Diário perdido de Mariana
Querido diário,
Uma semana se passou depois de nosso primeiro beijo, Gabriel estava distanciado de mim. Ele não conversava comigo como antes e muito menos olhava em minha direção. Tudo que trocávamos dentro de casa eram apenas falas essenciais e nada mais, sem sorrisos, sem intimidade.
Ele me fitava como se temesse que eu contasse a alguém que havíamos nos beijado, pois sou mais jovem que ele e se meu pai soubesse que meu meio-irmão se aproveitou de mim, coitado dele...
Não iria revelar para meu pai, aqui é meu único refúgio e lugar que guardo meus segredos. Espero que meu pai ou outra pessoa nunca descubra estas minhas palavras.
Dificilmente converso com filhos de vizinhos, amigos, muito menos. Não tenho muitos, pois não sou sociável, os que tenho meu pai obrigou-me para manter as aparências, pra mostrar que sou uma garota normal e não retardada.
Gosto de ser sozinha e pouco me importa se alguém me acha idiota ou retardada. Prefiro meus próprios pensamentos a ter que trocar uma risada com alguém que não suporto ficar próxima.
Escondo no guarda-roupa um cantil prateado com vodca, quando meus pais não estão, o tomo todo e depois o encho de volta com uma das garrafas de meu pai e lembrando sempre de completar as garrafas que esvazio com água. Ele até o momento não reclamou do gosto de nenhuma das garrafas de sua coleção. Já faz algum tempo que faço isso e sempre tomo o cuidado para não me embebedar de mais e dar na cara de que me embriaguei dentro de casa. Depois de algum tempo, não me sentia mais zonza com alguns goles, agora conseguia beber um cantil e mais algumas doses da garrafa sem fazer tanto efeito assim. Quando meus pais voltavam para casa depois de jantar fora e Gabriel voltar do treino de futebol eu já estava dormindo.
Gabriel havia entrado em um time um dia após o nosso beijo, ele desaparecia de casa só para não ter que ficar próximo de mim. O medo dele era grande e isso era algo importante para mim, pois quando bem quisesse poderia ameaçá-lo e ele estaria ajoelhado aos meus pés rapidinho. Ele era meu. Meio-irmão ou amante, ele pertencia a mim de toda forma.
Hoje ele chegou mais cedo do treino e subiu as escadas indo para banho. Ele trancava agora, com medo de que eu invadisse e o assediasse.
Fui para meu quarto irritada de não poder chegar perto dele. Deitei na cama e fiquei olhando para o teto, contanto as estrelas grudadas com fita adesiva.
A porta de meu quarto abriu e virei o rosto rapidamente para ver quem era.
Gabriel estava parado no portal, vestido e fitando-me com uma das sobrancelhas erguidas.
Sentei na cama e ele entrou no quarto, sem ser convidado.
Ele aproximou-se de mim rapidamente e quando pensei que ele fosse me beijar, parou de repente e sentou-se ao meu lado, constrangido.
- Desculpe, não posso mais fazer isso... - disse, cabisbaixo.
- Entendo. - respondi seca.
- Foi um erro... nosso beijo... - ele estava sendo muito reticente. - nós não deveríamos ter feito... aquilo, sabe... somos meio... irmãos...
Ele bufou e depois pigarreou.
- Só vim pedir desculpas mesmo... - ele pegou uma de minhas mãos e a beijou delicadamente. - não vou mais incomodá-la...
- Tudo bem... - respondi, deitei de volta na cama, virei de costas e puxei o cobertor para cima de meu corpo. Não ia mostrar a ele minha frustração e raiva. O plano de transar com ele não iria acontecer nunca!
Quando voltei a olhar em sua direção, Gabriel já tinha saído do quarto. Levantei-me e fechei a porta com a chave, com cuidado para não demonstrar que havia levantado da cama tão rápida.
Fiquei dentro do quarto com a luz acesa até meus pais baterem na porta e entrarem para desejar boa noite. Meu pai estava bêbado e saiu pelo corredor raiando dizendo que era para sempre deixar a porta aberta.
Como bem sabia ele iria para o quarto de Gabriel e passar algum tempo xingando-o e dizendo que ele não tinha seu sangue correndo nas veias. Meu pai quando queria ser desprezível ele conseguia.
Mais uma noite frustrante passava-se, - virei-me confortavelmente em direção da parede rosa e fechei os olhos - sem sucesso e sem sexo.
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Desaparecida na penumbra
Misterio / SuspensoEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...