Capítulo 27 - Medo dele

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Diário perdido de Mariana

As coisas dele foram deixadas na porta de casa e ele saiu sem olhar pra trás.
Tudo havia se tornado um pesadelo naquele dia, sangue, estupro, meu pai bêbado socando meu meio-irmão. Um horror.

Sentei nas escadas enquanto chorava e fitava meus pés. Viver aquilo tinha sido de mais pra mim, era como se meu coração tivesse se tornado uma pedra de gelo maciça.

Um aperto no peito me consumia, segurei a minha camiseta encharcada, com força, o pano parecia que ia se rasgar a qualquer momento. Eu queria gritar, de dor, de desespero.

Por mais que eu gostasse da companhia de Gabriel, sua atitude destruiu toda a nossa conexão, ele havia me machucado física e psicologicamente.

Não estava esperando que fosse me abusar, que tentaria tirar minha virgindade à força. Aquilo foi de repente, se ele tivesse vindo conversar comigo, com calma, eu cederia, mas agir daquela forma, só me deixou apavorada.

Que diabos ele tinha na cabeça para fazer aquilo comigo?!

Ele não deveria nem atrevido a cogitar uma situação dessas.

Lágrimas desciam de meus olhos, sem cessar. Minha raiva era intensa e emanava do corpo. Eu era uma idiota, fantasiei um romance proibido e no fim das contas senti somente sangue descendo pelas minhas pernas e uma dor lancinante pulsando.

Dor, raiva e frustração. Uma profusão de sentimentos e emoções que se chocavam dentro de mim.

Puxei uma das mochilas dele que estavam nas escadas e abri, retirando de lá uma camisa. Apertei-a no rosto, o cheiro dele estava impregnando, aquela vontade de tê-lo junto de mim era assustadora.

Como gostar de alguém que ao invés de fazer o bem, só pensou em me machucar?

Vasculhei sua mochila por mais coisas, meias, fone de ouvido, carregador de celular, pendrive e um mp3 antigo.

Lembrei de compartilhar os fones de ouvido enquanto tocava First Kiss de Lady Antebellum. Uma clara declaração de desejo. Éramos felizes quando crianças, nossa inocência havia se perdido há muito.

Neste dia estávamos debaixo de uma árvore do quintal, a brisa calma, o cheiro de natureza e pássaros cantarolando calmamente. Uma linda cena.

Avistei aquela árvore enquanto recobrava ao presente, estava na escuridão, seus galhos retorcidos e velhos não pareciam mais românticos como antes.

Fitei o calçamento à minha frente, em direção à rua e pensei:

Para onde ele tinha ido?

Peguei o celular, fiquei encarando a tela e alguns minutos depois tentei ligar em no celular de Gabriel celular, mas caía direto na caixa postal.

Tentei diversas vezes, mas nada, aquela hora seria difícil falar com ele. Talvez estivesse em algum ponto de ônibus ou já se instalado em algum hotel barato.

Ele havia levado consigo alguns trocados e um pacote de biscoitos, passou por mim cabisbaixo e ignorou minha mãe gritando pelo seu nome.

Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora