𝙸𝚃𝙰́𝙻𝙸𝙰 - 𝙽𝙰́𝙿𝙾𝙻𝙴𝚂 - 𝟷𝟾𝟼𝟾

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ღ꧁ღ╭⊱ꕥ Estava desesperada por Angélica

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ღ꧁ღ╭⊱ꕥ Estava desesperada por Angélica. Passaram-se semanas sem vê-la, e os irmãos sempre alegavam não saber de seu paradeiro. Suspeitava que ela estivesse evitando-me. Tomei coragem para tentar novamente, perguntando-me se a havia ferido sem perceber. A última vez que nos falamos foi no dia em que tive aquela discussão com Humberto. É irônico pensar que estávamos nos tratando pelo primeiro nome. Empurrei esse pensamento para longe; precisava encontrá-la, pelo menos para tentar me explicar. Angélica tinha mencionado sua gravidez, e eu não soube reagir da maneira certa; o peso do arrependimento era avassalador. Dirigi-me à sua casa mais uma vez, e, desta vez, por sorte, a encontrei.

― Angélica! ― Gritei ao vê-la e corri em sua direção. Ela estava sentada abaixo da janela, descascando milho. ― Meu Deus! Onde você esteve, Angélica? Estava tão preocupada!

Seus olhos encontraram os meus, transbordando em lágrimas descontroladas.

― Meu Deus! O que aconteceu, Angélica?

Suas palavras se misturavam ao choro, mergulhando-me em um mar de preocupação e desespero.

― Luna! Minha querida! Mi dispiace, mi dispiace! ― Corri para confortá-la, compreendendo instantaneamente o que havia acontecido.

― Está tudo bem! Por favor, acalme-se.

― Minha bambina... Vi-a... Ela...

Já tinha entendido. O pior tinha acontecido. Senti-me culpada, deveria ter agido, impedido, mas falhei miseravelmente. Deixei-a sozinha. Conhecia seu desespero. Deveria tê-la acompanhado naquele dia. Deveria ter feito algo, qualquer coisa, mas fiquei paralisada.

― Me desculpe, Angélica. Sinto tanto.

― Serei castigada. Eu sei que serei castigada, Luna. Deus não perdoa.

― Tudo bem! Calma! Ele vai entender!

Angélica era profundamente religiosa, ao contrário de mim, cética por natureza.

― Eu não podia, Luna. Não podia. Ela sofreria. Você entende? Por favor, me diga que entende.

― Sim, eu entendo! Calma. ― Abraçando-a, tentei transmitir meu apoio.

Eu entendia tão profundamente. Para alguns, poderia parecer um ato de covardia, mas eu conhecia a angústia de acordar todos os dias com o estômago vazio, sem a menor ideia se haveria algo para comer no dia seguinte.

Quando éramos nós a passar fome, suportávamos. Mas ver alguém que você ama enfrentando a mesma provação é dilacerante, um golpe que despedaça a alma enquanto a esperança se esvai. Minha mãe fez isso por mim quando eu era criança, e agora era minha vez de retribuir. Não consigo contar quantas vezes menti, dizendo que não estava com fome, para que ela pudesse comer sem culpa, mesmo quando mal havia comida para ela. Bebíamos água ou café antes de dormir, tentando enganar o estômago vazio, fingindo que tudo estava bem.

A igreja podia julgar o que era pecado e o que não era, mas para nós, que vivíamos na penúria, era um julgamento fácil para o padre, mas uma luta constante para nós. O verdadeiro desafio era sobreviver naquela vida e, ainda assim, manter a integridade. E Angélica conseguia!

Era muito melhor do que eu. Ela nunca se perdoaria, e essa autocondenação já era um castigo suficiente. Eu sabia disso. Mesmo não concordando com suas ações, eu a entendia. Não me cabia julgá-la.

Não sabia como consolá-la, então apenas a deixei chorar; era o máximo que podia fazer naquele momento. E quando pensei que as coisas não poderiam piorar, um dos colonos me chamou.

Minha mãe estava pior.

Ao chegar em casa, percebi que as coisas sempre podiam piorar.

Sempre podiam...

𝙰𝙺𝙰𝙸 𝙸𝚃𝙾 - 𝙵𝚒𝚘 𝚟𝚎𝚛𝚖𝚎𝚕𝚑𝚘 𝚍𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚝𝚒𝚗𝚘Onde histórias criam vida. Descubra agora