sua irmã.
- Ela está morta... - sussurrou para Anna, enquanto a apertava entre os braços.
- Sim, Gabriel está aqui agora. Ele vai resolver tudo. - disse Anna pesarosa.
- Ela não vai voltar à vida, Anna, entende? - o garoto fungava.
- Entendo sim, meu bem. Fique calmo - disse ela abraçando-o firmemente.
Viaturas estacionaram próximas, com sirenes ligadas, olhei para uma delas e Meredith saiu depressa, vindo em nossa direção.
- Qual é o caso? - perguntou, segurando uma prancheta.
Ela havia deixado o vestido preto e elegante que usara no velório e encontrava-se agora vestida com seu uniforme de perita.
Mesmo com o semblante sério, continuava bela, seus cabelos caindo sobre os ombros, sem maquiagem e com um olhar entristecido.
Passei pra ela o relato, enquanto anotava, levantava o olhar me fitando, tentando manter a discrição de mais cedo.
Anna aproximou-se e agarrou meu braço, parecia enciumada com a aproximação da Agente Forense. Não tinha como eu me desvencilhar dessa vez.
- Oi, Anna - disse Meredith.
- Oi - revirando os olhos, ela respondeu, mais por educação que por vontade própria.
Meredith esboçou um meio-sorriso complacente, virou-se em direção às viaturas.
- Shirley! - chamou Meredith.
A policial morena de olhos azuis aproximou-se.
- Meredith, - respondeu Shirley - o que precisa?
- Leva pra mim, fazendo favor, os dois até uma das viaturas? Eles estão tremendo de frio, coitados!
Rapidamente a policial se prontificou.
- Levo sim, claro!
Shirley aproximou-se de Éric, conversou com ele com calma, explicou-lhe a situação e ele parecia ter entendido que precisava sair por um instante de perto daquela atrocidade.
O garoto caminhou até Anna e os dois seguiram de mãos dadas para a viatura. Eles seriam entrevistados por mim em breve.
Os policiais começaram a interditar o local, enquanto Meredith e eu analisávamos o cadáver.
Havia marcas de sangue na pista de Skate, como se o corpo tivesse sido arrastado até ali, mas alguém tentou limpar o rastro, deixando apenas uma marca não muito aparente, passando pelo gramado molhado de orvalho e indo em direção da rua.
De longe senti o olhar de Anna, virei para fitá-la, ela me encarava com lascívia, já o irmão, ao seu lado, com o olhar baixo e triste.
As atitudes daquela garota faziam com que meu corpo todo arrepiasse, mesmo ali diante àquele cadáver, Anna me provocava, ela me queria e eu também a queria, muito.
Balancei a cabeça, voltando a me concentrar no caso, Meredith estava colhendo provas, fios de cabelo, unhas quebradas pelo chão e um pedaço de madeira na grama, marcado de sangue.
O assassino havia deixado para trás a arma do crime. Havia sido um descuido ou perspicácia?
- Me segue. - eu disse, indo em direção à rua com marcas de sangue. - Meredith, ela foi morta em outro lugar, veja.
Meredith me seguiu, apreensiva, seguindo o rastro acobertado por folhas secas e molhadas.
- Quem quer que seja que a assassinou, tentou fazer um caminho para o local da morte dela.
- Eu achei que estava escondendo o caminho...
- Não, veja. As folhas estão levando para a floresta. - ela apontou com o dedo a floresta empreguinada de neblina.
- Vamos até lá.
Meredith assentiu e os dois adentraram entre as árvores.Uma fina chuva começou a cair.
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Desaparecida na penumbra
Mystère / ThrillerEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...