A saudade é o eco daquilo que já não está mais presente, é a ausência que se faz sentir como um vazio no peito. Quando sentimos saudade, é porque algo ou alguém que amamos e perdemos nos trouxe felicidade. Por isso, a saudade machuca. Ela persiste na memória, mantendo vivo e próximo o que já não nos pertence. Mas e quando não conseguimos lembrar exatamente do que sentimos falta? Quando a saudade se torna um vazio avassalador, ocupando todo o espaço dentro de nós? De onde vem essa sensação de incompletude? Durante muito tempo, eu não soube responder a essas perguntas, mas era exatamente essa sensação que sentia a muito tempo.
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ღ꧁ღ╭⊱ꕥ Como sempre, estou atrasada. E justo hoje, véspera de Natal. Era previsível que encontraria trânsito, tentar sair da cidade na véspera de um feriado só poderia resultar nisso. Papai, Nina, Carol e Tia Vera já estavam em Poços. Foram espertos, saindo ontem à noite. Normalmente eu também saio um dia antes, mas este ano não pude devido ao trabalho. Pelo menos foi isso que contei à Tia Vera. Não era exatamente uma mentira; de fato, eu estava trabalhando, mas era mais do que isso, era algo pessoal. Não queria iludir a Tia Vera, já houve tantas falsas esperanças no passado e não queria estragar o Natal dela com mais uma. Por isso, em vez de contar a verdade, disse que tinha um furo de reportagem imperdível. Naturalmente, Tia Vera me incentivou a ir para aquela distante cidadezinha perto de Campinas, animada com o quão fascinante era o meu trabalho. "Ter a oportunidade de viajar para tantos lugares e se aventurar em novas cidades e histórias." Ela parecia nostálgica ao lembrar que há pouco tempo era ela quem fazia o mesmo.
Já avisto a entrada da cidade. É engraçado como, apesar do trânsito, do cansaço e do estresse para chegar até aqui, me sinto incrivelmente animada. Amo Poços! Sempre amei. Passei todos os Natais e finais de ano aqui, desde a infância até a vida adulta. Estaciono o carro perto do Hotel Palace e, ao sair, já consigo ver as árvores coloridas à frente. A cidade continua a mesma. Sempre adorei esta época do ano, especialmente o Natal, com enfeites por toda parte e Poços toda iluminada como sempre. É estranho, mas parece que a esperança paira pelas ruas; a felicidade é quase tangível, como se tudo fosse possível, como se todos os nossos sonhos de alguma forma pudessem se realizar. Acabo rindo de mim mesma ao caminhar até o centro da Praça. Se a Carol pudesse ouvir meus pensamentos agora, ela não acreditaria. Ela diz que sou pragmática, prática, sem emoção e sem coração. Discordo dela; o fato de nunca ter me apaixonado antes não me torna insensível. Talvez meu cérebro funcione de maneira diferente, seja mais consciente. Uma vez, Carol me perguntou sobre o amor e eu disse que era um sentimento inventado por escritores românticos para satisfazer suas próprias ilusões e egos superestimados, perpetuado por gerações em filmes, novelas e tudo mais que conhecemos hoje. Pelo menos é essa a minha teoria! Carol não sabia se ria ou chorava; sendo a rainha do sentimentalismo e dos clichês, quase teve um colapso com meu discurso nada romântico. Não me interpretem mal, mas quando falo sobre o sentimento de amor, não me refiro ao amor por pai, mãe ou filhos; refiro-me a esse amor idealizado das novelas, à fantasia de que "alguém" nasceu para você e sem essa pessoa não se pode viver. Isso é um pouco triste se pararmos para pensar é bastante frustrante.
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𝙰𝙺𝙰𝙸 𝙸𝚃𝙾 - 𝙵𝚒𝚘 𝚟𝚎𝚛𝚖𝚎𝚕𝚑𝚘 𝚍𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚝𝚒𝚗𝚘
RomancePor que Liana teme entregar seu coração? Por que Vera teve seu filho retirado de seus braços ainda recém-nascido? Será que sonhos têm a ver com vidas passadas? A existência de almas gêmeas é real? Akai Ito - Fio vermelho do destino descreve a busca...