CAP5. PART2 - Hora de mudar

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O sinal para a próxima aula soou. Os corredores do colégio começaram a se esvaziar conforme os alunos iam encontrando as salas onde as aulas seriam ministradas. O vestiário feminino da quadra externa estava lotado de meninas retocando a maquiagem para ficarem bonitas durante a aula de educação física. Esse era o motivo de Sarah sempre ir trocar de roupa antes de todos chegarem. Ela abaixou para apertar o laço do tênis e acenou para o professor assim que ouviu o barulho do apito.

— Vou dar uma volta antes de começar. — Avisou.

O treinador fez um sinal positivo com a mão e Sarah disparou, olhando para trás, a cada dez passos, esperando que ele entrasse no vestiário masculino como de costume. Ela correu até percorrer a metade do estádio, onde começou a diminuir o ritmo, ao ver Zach encostado num vão que havia entre as arquibancadas. Ele sorriu, projetando o corpo para frente ao vê-la.

— O que você quer? — Ela perguntou, controlando a respiração.

— Quero saber como você está... — Respondeu, oferecendo um cigarro que parecia ter sido embalado às pressas. Sarah balançou a cabeça negativamente.

— Vamos… você precisa relaxar… — Insistiu, empurrando o cigarro em sua direção.

— Estou no meio da aula, Zach.

— Eu também. — deu de ombros, levando-o até a boca. — Como estão as coisas? — ele soltou a fumaça e espiou o estádio, assegurando-se que não havia mais ninguém por perto. — Sua mãe surtou de novo depois que deixei você em casa?

— Um pouco… mas meu pai estava lá, então ela segurou a onda com medo de que eu dissesse alguma coisa

— E você vai?

— Eu preciso…

— Tem certeza de que é uma boa ideia?

— Qual é, Zach! Vai me dizer que você não faria nada no meu lugar?

— Se eu tivesse conhecido meus pais… não, eu não faria nada. Eu gostaria de continuar tendo os dois por perto.

Sarah cruzou os braços observando Zachary tragar o cigarro e soltar a fumaça lentamente. É claro que diria algo assim, já que acreditava que ter sido abandonado com o tio alcoólatra era culpa dele.

— Eu não sou como você, Zach. Não consigo fingir que está tudo bem quando minha mãe está construindo outra família com um médico cheio da grana.

— Você não tem certeza.

— É por isso que preciso da sua ajuda…

— E você quer que eu faça o que? Siga ela pela cidade? Isso é meio…

— Zach…

— Você sabe que faço qualquer coisa por você, mas isso continua sendo estranho.

— Eu sei. Olha, eu preciso voltar… me avisa se mudar de ideia, ok?

— Pode deixar… Ei, Sarinha! — Chamou-a, fazendo-a parar no meio do caminho. — O que você vai fazer na sexta? Estão planejando dar uma festa no bloco três.

— No prédio interditado?

— Lá mesmo… Vai ser uma festinha secreta, com máscaras, sem celular e com uma lista só de gente escolhida a dedo.

— Como você ficou sabendo disso?

— Eu tenho minha fontes…

Sarah o encarou por alguns segundo e levantou uma das mãos, para que ele ficasse quieto enquanto ela espiava a quadra. Alguns alunos já estavam do lado de fora. Uns se aqueciam; outros formavam um círculo de conversa. Ela voltou a olhá-lo. Ele tragava o cigarro com uma expressão de prazer e lançava a fumaça no ar. Zachary era o tipo de cara que sua mãe chamaria a polícia se o visse parado na calçada de casa. Inclusive, já tinha o feito. Ele era alto, cabelo até o ombro, olhos escuros, com um piercing de argola no lado esquerdo do lábio inferior e outro na língua, o qual ela lembra de ter brincado várias vezes durante um beijo. Zach era a personificação de tudo que sua mãe repudiava como pretendente para suas filhas. Mas ela não se importava.

— Isso quer dizer que estou nessa lista?

— Pode apostar.

Quando o professor voltou do vestiário, Sarah correu para onde os outros alunos estavam como se não tivesse parado para descansar nem por um minuto.

— Sarah… — O professor a chamou, enquanto ela fingia estar recuperando o fôlego. — Pronta para fazer parte da equipe?

— Com certeza! — Sorriu, apertando a mão que ele estendeu em sua direção.

— Ótimo! No final da aula nós conversamos melhor. A equipe vai adorar receber você. — Ele segurou o apito que estava pendurado em seu pescoço e caminhou até ficar no meio de todos os alunos. — Prestem atenção aqui! Vamos começar dando cinco voltas! Podem ir se aquecendo! Quando eu apitar vocês já sabem... — disse tirando um cronômetro do bolso e ajustando-o.

Sarah se posicionou na faixa de corrida e começou a se alongar, conforme o professor havia mandado, quando Luke parou do seu lado imitando seus movimentos.

— Não acredito! — Ela riu, parando para encará-lo.

— Pode acreditar. Uma hora eu não ia conseguir mais fugir, certo?

— O problema agora é outro. — disse ao ouvir o apito, seguido de gritos do professor. Luke rolou os olhos, enquanto Sarah saia disparada deixando-o para trás.

Ao final da aula os alunos estavam espalhados pela grama tentando recuperar as forças e o professor já começava a listar as possíveis atividades para a próxima semana, seguido de nomes das pessoas que deveriam ficar para a reunião da equipe de atletismo.

— Cinco minutos para descansar e começamos! — disse, despertando um murmúrio conjunto dos alunos.

Sarah sentou-se no gramado ao lado de Luke, oferecendo uma garrafa cheia de água.

— Valeu… — agradeceu, devolvendo-a agora pela metade. — Equipe de atletismo, hein?

— É, estou tentando coisas novas…

— Eu também.

Ela o encarou por alguns segundos. O suor escorrendo pelo rosto, as bochechas vermelhas por causa das mil voltas que deram pelo estádio, o cabelo começando a perder o corte e caindo sobre sua testa. Ele deu um sorriso torto em resposta a todo aquele contato visual prolongado. Sarah continuou séria, estava cansada demais para forçar qualquer coisa. Ter tanto contato com ele não estava sendo como imaginou. Era mais difícil do que esperava ter que sorrir e sustentar toda aquela baboseira sobre não estar magoada pela forma como ele reagiu ao beijo. Logo ela, que não conseguia esconder nada que sentia.

— Fazer tudo que a minha irmã pede não é algo novo pra você. — disse bebendo o restante da água.

— Eu tentei dizer não… se isso me faz parecer menos idiota.

O professor assoprou o apito, chamando novamente pelo nome todos que deveriam permanecer para a reunião.

— Eu preciso ir. — Levantou-se.

— Posso esperar e te dar uma carona… — Sugeriu, ficando de frente para ela. — Se você quiser.

— Eu não vou pra casa.

— Tudo bem, então... Até amanhã.

— Até.

Ela caminhou sem olhar para trás até a roda que se formava em volta do professor Smith. Todos ao seu lado prestavam atenção no que ele falava, mas a sensação era de que as palavras dele se perdiam no ar antes de chegarem nela. Seus pensamentos giravam em torno do jeito como Luke a olhou depois que ela o beijou. De como ele a afastou por estar preso a outra pessoa e de como seu coração parecia ter sido esmagado quando, no dia seguinte, sua irmã voltou para casa usando as roupas dele. Essa imagem a atormentava, fazendo sua mente percorrer lugares obscuros sobre o que poderia ter acontecido entre os dois naquela tarde.

Não Diga Que Me AmaOnde histórias criam vida. Descubra agora