30.

3K 251 385
                                    

DAY

- Prima, a Alê chegou. Disse que te espera lá fora.
- Ei, tem certeza que não quer ir com a gente?
- Não nasci pra ser vela de romance não.
- Que romance? Não temos um romance.
- Ah é verdade! Sempre esqueço que do mesmo jeito que você tá aberta pro amor você tem medo dele.
- Eu não tenho medo!
- Whatever. Eu não vou de vela no seu quase romance. Não tenho paciência pra isso não.
- Chata.
- Lerda.
Rimos uma pra outra e nos despedimos com um abraço.
Desço as escadas e vejo Alessandra encostada no carro, de óculos de sol olhando pro céu.
Já faz mais de um mês que nos vemos todos os dias e eu não me canso de me assustar com a beleza dela toda vez.
Ela tira o óculos e me olha sorrindo.
Não sei lidar com essa mulher.
- Você tá atrasada, Dayane.
- Não enche, vai!

Passamos o dia passeando no Ibirapuera, o dia estava lindo de morrer, a primavera, embora ainda gelada, trazia um tom de esperança com seu céu totalmente azul e uma infinidade de flores. Só de não ser mais inverno meu coração agradece.
- Que sábado lindo, não?
- Muito. Tava aqui penando nisso agora. Esse por do sol tá demais. Gosto como as nuvens parecem laranjas, depois mesclam entre lilás e rosa nesse fundo azul, cada vez mais escuro.
- Ai, ai... Você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos, Day.
Alessandra pega na minha mão e corta nossa caminhada.
Ela me olha nos olhos como nunca se permitiu me olhar por tanto tempo antes e eu sei o que ela quer fazer.
Sua outra mão afasta os cabelos do meu rosto e vai avançando até a minha nuca.
- Você também foi.
Ela me puxa pra um beijo. Delicado, quente e delicioso.
Nos beijamos por um longo tempo, qualquer contato com ela era delicioso, a energia dela, a companhia dela era maravilhosa. Depois que ela entrou na minha vida tudo melhorou, quando ela está por perto não tem espaço pra dor, ela mantém a Caroline longe da minha cabeça e eu consigo enganar o meu coração. E é exatamente por isso que eu não posso me dar ao luxo de deixar isso aqui virar amor. Eu amo outra, querendo amar ou não, eu amo. Não ter dado certo, nós duas termos decidido desistir não interfere no fato de que Caroline está dentro de mim. E Alessandra é a única companhia que me faz feliz, eu não posso correr o risco de estragar essa relação de cumplicidade, de duas pessoas que podem ficar à vontade de falar sobre qualquer assunto uma com a outra. Eu não posso arriscar tudo sabendo que isso pode não ser amor pra destruir tudo caso depois a certeza me alcance as pernas.
Eu não posso perder a única pessoa que me faz bem. Eu já perdi Caroline que era meu chão, se eu perder Alessandra eu morro.

Eu me afasto.
Nossas testas se colam.
Permaneço de olhos fechados controlando minha respiração ofegante pelo beijo e pelos pensamentos.
- Eu não posso, Alessandra...
- Não pode o que?
- Não posso me dar ao luxo de perder você.
- Me perder? Você nao vai me perder.
- Fica na minha vida...
- Ei...
Ela se afasta um pouco e levanta minha cabeça segurando meu queixo.
- Que papo é esse? Eu já tô nela. Não vou a lugar algum!
- O amor não é seguro. Eu não sou segura. Não nesse momento. Quero me jogar de cabeça em ti, mas eu tenho outra aqui dentro, é arriscado demais diante de tudo que tenho a perder caso eu venha a te magoar. Você entende?
Ela continua me fitando atentamente. Pela primeira vez não consigo lê-la.
Ela passa suas mãos ao redor da minha cintura e me puxa pra um abraço.
- O que a gente tem é mesmo especial demais pra gente arriscar.
Um peso de uma tonelada sai das minhas costas e eu suspiro aliviada.
- Eu carrego tantos fracassos dentro de mim, tantas dúvidas sobre a vida, sobre mim mesma, são tantas cicatrizes pelos desencontros do caminho, eu não suportaria carregar esse fardo de magoar você. Preciso ser justa contigo e honesta comigo: eu não tô pronta. Eu só jogaria tudo que eu quis viver ao lado dela em cima de ti, num ato desesperado de realizar meus anseios.
Ela sobe uma mão pra minha nuca e me prende ainda mais nela.
- Eu sei. Você tá certa. Tá tudo bem.
A gente volta a se olhar.
- É a atitude mais madura que alguém pode tomar. Acima das nossas idades. Eu fico orgulhosa de ti e isso só comprova que você merece todo o meu amor. Amigas?
- Amo você, Alê!
- Vish! Me chamou de Alê, acho que estamos mesmo no caminho certo hahaha!
Eu sorrio sem jeito, a tristeza dá palmadas nas minhas costas. É claro que eu queria viver um novo amor capaz de me fazer esquecer Caroline de vez. Mas sei que fiz a coisa certa.
- Vamos voltar a caminhar, vem.

Alessandra era a minha pessoa favorita no mundo e nada e nem ninguém, nem eu mesma, seria capaz de fazer ela se afastar de mim.

Sedução. Onde histórias criam vida. Descubra agora