Narrado por Anna
O toque da sua mão era reconfortante, envolvendo a minha com uma sensação calorosa que parecia transcender a realidade.
Minhas unhas estavam descascando, o brilho do esmalte já havia saído há três dias, precisava urgente retocá-las, mas fingia não me importar tanto com aquilo. O que me importava de verdade era estar próxima de Gabriel.
Enquanto nos perdíamos naquele momento íntimo, eu podia sentir a presença intensa do olhar de Meredith pairando sobre nós como uma sombra enigmática.
A curiosidade sobre as intenções por trás daqueles olhares penetrantes apenas aumentava a tensão no ar. Afinal, o que ela queria com ele? Não gostava daquilo.
Não sabia se a invejava ou a admirava, Meredith era uma excelente profissional em sua área de atuação e resolvia os casos mais complexos de crimes de toda a região. Ela era famosa, se tratando de alguém como a mim, anônima.
Meu único fã, talvez fosse Gabriel, mas era difícil identificar seus pensamentos. Ora eu imaginava que ele gostava de mim ora não, ou seria a minha fragilidade diante de mulheres poderosas como Meredith?
Eu era apenas uma adolescente, fiz 18 anos recentemente, terminei o ensino médio sem aprender muita coisa, pra mim nada tinha sido relevante, por mais que meus professores tentassem me ajudar.
E dava para ver, Meredith era estudiosa e esforçada, não era pra menos, era a melhor legista. Já pensei em seguir a mesma carreira que a dela, pois bem, a admirava.
Mesmo ela aproximando-se de Gabriel tendo mais contato com ele ultimamente, não deixava de admirá-la. Não havia em minha família tantas mulheres assim, admiráveis. A maioria havia falhado miseravelmente e se tornaram donas de casa.
Já eu quero ser grande, bonita, estilo modelo, corpo esbelto e um sorriso cativante, se eu conseguir terminar ao menos uma universidade local, já ficaria feliz.
Meus pensamentos voltaram para o momento, fitei ele, seu olhar era um tanto perdido. Ele me queria?
- Vamos nos ver hoje, por favor! - disse olhando nos olhos de Gabriel, Suplicante - não estou me sentindo bem com toda essa situação...
As palavras escaparam dos meus lábios em um sussurro urgente, meu olhar buscando desesperadamente o dele em busca de alguma resposta reconfortante.
A intensidade brilhante em seus olhos revelava um desejo mútuo que faiscava entre nós, criando uma conexão palpável carregada de anseios e dúvida.
Ele me queria? Era uma dúvida constante, que não saía de mim. Um homem mais velho na minha vida, era totalmente diferente do que eu já tinha namorado. Namorei garotos da minha idade e ter ele como um namorado futuramente era totalmente diferente do que eu tinha experimentado.
- Eu já disse, Anna. Eu estou à trabalho e hoje tenho alguns compromissos na agenda. - parecia dizer à contra gosto.
Um sorriso triste se formou em meus lábios, a decepção pesando em meu coração enquanto tentava transmitir a extensão da minha frustração através da expressão facial cuidadosamente elaborada.
O peso das palavras não ditas pairava entre nós, criando uma lacuna dolorosa que só aumentava a complexidade dos nossos sentimentos entrelaçados.
- Não pode mesmo?
Meus olhos imploraram silenciosamente por uma mudança de planos enquanto eu buscava desesperadamente por qualquer sinal de flexibilidade em sua postura determinada.
O gesto negativo da sua cabeça foi como um golpe silencioso, confirmando as barreiras que existiam entre nós naquele momento delicado de indecisão e desejo reprimido.
- Vou em sua casa mais tarde, se quiser, claro... - falei em tom suave e tentando parecer despretensiosa.
Os olhos dele brilharam.
- Hoje não, quem sabe outro dia. Tenho que resolver muita papelada por conta desses assassinatos.
Ele se afastou de mim e antes que fosse de vez, corri até ele, abracei e o beijei na bochecha.
Ele ficou vermelho. Os policiais à volta nos encaravam, alguns com olhares aprovando a cena outros nem tanto.
- Te mando mensagem, se eu terminar cedo, aí você vai em casa, ok? - ele disse em tom calmo e que só eu ouviria.
Sorri, animada com suas palavras.
Ao longe sirenes aumentaram, olhei apreensiva pra ele. Mais carros de polícia e dos bombeiros passaram pela rua em que estávamos.
Um dos carros estacionou, apressado e um do policiais aproximou-se. Informando o tenente Gabriel junto de mim:
- Aconteceu mais uma vez, outra morte.
O olhar de Gabriel parecia perdido naquela situação. Não o veria tão cedo diante àquelas atrocidades.
Ele se foi, junto de Meredith. A morte de mulheres na cidade estava aumentando cada vez mais e aquilo me amedrontava, eu poderia ser a próxima vítima.
Fui até meu irmão, peguei em sua mão, esperamos até os policiais nos levarem até à delegacia para o interrogatório.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desaparecida na penumbra
Misterio / SuspensoEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...