Capítulo 35 - A carta

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Narrado por Meredith

Reconhecer um assassinato era extremamente complexo para um Agente Forense, ter que analisar detalhes e como a situação chegou ao clímax e o seu fim. Eu precisava reviver a cena em minha mente, no local da morte, para tentar descobrir como ocorreu a ação. Era uma encenação, contar passos, compreender motivos, loucuras e delírios do assassino e o medo e espanto da vítima. Eram centenas de possibilidades e ser cirúrgico nisso era um talento lapidado.

O caso da Sra. Palmer quando recebemos a ligação de seus netos Anna e Éric, era algo imprevisível. Não estava esperando uma senhora de idade ser morta por um serial killer, a linha de mortes eram jovens mulheres na casa dos 30 anos e a Sra. Palmer tinha uma aparência entre 60 a 65 anos. A depressão com os anos a envelhecera rápido de mais.

Ao chegar em sua casa, estava tudo escuro. Éric estava sentado na varanda, cabisbaixo, segurando seu skate com força e o olhar vazio. Deveria ser muito forte sua dor, perder a mãe, duas irmãs, encontrar um cadáver na pista de skate e agora perder sua avó.

Anna estava chorando alto, nos jardins da casa, nos braços de Gabriel. Ela o abraçava amorosamente e percebi que agora era um pai e uma filha juntos. Ele acariciava os cabelos loiros dela dizendo que tudo ficaria bem.

A família não tinha condições de tratar daquela situação. Os policiais e agentes me ajudaram a isolar a casa. Entrei pela escadaria. Na porta senti um ar pesado. Meus braços arrepiaram-se.

Adentrei o local e vi na sala a Sra. Palmer recostada no sofá, a TV chiando baixo e um copo d'água caído no chão junto de um par de óculos antigo.

Não tinha nada que demonstrasse arrombamento na porta nem uma luta violenta entre duas pessoas. A Sra. Palmer estava intocada.

Aproximei-me da cena e encontrei diversas cartelas de antidepressivos. Havia muitos deles.

A xarada tinha sido desvendada, ela não tinha sido morta por ninguém. Era um suicídio. Anotei em meus papéis a causa e as primeiras evidências.

E quando ergui os olhos em direção da mesa de centro vi algo ali que me chamou a atenção. Era um teste de gravidez. Será que a Sra. Palmer estava grávida? Essa dúvida pairou em minha mente, mas logo descartei.

Ao invés de colher como evidência, guardei o teste de gravidez no bolso. Algo me dizia que aquilo não fazia parte daquela cena.

Na mesma mesa de centro encontrei uma papel amassado, com a letra da Sra. Palmer. Recolhi o papel e passei a ler:

"Fui sentenciada a viver assim, sem elas, no começo eram 4 meninas que dançavam na luz do amanhecer, o destino me levou uma para bem longe e outras três para os braços da morte.
Como viver sabendo que não fui uma boa mãe e sim uma expectadora triste? Que tive nos braços de alguns relacionamentos indesejados, que dei embora alguns filhos por causa de moedas frias e sem valor estimável?
Viver com esse peso é uma âncora na consciência e está me destruindo e me deixando cada vez mais angustiada.
Não tenho mais motivos pra ouvir os pássaros cantando, ler enquanto o sol se põe ou ouvir o som da chuva no telhado. Não podia ser perdoada ou amada. Eu fracassei miseravelmente nessa vida..."

A carta era uma evidência clara de suicídio, porém havia algo ali mencionado que me intrigou bastante. A Sra. Palmer tinha mais duas filhas? Uma morta e a outra ainda viva?

Não havia mais nada. Somente aquelas palavras pairando no ar. A mulher havia morrido e deixado pra trás uma filha e dois netos.

Sobre as filhas que ela mencionara nunca havia sido comentado nos jantares, nas festas de vizinhança ou muito menos segredado com alguma fofoqueira da vizinhança. Era um segredo íntimo dela.

Coloquei a carta dentro de um saco de evidências. Aquelas palavras não fariam muito sentido para ninguém até o momento, somente que ela relatara a própria morte.

Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora