CAP10. PART2 - Depois do beijo

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A garota ficou sem reação e sem saber ao certo se usava as mãos para afastá-lo ou se para puxá-lo para mais perto, juntamente com seus lábios macios e seu cheiro inebriante. Era como se uma guerra pelo controle acontecesse dentro dela com uma voz gritando o quanto ele era babaca e deveria levar uma joelhada nos países baixos por isso e outra dizendo o quão delicioso era seu beijo. Não tinha como resistir. Eveline já não respondia mais por si mesma naquele momento. Não quando os dedos dele estavam embrenhados em seu cabelo.

— Foi mal, Alef... a gente não queria atrapalhar... foi mal mesmo... — Alguém resmungou fechando a porta.

O beijo terminou sem pressa. Seus olhares se cruzaram e as bochechas dela coraram no mesmo instante. O garoto sorriu e deslizou a língua pelos lábios, sentido mais uma vez o sabor doce de Eveline. Ela deu um passo para trás, desconcertada pelo momento, fazendo as mãos dele perderem o contato com seu corpo.

— Acho melhor a gente...

— Sim... Preciso tirar você daqui.

Alef caminhou até a porta, espiou o corredor e abriu-a para que ela saísse. Eveline passou por ele encarando o chão, ainda sem jeito por causa do que tinha acontecido.

Os dois caminharam até a saída nos fundos do prédio em silêncio. Suas bochechas ainda queimavam de tanta vergonha. Alef Cohen tinha acabado de beijá-la. Como ela deveria agir depois disso? Não fazia ideia. Seu melhor amigo era o mais perto de intimidade com um garoto que ela tinha chegado. E um beijo, bom, ela não tinha experiências anteriores.

Eveline, com os dedos entrelaçados na frente do corpo, continuou os passos, deixando-o para trás, depois de outra troca de olhares embaraçosa. Ela mordeu os lábios, enquanto refazia o caminho de quando tinha chegado horas atrás. Nervosa e inquieta, Eve precisava falar com alguém sobre aquele beijo, mas quem? Seus pais? Nem pensar! Sua irmã? Daria as costas antes dela começar. Luke? Ela cogitou mesmo contar pra ele?

A garota passou pelo buraco na grade e beirou o muro do colégio até o portão principal. Ela estava tão aérea que mal havia notado que era a única pessoa na rua e menos ainda quando um Cadillac Coupé Deville modelo de mil novecentos e cinquenta e sete começou a acompanhá-la.

— Você vai entrar ou vai continuar fingindo que não está me vendo? — Alef perguntou, tirando-a de seus pensamentos.

Ela o encarou por alguns segundos, mantendo o ritmo dos passos.

— É apenas um carona... Prometo pedir autorização para o próximo beijo. — Disse num tom brincalhão. A garota o fuzilou com o olhar.

— Não vai ter próximo! — Rebateu, ríspida.

— Eu só estava brincando... Vamos, vou precisar implorar para você entrar?

— Eu moro a três quadras daqui. Não preciso de carona.

— Você sabe que horas são? — Perguntou. Eveline continuou andando como se ele não estivesse ali. O garoto revirou os olhos e buzinou, fazendo-a pular com o susto. Ele riu com a cena e estacionou.

— Você é um idiota!

— Eu concordo... — Disse, após sair do carro e apoiar os braços no teto. — Mas não vou deixar você andar por aí sozinha... a não ser que você queira ser sequestrada por algum maluco.

— Quem me garante que o maluco não é você? — Cruzou os braços.

— Ninguém. — Ele sorriu. — Mas uma carona é sempre bem-vinda, certo?

Eveline desviou o olhar. Estava tentada a entrar no carro depois daquele sorriso, mas eles já tinham cruzado a linha há muito tempo. Não era certo. E ela só conseguia pensar na reação do seu melhor amigo se ficasse sabendo do ocorrido

— Você pode voltar a me odiar na segunda-feira. Isso não muda nada.

— Não, obrigada. — Respondeu, antes de sair andando e deixá-lo para trás.

— Garota difícil. — Resmungou, batendo a porta do carro e indo atrás dela. — Tudo bem, vamos andando!

— Nós, não! Eu vou andando. Sozinha.

— Eu já te fiz alguma coisa? Ou isso tudo é por causa do Luke? Só uma curiosidade.

— Se nós vamos fazer isso... por favor, sem conversa.

— Então não tem nada a ver com o beijo? Você gostou, certo?

— Isso é sério?!

— Claro. Tenho uma reputação a zelar. Quero garantir que você ficou satisfeita.

Eveline apertou os olhos e encarou Alef que exibia um sorriso faceiro nos lábios. Ele estava visivelmente se divertindo com a situação.

— Considerando que a sua reputação não é a das melhores... o beijo foi tão ruim quanto!

— Eu não conhecia esse seu lado agressivo. — Falou, achando graça da resposta que recebeu. — Não parece em nada com a garota que saiu chorando na frente do colégio inteiro. — Provocou.

— Desde quando você me conhece?! Você não sabe nada sobre mim.

— Na verdade, eu sei algumas coisas.

— Tipo?

— Você se mudou pra cá em dois mil e nove e começou a andar com meu primo. Lembro da primeira vez que vi os dois juntos. Você estava usando um macacão jeans com flores no joelho e tinha um negócio engraçado na cabeça.

— Um arco?

Ele deu de ombros.

— Você lembra a roupa que usei no primeiro dia de aula e não consegue lembrar o meu nome?

— É claro que lembro, Judd.

Ela o encarou. Alef acompanhava os passos curtos dela, com as mãos no bolso da calça e o olhar fixo no caminho.

— Então você finge esquecer meu nome? — Ele deu de ombros. — Por quê?

— Gosto da cara que você faz quando está irritada. Você torce o nariz e... — Alef fez uma careta, imitando a garota.

— Eu não faço isso! — Ela riu, contagiando-o.

— Faz sim!

Alef fixou os olhos nela e sorriu, fazendo-a encolher os ombros, envergonhada.

— Ok. Isso é muito estranho.

— Não precisa ser.

— Como?

— O que você sabe sobre mim?

— Eu sei que você é um babaca mimado que acha que o mundo gira ao seu redor.

— Eu tenho quase certeza que já ouvi o Luke falando essa frase.

— É porque ele fala bastante. — deu um sorriso torto.

— O que vocês dois são afinal?

— Amigos.

— Amigos? — Franziu o cenho.

— Melhores amigos.

— Então ele não vai se importar quando ficar sabendo sobre nós...

— Primeiro... — Eveline fitou Alef, interrompendo-o, e logo voltou a encarar o chão. Não era uma tarefa muito fácil olhar diretamente naqueles olhos verdes. — Não existe "nós". Segundo... — falou, fazendo um sorriso sambar nos lábios dele. — eu juro que acabo com você se mais alguém souber o que aconteceu.

— Isso significa que temos um segredo.

— Significa que minha casa chegou... — resmungou, ao avistar a casa num tom azulado e telhado colonial. — e que eu passei a noite inteira dentro dela.

— Seria uma pena se isso tivesse realmente acontecido... — Falou, com as mãos dentro do bolso, olhando a garota apertar o passo para fugir dele. — não vou ganhar nenhum beijo de despedida?! — Perguntou. Eveline continuou o caminho até sua porta sem olhar para trás. Não queria que ele visse o sorriso que ameaçou surgir em seus lábios.

Não Diga Que Me AmaOnde histórias criam vida. Descubra agora