23.

3K 292 49
                                    

CAROL

Acordo nos braços dela, seu corpo completamente nu embaixo do meu é a sensação que eu vou me lembrar pro resto da minha vida. Sei que tenho que ir embora mas permaneço imóvel apenas prestando atenção no calor do seu corpo que invade o meu. Olho pra minha mão em seu peito que se move lentamente pra cima e pra baixo, se eu olhar com mais cuidado vejo a tremilique que as batidas do coração dela provocam na minha mão. Essa mulher acaba comigo. Mexe comigo de um jeito que não sei explicar e mal consigo admitir pra mim mesma.
É surreal estar em seus braços, passei os últimos meses tão longe dela que cheguei a me questionar se ela era mesmo real ou se eu a tinha inventado. A única prova que eu tinha de que ela não era um sonho era esse estúdio, por isso que eu vinha tanto aqui. Mas no fundo eu acreditava que ela nunca mais abriria essa porta, pensei que a tinha perdido, não esperava pela noite que tivemos...
Que noite!
Essa mulher me leva à loucura, ela me faz sentir vontades que nem eu mesma sabia que eu tinha, ela me faz ser alguém que eu nunca fui e que, ao mesmo tempo, parece que eu nunca havia sido tão eu em toda a minha vida.
Ela virou meu mundo de pernas pro ar e eu não consigo mais lutar contra esse amor que insiste em me invadir e me tomar inteira, como se ela tapasse todos os buracos que a vida cavou em mim.
Eu a quero pra mim, mas é tão difícil!

Meu relógio me avisa que Fernanda está me ligando.
Merda!
Já é mais de meio dia e eu ainda estou fora de casa sem dar muitas explicações pra Fernanda. Isso precisa acabar, preciso dar um jeito nessa situação.
Devagar me solto dela e me levanto, Dayane tem um sono pesado e eu me aproveito disso, ponho minha roupa, pego minha bolsa e olho mais um pouco pra ela. A boca levemente aberta, a expressão serena como se estivesse no melhor sono do mundo, os seios, os cabelos esparramados no travesseiro e o edredon encobrindo todo o resto do corpo me deixando descontente.
Outra vez meu relógio avisa uma ligação de Fernanda, então eu vou embora na ponta do pé.
No carro penso no que dizer pra Fernanda, no que dizer pra Day. Eu sou rainha de fazer tudo errado. Quero fazer as coisas certas dessa vez, eu e Fernanda está acabado. Não posso mais levar adiante essa relação de desrespeito, eu não posso estar com uma mulher enquanto amo outra. Fim.

Em casa Fernanda está sentada no sofá com uma caneca enorme de café nas mãos e uma cara de quem não dorme faz dias.
- O que você tava fazendo até agora na casa do teu irmão?
Sim, eu menti pra ela ontem.
- Pensando. Espairecendo.
Ela encara o tapete ainda. Eu me sento na poltrona ao lado da TV.
- Desembucha, Caroline.
Respiro fundo, meu coração está na boca.
- Fê...
Um silêncio aparece sem eu prever. É mais difícil do que eu pensava, vivi muitos anos ao lado dela, pensar em deixá-la, em mágoa-la, me quebra ao meio.
- Fala, Caroline.
Estou segurabdo um choro que entalou na minha garganta, eu tento respirar devagar e me concentrar, não posso deixar isso passar de hoje.
- Não podemos mais continuar assim, você sabe.
Meu coração bate com força e tão apertado ao mesmo tempo...
- Eu sei. Eu sei.
Pro meu espanto ela concorda comigo.
Outro silêncio.
- Eu não queria que a gente se separasse se dando mal, eu amo tanto você, Fê.
- Eu também, Carol. Não quero brigar e nem nada.
- Como fazemos com a nossa casa e todo o resto? Caramba, nossas vidas estão tão atreladas que eu nem sei por onde começar... Eu só... Eu só sei que não dá mais...
- Se você não se importar de ficar na casa do Renan por mais um tempo e me deixar ficar aqui enquanto a gente tenta vender a casa e separar o restante das coisas seria bacana.
- Claro. Óbvio que você pode ficar, eu vou falar com ele e vou pra lá sim.
Ela finalmente olha pra mim e vejo que ela chora silenciosamente.
- Você tá triste, Carol?
- Muito... Acredita em mim, eu não queria que fosse assim, eu tentei de tudo aqui dentro...
- Posso te fazer uma pergunta?
Meu corpo inteiro para de funcionar por um instante.
Eu só espero ela continuar.
- Você e a Dayane...
Uma pausa.
A pausa mais assustadora da minha vida.
A última coisa que eu queria era ter que mágoa-la com a verdade, demonstrando minha total fraqueza de caráter.
- Você sabe. Vocês... Se gostam, não?
Eu não consigo reunir forças pra responder essa pergunta, o silêncio é tão latente que parece que eu engoli minhas cordas vocais.
Fernanda apenas se levanta do sofá entendendo o meu silêncio como uma afirmativa.
- Eu não vou ficar no caminho de vocês mais. Eu lutei tudo que eu ti há pra lutar, mas era ela o tempo todo. Você merece viver isso.
Um soco na cara doeria menos.
Eu fui uma traidora egoísta e ela ainda me diz que eu mereço ser feliz?!
Ela sai da sala e eu espero que mãos apareçam empurrando terra preta em cima de mim.

Meu celular apita.
É a Day pedindo pra eu ligar pra ela assim que eu puder.
Vou até o quarto pegar minhas coisas, Fernanda está deitada na cama com o braço direito em cima dos olhos.
Assim que eu fecho a mochila e me viro de frente pra cama novamente eu tomo um susto com Fernanda de pé na minha frente.
Ela apenas me puxa pra um abraço.
Choramos.
Toda despedida dói. Mesmo as que a gente escolhe.
Nós olhamos nos olhos por um longo tempo, gratidão e perdão resumem esse diálogo entre eles. Cinco anos passando como um filme em nossas cabeças fazendo as lágrimas saltarem.
- Eu amo você, obrigada por tudo, me perdoa por tudo.
- Eu também amo você, Carol. Vou levar um bom tempo carregando você no meu coração. Se você mudar de ideia estarei aqui.
Nós nos abraçamos.
Que sensação horrível dizer adeus pra ela, senhor!
Limpo meus olhos e vou embora.
Está feito.



Sedução. Onde histórias criam vida. Descubra agora