34.

3.8K 282 100
                                    

CAROL

Dayane desce a rua pra me afastar da multidão.
- Você tá de carro?
- Não. Vim com o Renan, e você?
- Eu tava em outro rolê, mas enfim, vim com uma amiga.
Silêncio.
- Que merda! Estamos sem carro... Já sei!
Dayane começa a descer a Alameda Santos praticamente correndo me segurando pela mão.
- Day? O que cê tá fazendo?
- Só mais uma quadra, Carol, vem!
Sigo sendo arrastada por ela rua afora  sem ideia de pra onde ela está me levando.

- Aqui.
Estamos na frente do Hadisson e ela nem espera eu dizer nada, vai adentrando o hotel com a mesma fúria que ela veio até mim naquela calçada há pouco.
Ela pede um quarto e eu sinto um nervosismo que jamais senti antes. Está tudo muito confuso agora, os sentimentos todos embaralhados e no auge de toda intensidade.
Entramos no elevador e eu a olho pelo espelho, ela encara, impaciente, a contagem dos andares.
Dentro do quarto ela fecha a porta e se encosta enquanto me encara.
- O que eu faço com você, Caroline?
Meu corpo dá pane com as possibilidades dessa frase.
Socorro! Meu Deus!
Ela permanece encostada na porta tentando controlar sua respiração. A impressão que eu tenho é que uma de nós duas vai desmaiar a qualquer instante.
- Por que você fugiu de mim durante todo esse tempo?
Droga. Não podemos pular essa parte? Aaah!

- Você já sabe meus motivos, Day.
- E por que então tá aqui agora?
- Porque eu não tenho mais forças... Eu tentei de tudo... Tudo, Day. Tudo que você possa imaginar eu tentei pra te tirar de dentro de mim... Eu não posso mais lutar contra isso, é forte demais. O silêncio, a distância, te ver com outra, sair com outra...
- Me ver com outra? Tá maluca? Eu não tive ninguém...
- Tudo bem, Day. Eu sei que aquela garota que tava com você é alguém importante, eu já tinha visto vocês antes, pouco depois do Rafael dizer que te passou o endereço do Renan onde eu tava. E você não veio... Eu não havia entendido o motivo, até eu encontrar vocês se beijando no Ibira.
Dayane arregala os olhos e a boca como se eles estivessem competindo pra ver quem tem maior grau de abertura.
- Tá maluco?! Cê é louco que tu viu a gente se beijando?! Porra...
Ela vem andando com a mão no peito como quem está chocada.
- Day, eu vi... E tudo bem.
- Não, não. Não estou negando que beijei. Beijei. Mas foi nosso único beijo, durou meio minuto. Como pode eu estar louca atrás de você a meses e a vida fazer a gente se encontrar justo nos 30 segundos que isso não poderia acontecer? Tá louco! Não acredito...
- A mesma vida que colocou eu e você frente a frente hoje de novo.
Meu coração bate apertado, sinto ciume. Não tenho ideia de quem seja aquela garota, o medo me come pelas pernas, querendo ou não, quando ela estava com Isadora eu sabia exatamente quem era, onde estavam e como Day se sentia sobre ela e sobre mim mesmo estando com ela.
Era seguro.
Uma nova mulher, ela estando solteira, era algo que me deixava completamente incomodada. Eu sei que eu fui embora mas, de alguma forma, eu acho que nunca acreditei que a gente se separaria, pelo menos não em nossos corações. Sei que o meu coração será dela a minha vida inteira, mesmo amando outras pessoas, mas nada me garante que isso será recíproco. E isso me assusta.

- Quem é ela? Não estou te pondo contra a parede, só gostaria de saber...
- Alê. Alessandra. Ela é minha melhor amiga. A gente se conheceu sofrendo, rolou algo muito bacana entre a gente de cara, ela me fazia bem num momento em que nada me trazia paz. Nós nos beijamos porque rolava uma atração entre a gente, mas depois daquele beijo, a conversa que se sucedeu após ele foi que a gente já estava tão machucada que não poderíamos nos dar ao luxo de estragar a única coisa boa, o único respiro que a gente tinha em muito tempo.
Aquilo dói.
Não importa que não foi pra frente.
Dói.
Alguém fez bem a ela enquanto eu fazia mal. Enquanto eu tava sendo uma idiota tentando enfiar pessoas dentro do meu coração, a laço.
- Mas... Você também disse que teve alguém, Carol... Quem?
Sei que isso a machuca. Vejo claramente no tom repentinamente pálido que cobre seu rosto.
- Tive... Bárbara...
Ela permanece me encarando e eu sei que não posso só dizer o nome dela.
Fiquei em silêncio por tempo demais e ela apenas ergueu as sobrancelhas esperando por uma resposta mais completa.
- Não sei o que você quer que eu diga, Day.

Sedução. Onde histórias criam vida. Descubra agora