11.

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DAY

Desde que beijei Carol tudo dentro de mim ficou ainda mais confuso.
Ela nunca mais respondeu minhas mensagens que não sejam sobre trabalho. Eu já não sei mais o que fazer com tudo isso dentro de mim... A minha vontade é de ir até a casa dela, pegá-la no colo e levá-la comigo pra algum lugar onde não exista ninguém no nosso caminho impedindo a gente de viver essa paixão.
Ontem eu soube que esse final de semana ela vai gravar mais um videoclipe. Ela havia dito pra mim que eu iria onde ela fosse, que ela não teria mais outro fotógrafo com ela, mas meu celular ainda não tocou... Falta tão pouco pras gravações, obviamente ela contratou outra pessoa... Eu estou cagando pra grana! O que me mata é saber que ela não me quer por perto, mesmo gostando do meu trabalho, mesmo sentindo isso aqui que eu sinto também...
Argh!
Eu não sei mais esconder a minha frustração... Várias vezes me pego escrevendo uma mensagem pra ela, dizendo que eu a quero, que ela não sai da minha cabeça, que ela vai me deixar louca! Mas eu sempre apago.

- Bê?
Isadora me arranca de meus devaneios. - Você ainda não tá pronta?
- Me dá dois minutos.
Me levanto e vou até meu guarda roupas procurar algo pra vestir essa noite. Há tempos estou prometendo levar Isadora pra dançar. Aqui em São Paulo tem uma casa noturna que toca de tudo ao decorrer da noite, e Isa já está falando disso na minha orelha há mais de meses.
Visto uma calça preta justa e uma camisa jeans que dobro as mangas até os cotovelos.
Isadora está linda em seu vestido vermelho. De repente eu lembro que faz muito tempo que eu não olho direito pra ela.
Ela vem por trás de mim em frente ao espelho, repousa seus braços ao redor do meu pescoço e beija minha bochecha.
- Que casalzão da porra, hein?!
Meu sorriso sai de qualquer jeito como se Carol tivesse mexido em alguma parte do meu cérebro que não pode mais enviar o comando do sorriso à minha boca quando o assunto não é ela.

Na festa eu me sinto mais animada, muitas mulheres bonitas passam por mim e me jogam charme, meu ego não sabe lidar com isso. Eu adoro!
Isa está tão acostumada com isso que nem liga mais. Ela apenas segura na minha mão como uma leoa exibindo sua presa ao seu bando. Eu adoro esse jeito dela de mostrar que ela está no controle.

Decido ir buscar uma cerveja no bar que fica ao lado da entrada da casa noturna, quando meus olhos grudam numa mulher de costas, vestindo um vestido preto num salto agulha da mesma cor, o corpo dela se ajustava nas curvas do tecido enquanto meu olhar ia subindo até parar em cachos ruivos que balançavam lentamente por cima de seus ombros completamente nus.
Meu Deus...
Sei que Ele não vai me ouvir, sei que na verdade Ele está de sacanagem!
Sei que Ele não tem culpa, mas porra... Parece que não quer me ajudar.
Carol.

Depois de conseguir conter a tremedeira que me invade noto que ela está com uma mulher que, pela mão grudada em sua cintura, só pode ser Fernanda. Um ciúme violento me pega de jeito. Meu coração acelera enquanto sinto o fluxo sanguíneo fervendo passear por todas as veias do meu corpo.
Eu não faço nada. Apenas pego minha cerveja, encosto meu corpo completamente alterado na parede e a olho. Meço Fernanda da cabeça aos pés, me comparo com ela.
Uma mulher de cabelos castanhos na altura do queixo usando um vestido azul marinho com um salto enorme.
Porra, nada, absolutamente nada a ver comigo... O que será que ela viu em mim então? Eu, meu jeans rasgado, meu tênis básico, minhas camisas desbotadas, meu cabelo irritantemente bagunçado...
Que merda!
Carol permanece de costas pra mim, ela nem tem ideia de que estou aqui bem atrás dela...
Fernanda agora está puxando Carol pra beijá-la.
Argh!
Que sensação horrível na minha barriga. Não estou acostumada com isso, minha barriga sempre reage bem a tudo que vem dessa mulher. Mas isso aqui tá ruim demais...

De repente Fernanda a puxa pela mão e a leva dali. Fico olhando as duas irem até o meio do salão principal.
Ouço alguém anunciar que a rodada de dança vai começar. Lembro de Isadora. Ela já deve estar desesperada que ainda não voltei.

Isadora gruda no meu pescoço e faz meu corpo se mover lentamente ao ritmo de uma música que eu nunca ouvi mas soava tão triste... Ou será que sou eu que estou triste apenas?
De onde estou consigo ver Carol com Fernanda. Ela igualmente pendurada no pescoço de sua namorada. Ainda de costas pra mim.
Lentamente sem que Isa perceba eu chego mais perto do casal. Perto o suficiente pra ela poder me ver assim que se virar. Uma hora ela vai ter que se virar.
Não demora muito pra isso acontecer. Meu olhos estão fixos nela quando ela vira e seus olhos se arregalam como se tivesse faltando o ar.
Agora sim.
É muito bom ver que ela agora pode sentir o que eu estou sentindo.
Ela olha de mim pra Isa aparentando estar fazendo exatamente o que fiz com Fernanda agora há pouco.
Com a música nós vamos sendo embaladas pela tristeza que é muito nítida em nossas expressões. O ciúme é como um cão selvagem velho cujos os dentes perderam a afiação mas ainda assim insiste em me mastigar.
Fernanda puxa seu rosto e cola suas testas, meu coração bate fraco como se ele pudesse desistir de bater a qualquer momento. Ela então beija Carol na boca e meus joelhos recebe esse beijo como um chute fazendo meu corpo, por um instante dobrar.
- Bê?! Tá tudo bem? - Isadora me segura.
- Si-sim. O joelho falhou...
Isa volta a encostar a cabeça em meu ombro e eu volto a olhar pra Carol que parece evitar me olhar de volta. Sua cabeça está apoiada no ombro de Fernanda como se ela pudesse se esconder de mim como num pedido de desculpas. Não sinto raiva. O que posso cobrar? Que ela recuse um beijo pra sua mulher porque está diante de mim?
Ainda sem concluir meus pensamentos Isadora puxa minha nuca pra um beijo. Eu também não posso recusar e a beijo.
Quando abro meus olhos novamente Carol está chorando.
Meu peito se parte ao meio com essa cena. Como eu odeio vê-la chorar!
Mantemos nossos olhares marejados ate que ela se solta de Fernanda e sai do salão.
Eu continuo tentando balançar o meu corpo junto ao de Isadora mas é mais forte do que eu, quando dou por mim já estou no final do salão indo atrás dessa mulher.

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