CAP11 - A manhã seguinte

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O dia amanheceu ensolarado. A mesa do café parecia estranhamente leve com Sarah cantarolando enquanto dava colheradas em sua tigela de cereal. John lia o jornal e trocava expressões divertidas e confusas com Eveline por causa do comportamento atípico da caçula.

Os dois observavam aquela cena com curiosidade, até a garota colocar a tigela suja dentro da pia e desejar bom dia antes de sair da cozinha.

John dobrou o jornal e o colocou em cima da mesa, fitando a outra filha que continuava sentada à sua frente.

— Pra onde ela vai? — Perguntou, observando Eveline passar a língua por cima do bigode de iogurte.

— Correr... ela estava com roupas de corrida, não?!

— Desde quando Sarah corre?

Eve suspirou.

— Ela corre todos os dias, pai... inclusive acabou de entrar para a equipe de atletismo.

— Ela não me disse nada...

— Ela costuma não dizer.

John encarou a filha por algum tempo antes de desdobrar o jornal e voltar a atenção para os anúncios de casas pelas redondezas.

A campainha tocou insistentemente. Eveline grunhiu ao perceber que teria que levantar e atender ou ninguém o faria. E com passos preguiçosos caminhou até a porta e bisbilhotou pelo olho mágico a imagem de um garoto loiro de um metro e oitenta e um do lado de fora. Eve encarou os próprios pés envolvidos numa pantufa rosa e peluda que terminavam num pijama do mesmo tom e entrou num breve momento de desespero até o barulho da campainha soar novamente.

— Alguém precisa atender a porta! — John gritou da cozinha.

— Já vou atender! — Respondeu, soprando as mãos para checar o nível de iogurte em seu hálito e abriu a porta numa pequena fresta de modo que apenas metade do seu rosto ficasse visível. — Eu pensei que nós dois tínhamos concordado em fingir que nada aconteceu...

— Bom dia para você também! — Falou com um sorriso de ponta a ponta.

— O que você quer, Alef?

— Vim saber se você dormiu bem... porque eu não consegui tirar você da minha cabeça nem por um minuto...

Eveline piscou três vezes enquanto processava o que ele tinha acabado de falar.

— Não vai dizer nada? — Perguntou, levando a mão à maçaneta. — Ou me convidar para entrar?

— Você só pode estar de brincadeira com a minha cara... — Resmungou, se esgueirando para fora da casa e fechando a porta por trás do seu corpo, tentando fazer o mínimo de barulho possível.

— Gostei da roupa... — Riu, fazendo-a encolher os ombros.

— Eu acabei de acordar...

Alef fitou-a nos olhos e esboçou um sorriso ao vê-la ruborizar. Eveline estava claramente desconcertada com a visita inesperada.

— Olha, não quero atrapalhar e eu preciso dar um jeito na bagunça que você causou ao aparecer ontem a noite.

— Que eu causei? — Ergueu uma sobrancelha. — Não lembro de ter marcado um festa que não deveria ter acontecido!

— Nem eu...

— O que você quer, afinal?

— Vim trazer suas coisas e também eu precisava te ver... — O garoto estendeu a mão em direção ao rosto dela, mas Eveline segurou-o pelo pulso e o afastou.

— Eu sei muito bem o que você veio fazer aqui. Não vai funcionar.

— Não sei do que você está falando... — Ele franziu o cenho, como se realmente não estivesse por dentro do assunto. — eu vim devolver isto... — Disse tirando a jaqueta jeans de cima de seu ombro e entregando para ela. — E isto... — Alef enfiou a mão no bolso duas vezes antes de encontrar o celular dela. — Eu ia esperar até segunda, mas pensei no quanto é ruim ficar sem telefone.

— Obrigada.

— Só isso? Nenhum abraço ou um beijo de agradecimento?

— Você é inacreditável! — Ela rolou os olhos e se virou para entrar em casa.

— Adicionei meu número nos seus contatos, caso mude de ideia é só me ligar... — Falou, antes dela bater a porta, deixando-o sozinho do lado de fora.

Eveline repousou as costas na porta e deslizou o dedo pela tela até encontrar o número dele cadastrado em sua agenda. Ela riu e cogitou excluir o número quando sua irmã parou na sua frente, provavelmente se perguntando o motivo dela estar rindo sozinha.

— Pensei que você tivesse saído...Onde você vai? — Perguntou ao ver a mochila pendurada em seu ombro.

— Treinar.

— Ok. — Balançou a cabeça positivamente.

— Preciso que você saia da frente da porta.

— Ok. Ok. — Concordou, apertando a jaqueta contra seu corpo enquanto liberava a passagem. — Você pretende voltar que horas? Mamãe está vindo para o almoço com aquela lasanha deliciosa do seu restaurante preferido.

— É mesmo? Isso vai ser divertido. Almoço em família com a minha comida preferida. — Ela sorriu. Eveline franziu o cenho. Havia algo particularmente estranho no comportamento de Sarah.

A garota abriu a porta e saiu, deixando a irmã para trás com um olhar curioso. Ajeitou o fone em seus ouvidos, aumentou a música até abafar todo o ruído ao redor e seguiu o percurso que fazia todos os dias. 

Não Diga Que Me AmaOnde histórias criam vida. Descubra agora