Capítulo 7 - A ligação

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Narrado por Gabriel

Ficar o dia todo de folga era um alívio, Mariana me devia essa! As únicas coisas boas que ela me deu; pausa e paz no trabalho. Sem o som dos outros policiais dando risada ou comentando sobre a minha meio-irmã encontrada morta, sem cochichos dizendo que o enterro dela havia sido um fiasco - apenas uma família da cidade apareceu, e a mãe dessa família havia sido minha amante no passado. Eu estava livre de risadas e comentários sórdidos.

Mariana não tratava as pessoas muito bem após sair da casa dos nossos pais e passar a viver sozinha. Alguns reclamavam de sua grosseria para mim, como se eu fosse o adestrador dela. Mariana havia se tornado adulta e eu não era nenhum tipo de psicólogo ou pai, para ajudá-la nas boas maneiras e convívio em sua sociedade.

Saber de suas atitudes, cada vez mais eu pensava que não queria vê-la mais e tive muita sorte em presenciar um caixão lacrado, pois vomitaria sobre o cadáver se o visse exposto.

Fui deitar tarde, após o enterro, o sono não vinha. A Tv falava baixinho e eu a ouvia perfeitamente. Ver o caixão no cemitério abaixo de nós, dentro da cova, de certa forma despertava um fantasma e isso me deixava acordado até tarde da noite. Mariana não deixaria tão facilmente meus pensamentos.

No começo as nossas relações sexuais eram aventuras, era perigoso praticar aqueles atos dentro de casa, mas para mim era uma adrenalina incomum, pois era algo proibido e excitante. Era diferente transar com minha meio-irmã, pois ao mesmo tempo éramos como irmãos, nós não tínhamos o mesmo sangue. Isso me excitava na época.

Mariana tinha um corpo invejável, alta, curvilínea, fácil de encaixar sobre minha cintura e suas cavalgadas noturnas sobre mim, deixava-me com o tesão elevado. Sua vulva quente envolvia minha carne, confortando-a e fazendo com que eu gemesse com aquela sensação prazerosa e sedutora.

Adormeci com aquele pensamento na mente e o sonho veio, excitante e luxurioso. Ela estava nas sombras vestida de lingerie azul tiffany. Seu corpo chegava próximo a mim e suas mãos tocavam a pele delgada e macia. A queria novamente nos meus braços, queria penetrá-la profundamente, mas quando finalmente ela se aproximou, o telefone tocou, despertando-me das boas sensações.

Meu pênis estava ereto e com a ponta úmida. Mexi nele e o ajeitei dentro da cueca, se não o fizesse, ele saltaria faminto dali.

Atendi a ligação:

- Alô? - perguntei grogue e informal.

- Oi, Gabriel?

- Sim, sou eu, quem gostaria, a essas horas? Se for da delegacia, eu estou de folga...

- Não, não é da polícia... é a filha da Lúcia, Anna. Minha mãe está com você?

Despertei de repente.

- Não, ela não está... algum problema?

- Ela desde ontem de manhã desapareceu... Já é quase duas da manhã e ela não voltou.

- Ela estava no enterro com vocês...

- O enterro da sua irmã foi antes de ontem - disse Anna com a voz preocupada.

Ponderei um instante.

- Ah, é, verdade... - olhei para o calendário na parede.

- Vou tentar ligar para a sua mãe.

- Não adianta, ela não atende... sei que você teve um caso com ela e é policial, por isso que liguei.

Não tivemos um simples caso, quase me casei com Lúcia depois que o marido dela havia morrido, só não o fiz, pois Mariana havia me ameaçado de contar a todos sobre nossas transas secretas.

- Vou ligar na delegacia, tenha calma... vou me trocar e estarei em sua casa, em poucos minutos.

Lá se ia minha folga por água abaixo...

- Obrigado... - ela desligou, parecia chorar na ligação.

Procurei por uma roupa limpa, coloquei-a e procurei por meu celular. Procurei pelo nome de Meredith e antes que eu ligasse, ela me ligava:

- Gabriel? Está acordado - ela perguntou, mas não me deixou responder - Ok, venha para a rodovia principal agora, desculpe por estragar sua folga, mas aconteceu um homicídio.

Peguei todas as minhas coisas, inclusive meu distintivo e saí de casa, com a missão de passar na rodovia e depois seguir para a casa de Anna.

Por onde Lúcia andava? Havia tempos que ela não saía comigo e geralmente eu que ia à sua casa, quando suas crianças não se encontravam. Agora ela estava desaparecida por aí... a segunda mulher já essa semana que some nessa cidade medíocre.

Não havia ninguém nas ruas, pois marcava no relógio do carro cinco da manhã. As pessoas saíam de casa para ir ao trabalho a partir das 6 ou 7 horas. Eu estava saindo bem mais cedo que todo mundo e estava de folga.

Ao chegar na rodovia principal, os primeiros quilômetros estavam em plena escuridão, mas depois luzes vermelhas e azuis passaram a serem vistas. Carros de polícia, ambulância e o carro de Meredith encontravam-se parados em volta de um carro com uma das portas abertas. Era o carro de Lúcia.

Meu coração havia congelado naquele instante. Saí do carro depressa e entrei na trilha, havia vários agentes forenses coletando evidências de um possível crime. Desci mais um pouco o barranco e via margem do rio, na escuridão. O barulho de corrente era evidente.

Meredith jogou o facho de luz na minha cara e disse:

- Aqui, Gabriel!

Desci até ela e vi aos seus pés um cadáver úmido, ainda inteiro.

- É a Lúcia... - disse Meredith, agachando-se. - Não faz muito tempo que o seu corpo foi jogado debaixo d'água. O assassino pode estar próximo - disse ela fitando os policiais próximos e eles correram em direção da floresta escura. Cachorros corriam nas suas dianteiras.

- Anna me ligou agora a pouco me perguntando da mãe... - esperava que Meredith não perguntasse do motivo da garota ligar pra mim.

- Como você vai contar para os filhos dela que a mãe foi brutalmente assassinada? - perguntou Meredith fechando o saco térmico escondendo de mim as lacerações e cortes profundos por todo o corpo. O rosto de Lúcia estava intacto e com um olhar estático de medo.

Passei minhas mãos no rosto e empurrei o pouco de cabelo que restava na minha cabeça para trás. Massageei as têmporas por um instante e disse:

- Não sei, mas terei que contar a eles hoje mesmo, Anna está desesperada. O quanto antes ela souber do destino da mãe, será melhor...

Deixei a cena do crime e segui para meu carro. Mais um corpo encontrado no lago. Até que Lúcia havia sido encontrado rápida, pois o corpo de minha meio-irmã haviam demorado para encontrar. Saí da rodovia, irritado, assustado e ao mesmo tempo com uma dor dentro do peito incomum.

Como eu contaria para os filhos da minha ex-amante que ela havia sido morta e jogada dentro de um rio? Espero que Anna não me odeie ainda mais por ser o cara que contará isso a ela...

Parei em frente à casa e notei que as luzes estavam acesas. Anna ainda estava acordada.

Havia chegado o momento de dizer o que havia acontecido com sua mãe.

Que ela não surte...






Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora