CAROL
Fazem dois meses que não sei nada sobre ela. Meu coração não se conforma com isso, minha cabeça não sabe fazer mais nada a não ser pensar nela, meu corpo mal consegue suportar a falta do toque dela... Está tudo muito difícil de digerir.
Eu e Fernanda estamos de mal a pior, eu mal consigo disfarçar que estou vazia, não há nada dentro de mim além dela.
Nossa última vez tão intensa se mistura com sua última expressão antes de eu ir embora, seus gemidos estão embolados com suas últimas palavras tão frias, tão cheias de dor...
Ah, Dayane! Será que te machuquei a ponto de você não me querer mais?
Eu fecho os meus olhos e a sinto comigo, o peso de seu corpo no meu, sua coxa direita atrevida no meio das minhas pernas, seu hálito quente ao pé do meu ouvido, suas mãos tocando cada parte do meu corpo com aquela fome que só elas tem.
Aaaaahhhh! Eu vou enlouquecer longe dessa mulher!Fernanda nem ousa mais chegar perto de mim, parecemos duas estranhas que dividem a mesma casa. O desconforto entre a gente é tão nítido que todos os nossos amigos já puderam ver, eu não sei o que fazer com ela. Eu não sei o que fazer com a Dayane, eu não sei o que fazer comigo!
Por que é tão difícil seguir meu coração? Por que eu tenho tanto medo? Por que ela não sai da minha cabeça? Aaahhhhh!
Eu estou ficando maluca por essa mulher, ela está me deixando completamente maluca.
Eu queria estar em paz com Fernanda sem nada no meio da gente, como sempre foi. Não quero sentir tudo que eu ando sentindo e parece que quanto mais eu não quero sentir mais eu sinto! E parece que quanto mais o tempo passa, pior fica. Eu pensei que todo esse tempo longe dela iria me afastar, mas eu só desejo cada vez mais a presença dela.Pelo menos uma vez na semana eu venho no estúdio dela, mesmo sabendo que ela não vai me atender. Saber que ela pode estar lá dentro, a poucos metros de mim é a dose de presença dela que pode me alimentar até o dia em que ela vai mudar de ideia e resolver me ouvir.
Tem dias em que eu nem saio do carro, as lágrimas me tomam de um jeito que eu só consigo ficar lá dentro tentando me esconder do mundo enquanto eu deixo meu corpo aliviar todo o meu sofrimento.
Há dias em que eu falo com ela como se ela pudesse me ouvir, as vezes eu grito, as vezes falo mais pra mim do que pra ela. Na real eu não tenho a mínima ideia do porquê eu ainda venho aqui.
Mas hoje vai ser diferente, hoje eu trouxe o meu violão e espero que a minha música, a minha arte onde mora todo o meu coração, seja suficiente.
Desço do carro com ele nas mãos, encosto no carro, engulo em seco, mas fecho os olhos e deixo toda a minha saudade me guiar."Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros, fazer amor
Tô com saudade de você
Na varanda em noite quente
E o arrepio frio
Que dá na gente
Truque do desejo
Guardo na boca o gosto do beijoEu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí
Será que você volta?
Tudo à minha volta é triste
E aí, o amor pode acontecer
De novo pra você, palpite"Silêncio.
A luz da sala de cima se acende.
Meu coração acende junto, sinto uma eletricidade correr em cada veia do meu corpo inteiro.
Espero.
Nada.
Pego o violão novamente."A canção tocou na hora errada
E eu que pensei que sabia tudo
Mas se é você eu não sei nada
Quando ouvi a canção, era madrugada
Eu vi você, até senti tua mão
E achei até que me caía bem como uma luva
Mas veio a chuva, ficou tudo tão desigualA canção tocou no rádio agora
Mas você não pode ouvir por causa do temporal
Mas guardei tuas cartas com letras de fôrma
Mas já não sei de que forma mesmo você foi embora
Mas já não sei de que forma mesmo você foi embora"O choro me toma forte antes que eu possa terminar a música.
Ela não vai aparecer na janela.
Então por que eu quero passar a noite aqui de vigília?
É só uma maldita luz acesa que não me diz nada além de que ela não me quer mais. Ela acende essa porra de luz pra que eu entenda que ela está aqui mas não vai me atender. Há pouco essa luz preencheu todo o meu ser e embora ela não tenha se apagado, parece que agora dentro de mim é só escuridão...
Por que cê tá fazendo isso comigo, Dayane?O frio de São Paulo está intenso essa noite, meu corpo treme inteiro. Faz frio lá fora e aqui dentro, mas eu não quero ir embora, a minha casa parece estar mil vezes mais fria, lá eu tenho que encarar Fernanda e ver na sua cara o quanto eu só faço tudo errado, e aí a culpa me enlaça e eu me questiono como eu não exploro com tudo isso junto.
Não. Prefiro ficar aqui.
Entro no carro e ligo o ar quente, logo as janelas embaçam e eu já não vejo mais nada lá fora.
Eu ligo o rádio pra me fazer companhia, escolho um canal com um bate papo, não me interessa o assunto, eu só quero ouvir vozes pra ver se assim eu me sinto menos sozinha.
O choro devagar vai se acalmando até que eu pego no sono.
Devo estar completamente fora de mim, estou dormindo dentro do carro, sozinha, numa garagem aberta, em plena São Paulo.
Quão perigoso pode ser isso?
Foda-se. Eu só consigo pensar que nada mais me importa a não ser deixar o sono me tomar nos braços e aliviar a minha dor.Só por essa noite.
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Sedução.
FanfictionFINALIZADA Caroline é uma cantora famosa, Dayane é a melhor fotógrafa de São Paulo. Ambas estão em relacionamentos longos com outras pessoas mas a vida e seu humor de quinta está disposta a virar suas vidas de ponta cabeça. Da mesma autora de Desej...