Narrado por Meredith
3 MESES ANTES
Minha rotina matinal não mudou desde muito tempo, acordo, vou para o banho, depilo as pernas com a lâmina de barbear, demoro um longo tempo debaixo do chuveiro quente, depois me enxugo em minha toalha preferida vermelha felpuda, ligo o secador e passo os dedos entre os fios até secar completamente, desligo o secador e passo a escovar os dentes. Me olho no espelho e vejo as marcas das olheiras aumentando conforme o tempo passa, meus quinze anos tinham ido há muito. Agora, meus quarenta e cinco passavam-se rapidamente, beirando, logo aos cinquenta anos.
De frente para o espelho vejo as marcas que o estudo causou ao passar dos anos, das faculdades que cursei, dos cursos, dos amigos que conheci ou deixei para trás, dos professores que me orientaram, e do sofrimento para finalizar meu mestrado e meu doutorado em Ciências Forenses.
Um caminho árduo que trilhei sem meus pais ao lado. Minha mãe me deixou quando eu tinha 8 anos e meu pai faleceu de câncer no dia seguinte de eu completar 20 anos. Foi uma época difícil, lembro muito bem, mas consegui me graduar e seguir com meu sonho de ser o que sempre quis trabalhar em cenas de crime e ser uma excelente Agente forense. Meu trabalho não estende somente à nossa pequena cidade, sou chamada sempre que acontece alguma coisa atípica pela região. Quando isso acontece meu salário triplica; estudei muito e enfim estou sendo recompensada pelo suor de meus estudos.
Depois de me encarar longamente no espelho e pensar na minha carreira, saio do banheiro enrolada na toalha e sigo para o quarto, onde me dispo dela e passo a procurar por uma roupa de caminhada. Depois de colocada a roupa, desço para o andar debaixo, indo para a cozinha.
Preparo minhas frutas com aveia e meu suplemento, terminado, pego a garrafa de água e a levo até a sala, volto ao andar de cima para escovar os dentes, desço as escadas rapidamente pego a garrafa de água e saio de casa.
Minha rotina matinal não mudou tanto ao passar do tempo, o que muda sempre são as rotas de minha caminhada. Lembro-me certo dia de caminhar pelas avenidas da nossa pequena cidade - não era muito comum eu caminhar pelas calçadas, sempre me pegava na rodovia, ia até a cidade vizinha e voltava - e observar um dia ensolarado, com vizinhos felizes em suas varandas conversando com seus filhos ou rindo de algo engraçado que falaram em algum momento, crianças brincando no parquinho improvisado na esquina feito por seus pais, adolescentes andando de patins pelas ruas e rindo animadas. O dia parecia animado, mas as únicas casas que não tinham essa interação matinal eram da Sra. Palmer e de Mariana. Pareciam casas abandonadas por fora.
O jardim de Mariana estava muito mal cuidado, as flores haviam morrido há muito tempo, a tinta desbotada das paredes e do corrimão estavam descascando e esfarelando com o passar do tempo.
A Sra. Palmer não tinha mais idade para arrumar o seu jardim, seus filhos de vez em quando apareciam para dar uma arrumada na bagunça acumulada, mas do lado de fora ninguém mexia. Era um tom azul pálido como a morte. O gramado estava amarelado, alto e sem vida. As vizinhas pareciam ter se estagnado no tempo.
Uma das casas estava no completo silêncio, mas a casa de Mariana não. Havia gritos vindos do lado de dentro, parecia ser uma luta corporal. No alto do telhado uma fumaça negra cobria o céu azul celeste.
Assustada, corri até a casa para saber o que estava acontecendo. O cheiro de peixe queimado passou por minhas narinas e antes que abrisse a porta, ela foi aberta de supetão. Mariana puxava os cabelos da Sra. Palmer com violência, e antes que entendesse a cena, a velha senhora foi jogada escada a baixo.
Mariana fechou a porta com violência atrás de si, não se importando com quem presenciava aquela cena. Eu estava boquiaberta, não acreditava na cena que via. Um momento em que casas vazias, se tornaram imediatamente moradias vivenciando um escândalo.
A Sra. Palmer cambaleou e caiu de bunda sobre a grama morta. Sua face estava marcada em tons de vermelho e lágrimas corriam pelos dois lados da face.
Imediatamente aproximei-me da senhora e peguei em suas mãos, tentando acalmá-la. Quando a Sra. Palmer deixou de chorar e sentindo-se mais calma, perguntei o que estava acontecendo.
Entre lágrimas e soluços a Sra. Palmer me explicou:
- Senti um cheiro estranho no ar. Levantei do meu sofá e fui à janela do banheiro ver se tinha algo de diferente. Pela lateral da casa pude ver a fumaça saindo pela janela da cozinha de Mariana, então assustada saída e vim até aqui. Chamei por Mariana e ela não respondeu, entrei depressa e chamei pelo seu nome. Quando percebi, Mariana já estava agarrada aos meus cabelos, pedi pra ela me soltar, mas não, ela não soltou. Agora estou com medo de ter quebrado a perna outra vez. Maldita mulher, mal agradecida, espero que o pai a tire do testamento, pois não sei se conseguirei olhar para ela outra vez para lhe pagar o aluguel.
A Sra. Palmer levantou-se com dificuldade segurando em minhas mãos e disse com desprezo e tristeza:
- Espero que ela morra, aquela desprezível, sem coração! - e cuspiu nos degraus da escada, parecia que ela não queria fazer aquela cena e modulando a voz para algo mais doce, disse: - Minha filha quer entrar em casa e comer uma fatia de bolo? Ultimamente ando tão sozinha...
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Desaparecida na penumbra
Mistero / ThrillerEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...