Dez minutos depois do sinal soar, Luke jogou a mochila na cadeira ao lado e deu uma mordida na maçã que estava na bandeja. As primeiras aulas tinham se arrastado até a hora do almoço e para sua sorte nenhuma delas contava com a presença da Eve. Já tinha sido difícil o suficiente ter passado o restante do domingo fingindo estar de acordo com esquecer o que tinha acontecido entre eles, então não seria nada agradável continuar com isso por uma manhã inteira.
— Posso? — Sarah Perguntou, colocando a bandeja com dois pedaços de pizza e um sanduíche embalado em cima da mesa, tirando-o de seus pensamentos.
— Você já está... — disse observando-a sentar. — O que aconteceu? O bonde da pesada te rejeitou?
Ela forçou uma risada e comeu o primeiro pedaço de pizza em silêncio.
— Então... — começou, batucando os dedos na mesa.
— Você não consegue, não é mesmo?
— Não, não consigo. — Meneou a cabeça e se debruçou em direção a ela. — Isso tudo está me deixando louco, ok? Eu quero colocar pra fora mas não consigo.
— Procure um psicólogo, Luke. Não posso fazer nada por você. — Deu de ombros, desviando o olhar. — Ou apenas esqueça.
— Claro... é o que vocês fazem... esquecer. É algum tipo de tradição familiar? Porque a minha família prefere tocar na ferida até que se torne público. — Disse jogando o peso do corpo de volta para a cadeira.
— É apenas a alternativa mais fácil, Luke. Também é o certo a se fazer quando você beija alguém e ela não te beija de volta. — Sorriu, tentando tirar o peso do que tinha acabado de falar.
— É, parece que sim... — se endireitou na cadeira, apoiando os braços na mesa. — Sinto muito por isso... não era minha intenção magoar você ou...
— Eu pareço magoada? — Perguntou, apontando para si mesma. — Não estava esperando que você tivesse uma reação diferente. Não com tudo isso acontecendo. Eu apenas fui impulsiva como de costume.
— É verdade. Você é um pouco impulsiva. — Falou com um sorriso faceiro nos lábios.
— Não abusa da sorte, Luke! Estou tentando levar tudo isso numa boa!
— Desculpa, é que eu imaginava essa conversa de outra forma. É estranho que você não tenha gritado em nenhum momento.
— Eu vou gritar daqui a pouco. É melhor você calar a boca.
Ele riu, esfregando o rosto com uma das mãos e voltou a olhá-la. Sarah estava com a parte de cima do cabelo presa em dois grampos, o restante do cabelo solto até a altura do queixo formando algumas ondas. Duas argolas cinzas combinando com os grampos e um delineado marcante, ressaltando seu olhos castanhos.
Luke esticou a mão para roubar o pedaço de pizza que estava na bandeja de Sarah e levou um tapa na mesma como resposta. Ele fez uma careta e logo se ajeitou na cadeira ao ver Eveline entrar no refeitório e atravessar até onde eles estavam.
— Almoço em família! Adoro! — Sarah resmungou, mordendo o pedaço que quase foi roubado. Eve revirou os olhos e se sentou ao lado da irmã.
— Vou me candidatar a presidente do Grêmio. — Disparou. — O que vocês acham?
— Isso é uma piada, né?
— Reformulando... o que você acha, Luke? — Perguntou novamente, agora encarando o garoto que estava largado na cadeira.
— O que eu acho? — Ela balançou a cabeça positivamente em resposta. — Eu acho uma ótima ideia?!
— Ele acha uma péssima ideia, mas não tem coragem de falar... e eu também acho.
— Eu não sei se você percebeu, mas eu preciso de apoio nisso.
— Veio procurar no lugar errado, irmãzinha. — Forçou um sorriso e enfiou o que restou da pizza na boca.
— Você é inacreditável! — Bufou. — Luke?
— Eu sempre te apoio. Você sabe disso.
— Eu sempre te apoio. Você sabe disso. — Sarah repetiu num tom de deboche.
— Eu sei! — Encolheu os ombros, ignorando o que a irmã tinha acabado de fazer. — Só que dessa vez eu vou precisar de um apoio maior. Eu preciso de um vice e quero que seja você.
— Eu? Seu vice?
— Eu disse que era uma piada!
— Não tem nenhuma piada, Sarah! E você já pode parar de agir feito criança!
— Uh, desculpe, Sra. Presidente! — Ergueu as mãos, colocando-se de pé. — Eu vou dar o fora daqui!
Luke e Eveline ficaram em silêncio, olhando Sarah colocar a mochila sobre os ombros e sair carregando a bandeja com um sanduíche inteiro em cima.
— Então? O que você me diz?
— Eve... você tem certeza disso? É uma responsabilidade muito grande e eu não sou bom falando em público, nem você... não vejo como isso pode dar certo.
— Ah, ótimo. Você também acha que eu não consigo.
— Não, Eve! É claro que você consegue, mas...
— Mas seria melhor se eu deixasse essa ideia maluca pra lá, certo? — Rebateu irritada. Ele ficou em silêncio, esperando que a situação se resolvesse sozinha. Era óbvio que o que ela pretendia era um pouco demais considerando seu histórico de vergonhas em público, principalmente a última. Cinco meses atrás. A abertura que ela havia preparado para a feira de ciências e não conseguiu dizer uma palavra. Luke lembra de ter sentado na primeira fileira com Sarah numa tentativa de deixar Eve um pouco mais confortável com a presença deles. Lembra ter visto ela atravessar o palanque, desdobrar o papel com o discurso e segurar o microfone. Ele fez algum comentário aleatório que Sarah precisou segurar o riso e então se deu conta do silêncio ao redor deles. Aqueles foram os três minutos mais longos da vida dela, sem sombra de dúvidas. Eveline travou na frente do colégio inteiro. O diretor Keegan dava acenos nervosos na outra ponta do palanque na esperança dela reagir, até que um dos jogadores do time de futebol gritou para que ela saísse de lá, fazendo o colégio inteiro começar uma série de vaias e gritos.
— Não acredito que você não vai me apoiar nisso... — falou, após um longo período de silêncio.
— Não é que eu não esteja te apoiando...
— Mas é o que parece!
— Você não acha que está sendo um pouco injusta?
— Acho que você não está pensando direito. Essa pode ser nossa chance de conseguir uma bolsa na faculdade!
— Você sabe que não quero entrar pra faculdade...
— Então você realmente não está pensando direito... Luke, você quer mesmo passar o resto da sua vida aqui?
— Eve, eu realmente não quero ter essa conversa de novo.
— Olha, se você não vai fazer isso por você, faça por mim! Essa não é apenas a chance de melhorar meu currículo, mas também de acabar com o babaca do seu primo! Imagina só como seria bom ver a cara dele quando nós ganharmos?!
— Nós não vamos ganhar.
— Isso quer dizer que você topa perder comigo? Acho que nós formamos uma dupla e tanto. — Disse, roubando um sorriso dele.
— Isso não vai terminar bem.
— Só tem um jeito de saber...
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Não Diga Que Me Ama
Teen FictionUm beijo inesperado pode mudar tudo; pode despertar sentimentos que sequer sabia-se da existência, como também destruir planos. E foi assim que uma talvez história de amor não teve seu início: um beijo que não deveria ter acontecido chegou antes de...