— Não vai atender? — A garota perguntou com os lábios ainda nos dele, depois do telefone tocar pela segunda vez.
— Eu tenho mesmo? — Resmungou.
— Pode ser algo importante. — Disse afastando-se.
— OK. — Tirou o celular do bolso. Haviam duas chamadas perdidas de Sarah. — Eu preciso...
— Vou estar te esperando...
Luke se afastou e retornou a ligação. Ele não queria. Ainda estava chateado com o que Sarah tinha dito, mas também não conseguia simplesmente ignorar. Devia ser algo importante, ela era orgulhosa demais para ligar sem motivo algum.
— Sarah?
— Eu sei que a gente não está se falando, mas eu preciso da sua ajuda...
Ele permaneceu em silêncio, obrigando-a a falar.
— Estou no trabalho da minha mãe, mas ela não quer falar comigo e eu não tenho como voltar pra casa. Zach me largou aqui sozinha, minha irmã não atende o telefone e meu pai acha que eu estou trancada no meu quarto... eu só pensei que talvez você pudesse... esquece... Eu vou dar meu jeito...
— Sarah... estou indo, ok?
— Obrigada.
Luke desligou o telefone e encarou a ruiva que retocava o batom no retrovisor da moto a alguns metros de distância. Ele não queria deixá-la, mas também não era uma opção ignorar Sarah e seu pedido, mesmo que provavelmente fosse mais um de seus truques... Ele apenas não conseguia dizer não.
— Tudo bem. Acontece. — Ela falou, quando o garoto se aproximou, como se já soubesse o que iria ser dito. Ela parecia um pouco afetada, porém isso não o impediria.
— Vamos, vou te levar pra casa.
Os dois colocaram o capacete e subiram na moto. Ele dirigiu o mais rápido que era permitido até onde Katie morava. Um rua de casas que, para sua sorte, ficava a quinze minutos do centro, onde Sarah o aguardava.
— Você ainda está me devendo um encontro de verdade. — Katherine disse, antes dele ir embora.
Em exatos quinze minutos Luke encontrou Sarah sentada, encolhida pelo frio, no ponto de ônibus. Ele queria dizer que ela não deveria estar ali fora, que era perigoso ficar sozinha numa rua deserta, mas apenas tirou o capacete e esperou que ela se aproximasse.
— Não vai dizer nada?
— Não. Não é da minha conta.
A garota estranhou a resposta, mas ele estava fazendo exatamente o que ela pediu: não se envolver na vida dela.
Sarah subiu na moto e colocou o capacete sem dizer uma palavra; passou os braços ao redor do corpo dele e repousou a cabeça em suas costas, com a desculpa de se livrar do frio. No mesmo instante os músculos dele enrijeceram. Luke estava visivelmente incomodado com a aproximação dela, mas preferiu não protestar. Ele acelerou e fez todo o trajeto no limite da velocidade, ultrapassando todos os sinais que apareciam.
— Obrigada. — Sarah agradeceu ao descer da moto.
Luke meneou a cabeça em resposta e ameaçou ir embora, quando a garota colocou a mão sobre o braço dele, impedindo-o.
— Podemos conversar? — Pediu.
Ele tirou o capacete com uma certa resistência e a encarou.
— Eu não queria ter falado com você daquele jeito...
Os olhos dele continuavam fixos nela. O garoto ouvia atentamente cada palavra sem esboçar nenhuma reação, o que era totalmente inusitado para ela, já que ele sempre fora muito expressivo.
— Naquele dia a minha cabeça estava uma bagunça com todas as coisas que estão acontecendo em casa e eu não fui recebida como esperava na equipe... — suspirou, dedilhando a parte do braço dele que ainda mantinha contato. — eu não devia ter agido como uma idiota... você só queria ajudar.
Luke desviou os olhos para onde os dedos dela pressionavam sua pele e apertou os lábios antes de encará-la outra vez.
— E você tem todo o direito de estar chateado e eu sei que essa não é a primeira vez que enfio você no meio dos meus problemas mas... é que... eu... Luke, você é a única pessoa com quem consigo ser eu mesma... eu não sei porque... — um sorriso desconcertado se formou em seus lábios e suas bochechas ganharam um tom avermelhado. — mas eu preciso de você... podemos apenas esquecer tudo e começar do zero? — Pediu.
Um suspiro. Foi a única reação depois de tudo que ela disse. Não era o que Sarah esperava, mas ela não tinha forças para insistir outra vez ou de simplesmente dar as costas e ir embora. Então apenas acompanhou o silêncio, perdendo o contato com a pele dele, quando Luke estendeu a mão em sua direção. Sarah encarou o gesto desconfiada e observou um sorriso torto aparecer em seu rosto:
— Luke. Meu nome é Luke. — Disse, fazendo-a rir.
Sarah ignorou o gesto e o envolveu num abraço apertado, quase derrubando-o da moto.
— Desculpa... — resmungou, puxando a blusa para baixo ao se afastar. — é que eu tenho essa... hm... essa coisa de abraçar estranhos. — desta vez, ela o fez rir. — A propósito, meu nome é Sarah.
— Nome bonito.
— Obrigada. — Agradeceu com um sorriso bobo. — Ah... eu preciso entrar... a gente se vê por aí? — mordeu o lábio, ansiosa pela resposta.
— É claro. A gente se vê por aí.
A garota acenou e caminhou com o mesmo sorriso bobo até a porta de casa sob o olhar dele.
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Não Diga Que Me Ama
Teen FictionUm beijo inesperado pode mudar tudo; pode despertar sentimentos que sequer sabia-se da existência, como também destruir planos. E foi assim que uma talvez história de amor não teve seu início: um beijo que não deveria ter acontecido chegou antes de...