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CAROL

Dois anos se passaram desde que eu fui embora daquele hotel apenas com a metade de mim. A outra ficou com ela e eu me pergunto se um dia vou me sentir inteira de novo.
Fiz o que ela me pediu, levei quase um ano mas fui atrás de Bárbara. Eu a amo, eu a adoro, estar com ela me faz sentir viva, mas eu me pego sempre tentando viver com ela o que não vivi com Dayane. Na maior parte do tempo o fato dela ser tão incrível e engraçada faz eu me enganar achando que eu vivo realmente, mas existem momentos em que eu me pego esperando algo dela que ela não pode me dar, porque ela não é a Dayane...
É um tapa bem dado na minha cara.
Estou com Bárbara, escolhi isso pra mim. Quão errado é eu amar tanto Dayane em silêncio? Quão errado é esperar que Bárbara seja como ela? Quão fodidamente errado é eu sonhar com ela? Dormindo, acordada, até nas horas mais impróprias...
Deus!
Vivo um dia de cada vez com a esperança de que um dia ela suma da minha cabeça, tenho vontade de mudar de cidade, andar pelas ruas da minha tão amada São Paulo que me acolheu tão bem esses anos todos, hoje é desconfortável. Ando sempre em alerta, morta de medo de encontrar com ela. Meu coração quer isso, desesperadamente, meus olhos sentem falta de encontrar os dela tão ferozmente que chega a doer, como se eu não desse uma só piscada tentando achá-la. Mas meu medo me come viva... Por mais que eu não saiba ficar ao lado dela, eu também nunca aprendi a dizer não ao meu corpo que insiste em querer o dela.
Porra, por que é tão difícil?! Aaahhh!

Nesses anos todos Dayane permanece intacta dentro de mim, toda a intensidade de sentidos ainda se mantém a mesma, o que me obrigou a criar uma espécie de contenção, como se eu tivesse construído um quarto de concreto ao redor de todo o espaço que ela ocupa em mim. Me restou muito pouco pra dar... Permaneço com Bárbara porque sei que ao lado dela eu tenho a melhor chance de preencher o que me resta, as outras mulheres não chegariam nem perto disso...
Mas o fato é que esse quarto que construí foi uma sabotagem, um golpe do meu coração teimoso que insiste em acreditar que um dia eu e Dayane vamos nos encontrar novamente.
Fiz uma porta.
Fiz uma porta que eu abro vez ou outra pra olhar, pra me lembrar quem foi Dayane, pra me lembrar como é se sentir inteira, como é amar com todas as forças... Abro aquela maldita porta pra me sentir mais perto dela de novo, como se eu voltasse no tempo onde ela era minha.
De todas as coisas que guardo naquele lugar o mais precioso é o som da sua voz. Lembro nitidamente do tom rouco dizendo que me queria, que queria fazer tudo dar certo, que não me deixaria escapar... Seu sorriso cretino e seu olhar sacana como se ela pudesse me devorar só de manter contato visual.
Meu Deus!

Até hoje a menor lembrança dela me causa as mesmas sensações. Todas as minhas células sentem.
É delicioso, mesmo que dolorido como um coice, mas a culpa...
Caralho!
Fico sentindo tudo aquilo por Dayane e depois volto pra Bárbara que tá aqui só pra mim, inteira... Não é justo com ela, mas eu simplesmente não consigo arrancar aquela mulher de dentro de mim. É mais forte que eu, que a culpa, que o medo, que a moralidade, que tudo.
Dayane me tem. Ponto.
E quanto mais eu lutava contra mais eu sentia, mais meu peito latejava de vontade de tê-la novamente. Então eu simplesmente parei de lutar e apenas arrumei um jeito de conviver com ela.

Dois anos sem vê-la pessoamente, o pouco que sei dela são de manchetes nas redes sociais sobre sua carreira que voa cada vez mais, eu fico feliz por ela, torço demais pelo seu sucesso e sua felicidade. É tão mesquinho que a gente hoje nem se fale mais... Escrevi uma música sobre isso um tempo atrás, canto nos shows ainda esperando que ela apareça, eu ainda quero tanto vê-la no meio da multidão e sentir meu corpo entrando em colapso.
Porra!

Isn't it strange
That you used to know me?
All the highs and lows and in-betweens
And now you see me and just say hey

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