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CAROL

Há duas semanas que Dayane não fala comigo. Não a vejo em lugar nenhum, o estúdio está fechado, ela não me atende e nem sequer visualiza minhas mensagens. Eu não faço ideia de onde ela esteja e o que esteja acontecendo. Eu estou realmente pirando com essa situação. Não consigo dormir direito, o apetite me fugiu, até meu violão eu não tenho vontade de pegar...
Ai, Dayane, o que você tá fazendo comigo? Onde você se meteu?! Afff

Fernanda já desistiu de me perguntar o que eu tenho ultimamente depois da última briga que tivemos onde eu praticamente a mandei calar a boca dizendo que eu não tinha mais saco pra ouvir a voz dela me questionando o tempo inteiro. Depois disso parecemos duas estranhas que dividem a mesma casa, até comecei a usar o outro banheiro, mas estou infeliz com esse distanciamento... Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, eu não queria ter fodido a minha relação com Fernanda, ela é a minha parceira há tantos anos! Desde que cheguei em São Paulo ela foi o meu guia, a pessoa que mais me incentivou a seguir com meu sonho, me acolheu em seus braços e me colocou em todos os lugares que eu precisava ir pra chegar onde estou hoje, paralelamente a isso ela era a pessoa que me dava amor, carinho, e que me ensinou tudo que eu sei sobre o amor, sobre a cumplicidade. Ela é a namorada que toda mulher procura, compreensiva, atenciosa, corajosa, sempre pronta pra brigar por mim... E eu fiz o que? Me deixei levar por um sentimento que eu mal sei por um rótulo, que virou minha vida de ponta cabeça e está me fazendo perder tudo isso que venho construindo há tantos anos, mesmo sem eu querer que isso de fato aconteça...

Eu escolhi ficar aqui mas, de repente, eu nem sei mais se eu ainda pertenço a esse lar. Está tudo muito confuso na minha cabeça, eu mal consigo enxergar um palmo diante do meu nariz. Mas eu sei que eu a quero. Meu coração estúpido grita o tempo todo que eu a quero, ainda mais agora que a falta que ela faz me engole inteira. Quando eu a procuro como uma louca e não tenho nem pista, nem rastro... Eu preciso encontrá-la, mas não sei por que eu preciso tanto disso se eu não tenho nada pra dizer à ela... Talvez seja bom ela ter sumido, quem sabe o tempo a tire da minha cabeça e eu consiga retomar a minha vida... Mas não é isso que eu quero.
Eu quero a Dayane.
Eu quero a Fernanda.
Eu quero duas coisas que eu não posso ter. Meu coração e minha razão estão em guerra...

Estou pela enesima vez na porta do estúdio dela tocando insistentemente o interfone.
Nada.
Olho pra janela de cima e a vejo aberta.
Ela tá aqui! Tem alguém aqui!
Aperto bem fundo o maldito botão como se o som da campainha pudesse ficar mais forte com isso.
Nada.
Meu sangue sobe pro meu rosto e eu o sinto queimar. Me dirijo até a janela e faço o que meu coração manda:
- DAYANE, EU SEI QUE VOCÊ TÁ AÍ, ATENDE ESSA MERDA!
Nada.
Respiro fundo, meu coração está batendo como um louco, minha cabeça está a mil, não sou mais capaz de raciocinar.
- DAYANE, EU SINTO SUA FALTA, PORRA! PARA DE ME TORTURAR! EU QUERO VOCÊ!
EU TÔ TENTANDO COMO LOUCA FINGIR PRA MIM MESMA QUE EU AINDA SINTO PELA FERNANDA COISAS QUE EU SÓ SINTO POR VOCÊ AGORA. TEM IDEIA DO QUÃO ASSUSTADOR ISSO É, PORRA?!
APARECE, CARALHO!

DAY

Eu não tenho mais idade pra me enfiar em relacionamentos em que eu tenho que ficar mendigando atenção. Gostando de uma garota que uma hora me leva à loucura e depois me ignora. Eu não quero mais isso pra mim. Não quero mais sentir essa raiva que me toma toda vez que ela esfria. Não quero mais sentir esse vazio que me invade toda vez que penso nela.
Não quero mais sentir nada disso.
Então a solução pra mim é me afastar e deixar o tempo colocar as coisas em seus devidos lugares, eu não posso mais desejar uma mulher que não quer ser minha, quer dizer, minha ela já é, ser minha ela tenta não querer mas ela quer, o problema é que eu não tenho mais saco de ficar jogando esse jogo que ela insiste em jogar de ficar se enchendo de Fernanda quando tudo nela vibra por mim.

Agora também é problema dela. Eu lavei as minhas mãos. Abri meu coração pra ela, fiz ela sentir coisas que tudo que estava ao meu alcance, se não foi o suficiente, se eu não sou suficiente, deixa ela se atolar na sombra de um relacionamento que ela já teve, que foi bom um dia bem distante. Eu sou visceral demais pra viver de migalhas, pra me contentar com o mais ou menos, pra não me permitir sentir por medo. Eu não tenho medo de sentir! Eu não tenho medo de quebrar a cara lutando pelo o que eu quero.
Caroline não poderia me brochar mais. Eu realmente estou abrindo mão dela. Não quero mais brincar disso.

De novo essa mulher aqui! Ela não desiste?!
Finjo que não estou escutando o interfone, e que eu não ouvi o ronco barulhento do seu carro ao estacionar aqui.
Já já ela se cansa e vai embora, como sempre.
Silêncio.
Sabia que ela iria embora.
Caroline gritar como se quisesse me deixar surda mesmo eu estando no andar de cima.
Eu fico em choque.
Eu nunca a vi tão vulnerável, demonstrando seus sentimentos assim. Mesmo que seja sua ira, não posso negar que gosto.
De repente ela começa a dizer todas as coisas que eu esperei tempo demais pra ouvir, a plenos pulmões.
Que porra é essa?
O que tá acontecendo com essa mulher?
Meu estômago revira.
Ela disse que me quer!
Ela disse QUE ME QUER.
ELA TÁ GRITANDO NA RUA QUE ME QUER, CACETE!
Droga, mulher! Agora não! Vaza! Some daqui!
Tapo meus ouvidos, não quero ouvir mais nada. Meu coração é burro demais pra aguentar dizer não ao som dessas palavras que são arremessadas janela acima.
Quanto tempo faz que eu esperei pra ouvir isso?
Não quero saber. Ela é uma covarde. Ela apela quando sente que estou escapando por entre seus dedos, quando sente saudade de mim no meio de suas pernas.
Que coisa triste!
Chegamos num ponto em que eu não acredito mais no que ela diz. Quando ela diz que não mas demonstra que sim e agora que ela diz que sim mas eu acho que não é genuíno. Caroline perdeu a minha confiança. O único jeito dela me fazer acreditar é sendo sincera, mas antes de ser sincera comigo ela precisa ser sincera com ela mesma. Mas ela dá dois passos pra frente e três pra trás.

- DAYANE, PORRA! ABRE A PORTA! VAMO CONVERSAR!
Mas que merda! Para de insistir! Vai embora ficar com o fantasma da Fernanda, ou qualquer outra ilusão você inventa pra se defender de mim.
Eu sei que eu preciso dessa conversa, sei que preciso saber se ela ainda está falhando miseravelmente na tarefa de não me querer, de não me desejar, de não pensar em mim. Preciso olhar nos olhos dela e saber o que ela tá sentindo, mas talvez um outro dia. Talvez um outro momento, talvez, talvez... Mas hoje não.

Hoje não, Caroline.

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