— Luke?! — Malcolm chamou ao entrar na oficina. Ele era um homem alto, ombros largos e com o cabelo castanho bem cortado. Seus traços eram brutos, mas seu olhar gentil. O tipo de homem que passa confiança ao falar e também intimida com o simples fato de estar presente. — Sua mãe disse que você passou a manhã toda aqui... — pausou ao encontrar Eve e Luke. Os dois estavam virados para ele com as feições assustadas, como duas crianças que foram pegas fazendo algo errado. — Tudo bem por aqui? — Perguntou com o cenho franzido.
— Sim, pai, nós só estávamos... — Encarou Eve, que transferia o peso do corpo de uma perna para a outra.
— Acho que esse tanto de água no chão explica tudo. — Concluiu, interrompendo o filho.
— Desculpa, senhor Gardner. Nós vamos limpar essa bagunça. — Disse esfregando um dos braços.
— É claro que vão. — meneou a cabeça. — Eu pensei que Luke estava sozinho, mas o que eu trouxe é o suficiente pra vocês dois. — Ergueu uma bolsa do Barney's, a melhor lanchonete da cidade. — Hambúrguer e fritas.
— Ah, não obrigada. Eu acabei de almoçar.
— Eu também. Eve trouxe comida pra mim.
— Vocês têm certeza? — Eles assentiram. Malcolm abriu a bolsa e pegou uma batata, apontando a mesma para o filho. — então vá vestir uma calça. — e a enfiou na boca.
Um clima desconfortável se instalou ao redor deles, embora Malcolm parecesse não perceber. Luke estava nervoso e com raiva pela forma como foram interrompidos e Eveline parecia ainda não acreditar que eles chegaram tão perto de um beijo.
Ela se abaixou para pegar o esfregão que estava no chão e secar as partes da oficina que ainda estavam molhadas enquanto Luke seguia para o vestiário. Era estranho estar ali como se nada tivesse acontecido. Como eles deveriam agir depois disso? Ele iria querer conversar. Ela, esquecer. Afinal, foi apenas um momento. E se desse errado? A última coisa que Eveline queria nesse momento era destruir o que tinha com Luke. Talvez não acontecer foi o melhor para os dois.
— Vou levar vocês pra casa. — disse, quando toda a bagunça que fizeram tinha sumido.
Luke permaneceu perdido em seus pensamentos durante todo o trajeto. O braço apoiado na janela. A cabeça reclinada no encosto do assento. Enquanto a garota falava pelos cotovelos, entre o banco do motorista e do carona, para cada assunto que Malcolm iniciava.
— Chegamos ao seu destino, Eveline. — Falou ao estacionar.
— Você vem comigo, certo? — Perguntou, apoiando a mão no ombro de Luke.
Ele a encarou pelo retrovisor.
— Tem certeza?
— É claro. — sorriu. — Se não eu não teria andado aquilo tudo até a oficina, certo? — e saiu do carro. Ela o encarou mais uma vez. Não tinha certeza se era uma boa ideia, mas também queria garantir que nada mudaria entre eles.
Os dois andaram em silêncio pelo caminho no quintal formado de pedras. Ambos tentando não demonstrar a inquietação que estavam sentindo.
— Eve... — colocou a mão sobre a dela, impedindo-a de abrir a porta.
— Podemos... apenas... desculpe, Luke. Eu só não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós.
— Eu também não. — Afastou-se, deixando que ela entrasse na casa.
Não tornar as coisas estranhas. Era exatamente o que eles estavam fazendo. Como ele evitaria isso? Eles quase se beijaram e ela decidiu fingir que nada aconteceu. Luke estava se sentindo um idiota por ter se apressado; por ter pensado que poderia mudar o que havia entre eles; que ela poderia deixar de enxergá-lo apenas como amigo. Mas eles foram tão perto disso... e a forma como ela reagiu... Ela também queria aquele beijo. Ele tinha certeza.
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Não Diga Que Me Ama
Ficção AdolescenteUm beijo inesperado pode mudar tudo; pode despertar sentimentos que sequer sabia-se da existência, como também destruir planos. E foi assim que uma talvez história de amor não teve seu início: um beijo que não deveria ter acontecido chegou antes de...