Narrado por Verônica
Quanto mais longe de minha mãe e daqueles vizinhos dela, melhor. Todos eles me estressavam, de suas bocas só saía um único nome... maldito nome!
Mariana parecia mais a filha dela do que a mim, sorte que meus filhos ficaram com o pai, pois não ia trazê-los para morar junto de uma louca.
Mamãe era maluca e repetia as mesmas frases a todo instante e todas relacionadas ao testamento que nem é da nossa família e sobre Mariana ser a única herdeira legítima e que agora não podia mais herdar nada.
Sequer a via sair da casa, Mariana se escondia de todos da cidade e minha mãe ficava falando de uma mulher bêbada e quem sabe também uma drogada sem causa, que já tinha morrido. Já tinha até nome de vadia na cidade...
Caminhar pelo parque me fazia esquecer dos ecos do nome mencionado em casa, por um tempo. Ouvir o som da brisa e dos animais noturnos me deixava de certa forma aliviada.
Queria ter nascido um animal irracional, assim não teria que pensar em amar minha mãe, mesmo ela me enlouquecendo com seus devaneios, sua perversidade e o seu ódio mortal pelos donos da cidade.
Andei até as pistas de Skate, não havia ninguém, nem mesmo o garoto loiro que vive me olhando. Éric o nome dele, filho de Lúcia...
Aiminhanossa!, o que estou fazendo na rua a essas horas?! Uma mulher havia sido morta recentemente por um desconhecido!
Caí em consciência de repente, Mariana também havia morrido não fazia muito tempo e ninguém sabia quem fora o assassino dela.
Mais que depressa saí andando pela calçada de pedras portuguesas do parque. Estava tudo escuro, antes nem ligava que as luzes estavam quebradas, mas agora era diferente.
Era um lugar perfeito para um assassinato. Ouvi um barulho vindo das árvores, um farfalhar medonho. Meu coração começou a pular dentro do peito. Doía.
Tentei não pensar naquilo, passei a caminhar depressa, mas alguém estava andando por detrás das árvores. Um passo pesado, assustador, parecia mastigar a grama do chão com os pés.
Respirei fundo, apertei o passo, mas os pelos da nuca eriçaram, eu estava realmente sendo perseguida e o senso de sobrevivência despertou em mim.
Corri em direção da rua iluminada, mas algo passou a me perseguir, correndo. Quando finalmente cheguei à rua, tropecei em uma raiz, grossa. Caí de quatro ao chão, minhas mãos arderam, rasgaram-se na calçada irregular.
Tateei no escuro em busca de um pedaço de madeira ou uma pedra grande, mas havia pedregulhos, terra e grama úmida. Meu coração batia acelerado, descompassado.
O desespero me consumia, gatinhei no chão, me aproximando do tronco de uma árvore, tentei me esconder ali, na escuridão, mas uma silhueta apareceu à minha frente e puxou-me por uma das pernas.
Finquei minhas mãos na terra molhada e tentei me soltar da sombra, dando chutes e pontapés, mas quem fosse, não me soltava.
Quando finalmente consegui me soltar, saí cambaleando, consegui aproximar-me da rua, um dos postes mal iluminava o trecho onde me encontrava, tremeluzia, como se tivesse com o mesmo medo que a mim.
Caí outra vez e de quatro, com as pernas sem forças, tentei atravessar a rua. Não conseguia gritar, estava sem voz e desesperada.
Ouvi alguém atrás de mim e uma sombra em minha frente alargou-se, era alto e forte, não consegui me virar, senti algo bater em minha nuca com força.
Tentei por a mão para estancar o sangue que escorria, mas meu corpo não reagia mais. Não sentia dor, somente um líquido quente sujando a minha face. Depois de sentir o sangue me encharcando, fiquei entorpecida e em seguida não senti mais nada.
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Desaparecida na penumbra
Misterio / SuspensoEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...