Narrado por Gabriel
Ir embora dormir não era uma opção, pois precisa entrar na casa de Anna e contar a ela que sua mãe havia sido assassinada.Não podia entrar e contar como se fosse normal e rotineiro que Lúcia havia sido encontrada sem vida dentro de um rio. Precisa ser o mais informal possível e tentar dizer da maneira mais simples, pois se falasse como policial, talvez a machucasse ainda mais. Ela sabia que eu tive um caso com sua mãe, por isso, deveria ser informal e não profissional, não naquele momento.
Tirei a jaqueta da polícia, desajeitei a camisa branca, tirei a barra de dentro da calça e desfiz o penteado. Parecia menos policial agora, observei meu rosto no retrovisor para ter certeza.
Desci do carro e atravessei a rua. Andei pelo gramado bem-cuidado e segui em direção da varanda. Meu coração parecia que ia explodir de ansiedade e desespero. Na verdade ir como policial e contar aquelas coisas como uma pessoa comum, me deixava nervoso e com vontade de voltar para o carro e partir para longe.
Apertei a campainha e logo Anna atendeu. Havia chegado o momento de contar a ela.
Fiquei estático de frente a ela.
- Gabriel, encontrou a minha mãe? - ela perguntou olhando por trás de meus ombros à procura da mãe.
- Encontrei sim - deixei escapar, com o máximo de esforço. - Anna, precisamos conversar, posso entrar?
Ela deu espaço, ansiosa e com a testa franzida em desespero.
- Aconteceu alguma coisa?! - perguntou atônita.
Assenti, meneando a cabeça.
Anna engoliu em seco e gritou histérica:
- E vai ficar aí quieto, em silêncio, me olhando com essa cara?! Eu preciso saber onde minha mãe está e você só está me assustando.
O espírito rebelde e adolescente dela aflorou. Os olhos dela voltaram a revelar a raiva que sentia por mim.
Engoli em seco dessa vez e disse:
- Ela foi encontrada próxima à rodovia principal...
Abaixei a cabeça e continuei, firme:
- Sem vida.
Após minha enunciação, tudo se silenciou, até mesmo o som da tv no andar de cima.
Depressa olhei para a escada e alguém a descia, voltando o som de vida na casa.
- O que você disse?! - uma voz saiu da escada, era Eric.
O jovem estava de pijama e descia rápido, junto do controle da tv em uma das mãos.
- A mãe de vocês foi encontrada morta dentro de um rio... - repeti o mais rápido possível, tentando mensurar minhas palavras.
As lágrimas de Anna caíram antes mesmo de Eric se aproximar de nós. Ele sentou do lado da irmã e a abraçou. Ele não chorou, apenas passou a mão nos cabelos da irmã, tentando acalmá-la.
- Como você sabe que é ela? - perguntou o adolescente, incisivo.
- O carro estava com as portas abertas e o corpo dela foi encontrado alguns metros dele. Eu vi sua mãe, aliás o corpo dela, e Meredith, a Agente Forense pode confirmar isso a vocês. - disse, deixando de lado o meu lado informal ineficiente e começando a agir como policial. Teria que deixar minhas emoções guardadas por um para lá.
- A partir de agora vocês ficarão protegidos pela polícia da cidade e nós faremos rodízio para que vocês fiquem seguros até descobrirmos o que aconteceu com a mãe de vocês. Não deixarei que nada aconteça com vocês dois.
- Você deveria ter cuidado de minha mãe, assim que a conheceu, ao invés de aparecer agora e dizer isso para nós. Se você a tivesse protegido, talvez ela estivesse aqui e não morta! - gritou Anna afastando-se do irmão e correndo em direção das escadas para o andar de cima.
Eric fitou a cena e depois fitou em minha direção.
- O que ela quis dizer com isso? - perguntou ele, com o cenho franzido.
Pigarreei e disse:
- Tivemos um caso há um tempo, sua mãe e a mim...
Eric arqueou uma das sobrancelhas e deu de ombros.
- Que se dane, ela está morta agora... - disse ele e se levantou do sofá, saindo da sala e me deixando sozinho.
Fiquei ali cabisbaixo e não o vi voltar.
- Quero você fora daqui agora mesmo!
Saí da casa, em silêncio, seguindo para a viatura com os olhos salpicados de lágrimas.
Mesmo não amando Lúcia, eu gostava dela. E agora os filhos dela estavam sozinhos, sem ninguém para protegê-los.
Antes de ir para casa, esperei a viatura prometida chegar. Assim que ela estacionou segui em direção de casa, arrasado.
Seria um dia longo.
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Desaparecida na penumbra
Misterio / SuspensoEla saiu de casa, sem dizer para onde ia, três meses depois foi encontrada morta. Ao descobrirem que o corpo de Mariana foi identificado próximo às margens de um rio, boiando, todos da vizinhança emudeceram. Mariana era alcoólatra, antissocial, não...