CAP4 - Grêmio estudantil

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— Seu currículo é ótimo, Eveline. Mas acredito que para o que você quer não seja o suficiente. Você precisa ousar mais... Já pensou em concorrer ao Grêmio? Faltam poucos dias para as campanhas começarem, você devia tentar.

— A senhora acha que é uma boa ideia? Mesmo com meu medo de falar em público? Lembra da última vez que...

— Eveline, querida. — Interrompeu. — Você é uma aluna excelente. Seu boletim é impecável e seu currículo de dar inveja, mas você precisa superar isso. Além do mais, quando você entrar para a universidade, falar em público vai ter que ser algo natural. Então é bom superar isso logo, você não acha? E também já passou da hora das meninas desse colégio mostrarem quem é que manda. — Sorriu.

— Então acho que preciso começar a planejar minha campanha. — Retribuiu o sorriso.

— Ótima ideia.

Vote Eveline para Presidente do Grêmio Estudantil. Ela repetia em seus pensamentos. Vote Eve.

Seria um desafio e tanto dado ao seu histórico de constrangimentos em público. Depois do último acontecimento ela tinha jurado nunca mais aceitar propostas para discursar ou apresentar qualquer coisa que envolvesse um grande número de pessoas assistindo. Ela entrava em estado de pânico só de imaginar todas aquelas pessoas a encarando, esperando algo dela, rindo, zombando porque não conseguiu formar uma simples frase enquanto todos a olhavam. Respirou fundo, afastando aquelas lembranças de sua mente. Ela precisava superar e também se concentrar na aula.

— Qual sua opinião, senhorita Judd? — O professor perguntou, fazendo-a arregalar os olhos.

— Qual minha opinião? — colocou a mão sobre o peito. — Desculpe... eu... — Disse sentindo sua nuca queimar.

— Eu posso? — Uma voz ecoou do outro lado da sala. — Professor Hamilton. — Ele ergueu a mão e foi nesse exato momento que Eve afundou na cadeira.

— Sim, prossiga... — permitiu, voltando a atenção para o outro aluno.

— Acredito que o escritor estava muito à frente do seu tempo. Ele conseguiu ilustrar em grande parte coisas que vivemos hoje e mostrou como a sociedade do consumo, embora opressora, começou com intenções legítimas sobre o bem comum e isso funcionou como uma forma de compensar a falta de senso crítico das pessoas ao se submeterem ao soma, já que todas aquelas intenções se tornaram concretas...

Ele falava, falava e falava. De primeira ela agradeceu pelo foco ter saído dela, mas num segundo momento, quando conseguiu se recompor e observar Alef explicando seu ponto de vista e arrancando expressões satisfeitas do professor, ela só conseguiu chamá-lo de babaca exibido em seus pensamentos.

Não era de hoje toda essa implicância com o garoto de ouro. Não que ele tenha feito algo a ela, mas pela forma como tratava Luke por causa de uma briga familiar idiota que relembrava sempre que possível como se fosse uma questão de honra. E também tinha todas as vezes que ele fingiu esquecer seu nome quando precisava falar com ela, como se cinco anos não tivessem sido o suficiente para gravá-lo.

Assim que o sinal para o intervalo soou, ela começou a recolher seu material esperando que o restante da turma esvaziasse a sala para que pudesse sair tranquilamente sem ser empurrada por nenhum apressadinho que estava disputando os primeiros lugares na fila do refeitório. Eve sempre era uma das últimas pessoas a deixarem a sala. Ela; Bridget e Bonnie, as gêmeas hippies; E Matthew, o garoto do último banco à direita que dormia em todas as aulas. Porém, dessa vez, assim que o professor dispensou a turma e caminhou até ela para reclamar da sua falta de atenção, metade da turma formou uma roda ao redor de Alef. Eles riam e falavam alto, até que Sr. Hamilton reclamou da bagunça e uma parte do grupo foi saindo da sala silenciosamente.

Não Diga Que Me AmaOnde histórias criam vida. Descubra agora