CAP8 - Atenda o telefone

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O relógio estava marcando oito horas e cinquenta minutos. Era o segundo programa de caçadores de recompensa que Eveline tinha assistido com seu pai, quando ele sugeriu comprar uma pizza para tornar aquela sexta a noite menos deprimente.

A garota subiu as escadas até o quarto da irmã para perguntar se ela gostaria de se juntar a eles. Bateu na porta duas vezes antes de enfiar a mão na maçaneta e abrir a porta. O quarto de Sarah, como sempre, estava de cabeça para baixo. As portas do armário estavam abertas e uma cascata de roupas saiam dele. E os livros escolares, que provavelmente nunca deve ter usado, estavam rabiscados e empilhados em cima da mesa ao lado do computador.

Ela caminhou até a cama de Sarah e se sentou no meio das coisas que tinham sido tiradas da mochila dela: um casaco moletom cinza; um caderno com a capa destruída; e dois livros de ciência.

Eveline arriou os ombros e olhou ao redor. Era óbvio que Sarah não ficaria em casa numa sexta a noite assistindo televisão com seu pai e se entupindo de pizza porque seu melhor amigo estava num encontro com a garota mais bonita do colégio. Ela arranjaria algo para fazer. Iria para alguma festa ou para o cinema com qualquer pessoa que tivesse aceitado seu convite de última hora. Mas Eveline não. Ela estava ocupada demais nos últimos anos tentando ser a melhor aluna para interagir com outras pessoas. Apenas Luke tinha ficado ao seu lado todo esse tempo... mesmo que fosse testando piadas que tinha lido na internet enquanto ela precisava estudar para o teste de história na manhã seguinte; ou assaltando sua geladeira ao invés de realmente ajudar no trabalho para a feira de ciências. Mas ele sempre estava lá.

Seus dedos deslizaram pela tela do celular até o contato de Sarah. Eve não sabia exatamente o motivo de estar ligando para sua irmã, porém ligou. Talvez com a esperança dela estar num lugar legal e por algum motivo cósmico convidá-la para se divertir pela primeira vez como uma adolescente normal. Mas isso não aconteceu. Nenhuma das chamadas foram completadas porque Sarah estava do outro lado da cidade, dentro de um carro, cancelando todas as ligações da irmã.

— Você não vai atender? Ela deve estar preocupada com você... — Zachary falou na terceira vez que Sarah rejeitou a ligação.

— Ela só quer tomar conta da minha vida.

— Alguém precisa... — Resmungou, apoiando o braço na janela do carro.

— O que você disse?!

— Que alguém precisa tomar conta de você.

— Eu sei me cuidar, ok? Não preciso de nenhum idiota no meu pé!

— Olha, Sarah... — Respirou fundo, encarando a garota. — acho melhor a gente ir embora....

— Não! — Ela segurou a mão dele por cima do volante. — Nós já estamos aqui, ok? Vamos ficar até eu conseguir alguma coisa!

— Não, Sarah! Isso é loucura! Nós estamos aqui há mais de uma hora só porque você leu algumas mensagens que podem não significar nada! Eu cansei dessa sua obsessão de transformar todo mundo que se importa com você em monstros, ok? Eu não vou passar mais nenhum minuto aqui e sabe por que? Eu tenho uma festa pra ir e não vou deixar você estragar minha noite! — Ele deu a marcha e começou a acelerar quando a garota tirou o cinto e abriu a porta, saindo do carro em movimento. — Você ficou maluca? — Ele gritou, pisando no freio. — Entra no carro, Sarah!

— Vai se ferrar, seu babaca! — Ela mostrou o dedo do meio e atravessou a rua, enquanto o garoto gritava e buzinava do outro lado.

Sarah, sem olhar para trás, continuou com o passo firme até a outra calçada. Algumas pessoas passavam pela garota parecendo percorrer aquele caminho no modo automático. Ela olhava para os lados, um pouco desconfiada, tentando reconhecer algo a sua volta. Apenas a loja de conveniência do posto de gasolina estava aberta. As outras estavam fechadas com seus letreiros tendo as luzes ofuscadas pela iluminação do hospital. Um vento gelado bateu em seu rosto, fazendo-a soltar uns palavrões por ter esquecido o casaco em cima da cama. A garota olhou ao redor e se refugiou dentro de uma cabine telefônica que ficava a poucos metros da entrada do hospital. Agora ela estava sozinha. Zachary não estava mais parado do outro lado da rua e ela não fazia ideia de como voltaria para casa, mas estava decidida a ir embora somente quando tivesse uma resposta.

Não Diga Que Me AmaOnde histórias criam vida. Descubra agora