Capítulo 16 - Descontrolado

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Narrado por Gabriel

Encontrei Éric na garagem de sua residência, ele segurava uma chave de roda e vi ao chão, dezenas de outras ferramentas e peças de carro. Ele estava mexendo no carro da mãe. Um Chevrolet antigo.

Ele fitou-me enojado e disse:

- Ah, é você... - e seguiu em direção de uma toalha branca, sujando-a em seguida de graxa.

Se a mãe dele estivesse aqui desaprovaria aquilo tudo...

- Sim, bom dia pra você também. Vim avisar que vou começar as investigações do caso de sua mãe. Vou verificar se o caso dela tem alguma relação com o assassinato de minha irmã.

- Unhmm.... legal, mas se me der licença preciso terminar a bagunça que fiz - disse Éric demonstrando indiferença. - agora que o carro não é mais dela, posso fazer as modificações que sempre quis fazer.

Pigarreei e disse:

- Precisa de ajuda para tunar o seu novo carro? Confesso que manjo de funilaria e pintura - esperava que ele animasse com alguma coisa. Apesar dele não gostar muito de mim, vê-lo daquela maneira de certa forma me deixava incomodado. Anna e ele eram boas pessoas e não mereciam o desprezo de ninguém.

- Você tem que ir atrás do assassino de minha mãe e quando eu precisar de alguma ajuda, peço a você - disse erguendo a voz e me olhando fundo nos meus olhos.

Arqueei a sobrancelha e disse com a minha melhor voz de policial autoritário:

- Sua mãe não ia gostar de você erguendo a voz para uma autoridade rapaz. Eu tiro você praticamente todo dia de enrascadas. Você quebra janelas e lâmpadas de patrimônios públicos, pixa as paredes da prefeitura com palavrões, emporcalha o parque com lixo da vizinhança e garrafas de vidro quebradas. O prefeito já chamou minha atenção para resolver isso, estou sendo muito paciente com você, mocinho. Você cresceu sem um pai e recentemente perdeu a mãe. Eu respeito seu luto, mas não tenho culpa, entendido? Tento todos os dias ajudá-lo, mas você não me ajuda... passei a mão em sua cabeça por tempo de mais e criei um monstro.

- Você só não me prendeu ainda, não por que tinha dó de mim, mas sim por que você comia a minha mãe e agora que ela está morta não tem mais desculpa para me deixar fora da prisão, mas que tal depois do enterro você ir lá e violar o túmulo dela? Talvez a estuprando, você me deixa em paz!

Ele veio em minha direção com a chave de roda erguida no ar. Ele queria me atacar com aquele objeto. Me afastei.

- O que você está tentando fazer Éric? - perguntei com as mãos erguidas tentando me defender de um ataque. Não iria sacar a arma para atirar nele. Éric estava passando por momentos difíceis e não queria fazer com que Anna perdesse outro membro da família.

Ao perceber, ele abaixou a ferramenta e me fitou assustado. Derrubou a ferramenta no chão e fitou os próprios pés descalços. Ele e a irmã faziam a mesma coisa, olhavam para os pés quando se sentiam envergonhados com alguma coisa.

- Desculpe - disse ele e vi lágrimas escorrerem de seus olhos. - ela se foi e quero dar um foda-se pra tudo, mas não consigo. Ela cuidou de mim e de Anna sozinha e agora está morta. Por que não me mataram? Sou um merda nessa cidade e ninguém iria sentir a minha falta...

- Lúcia sentiria -falei e ele instintivamente me abraçou. Ele chorou em meu peito de soluçar. Éric poderia ser o garoto problemático ebaderneiro da cidade, mas tinha coração. Deixei que chorasse e molhasse meuuniforme, não tinha problema. Queria sentir a dor que ele sentia pela perda damãe.

Desaparecida na penumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora