Capítulo 28 - O cadáver, o chorão e a safada

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Narrado por Gabriel

Éric encontrava-se abraçado de seu skate, sentado na rampa, o olhar choroso e distante. Era claro que ele gostava da moça morta, de certa maneira. O cadáver estava nu, de bruços, havia sangue em sua volta, vindo da cabeça. Uma poça seca e escura.

A noite estava sombria e havia névoa por todo o gramado próximo, uma cena perfeita de filme. 

Anna aproximou-se de mim e me abraçou, também estava chorando. Tentei me desvencilhar, com receio de me beijar em público. Ela era linda, esbelta e magra, corpo que apreciava observar e apreciar na cama, mas não ali, não em uma cena de crime.

Me afastei dela e aproximei-me de Éric, tirei o casaco e o cobri, ele tremia. Seu choro silenciou, limpou os olhos com o punho, deixou o skate no chão e levantou-se cambaleante, indo em direção de sua irmã.

- Ela está morta... - sussurrou para Anna, enquanto a apertava entre os braços.

- Sim, Gabriel está aqui agora. Ele vai resolver tudo. - disse Anna pesarosa.

- Ela não vai voltar à vida, Anna, entende? - o garoto fungava.

- Entendo sim, meu bem. Fique calmo - disse ela abraçando-o firmemente.

Viaturas estacionaram próximas, com sirenes ligadas, olhei para uma delas e Meredith saiu depressa, vindo em nossa direção.

- Qual é o caso? - perguntou, segurando uma prancheta.

Ela havia deixado o vestido preto e elegante que usara no velório e encontrava-se agora vestida com seu uniforme de perita.

Mesmo com o semblante sério, continuava bela, seus cabelos caindo sobre os ombros, sem maquiagem e com um olhar entristecido.

Passei pra ela o relato, enquanto anotava, levantava o olhar me fitando, tentando manter a discrição de mais cedo.

Anna aproximou-se e agarrou meu braço, parecia enciumada com a aproximação da Agente Forense. Não tinha como eu me desvencilhar dessa vez.

- Oi, Anna - disse Meredith. 

- Oi - revirando os olhos, ela respondeu, mais por educação que por vontade própria.

Meredith esboçou um meio-sorriso complacente, virou-se em direção às viaturas.

- Shirley! - chamou Meredith.

A policial morena de olhos azuis aproximou-se.

- Meredith, -  respondeu Shirley - o que precisa?

- Leva pra mim, fazendo favor, os dois até uma das viaturas? Eles estão tremendo de frio, coitados!

Rapidamente a policial se prontificou.

- Levo sim, claro! 

Shirley aproximou-se de Éric, conversou com ele com calma, explicou-lhe a situação e ele parecia ter entendido que precisava sair por um instante de perto daquela atrocidade.

O garoto caminhou até Anna e os dois seguiram de mãos dadas para a viatura. Eles seriam entrevistados por mim em breve.

Os policiais começaram a interditar o local, enquanto Meredith e eu analisávamos o cadáver.

Havia marcas de sangue na pista de Skate, como se o corpo tivesse sido arrastado até ali, mas alguém tentou limpar o rastro, deixando apenas uma marca não muito aparente, passando pelo gramado molhado de orvalho e indo em direção da rua.

De longe senti o olhar de Anna, virei para fitá-la, ela me encarava com lascívia, já o irmão, ao seu lado, com o olhar baixo e triste.

As atitudes daquela garota faziam com que meu corpo todo arrepiasse, mesmo ali diante àquele cadáver, Anna me provocava, ela me queria e eu também a queria, muito.

Balancei a cabeça, voltando a me concentrar no caso, Meredith estava colhendo provas, fios de cabelo, unhas quebradas pelo chão e um pedaço de madeira na grama, marcado de sangue.

O assassino havia deixado para trás a arma do crime. Havia sido um descuido ou perspicácia?

- Me segue. - eu disse, indo em direção à rua com marcas de sangue. - Meredith, ela foi morta em outro lugar, veja.

Meredith me seguiu, apreensiva, seguindo o rastro acobertado por folhas secas e molhadas.

- Quem quer que seja que a assassinou, tentou fazer um caminho para o local da morte dela.

- Eu achei que estava escondendo o caminho...

- Não, veja. As folhas estão levando para a floresta. - ela apontou com o dedo a floresta empreguinada de neblina.

- Vamos até lá.
Meredith assentiu e os dois adentraram entre as árvores.

Uma fina chuva começou a cair.

Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora