𝙰𝙺𝙰𝙸 𝙸𝚃𝙾 - 𝙵𝚒𝚘 𝚟𝚎𝚛𝚖𝚎𝚕𝚑𝚘 𝚍𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚝𝚒𝚗𝚘

𝙲𝙰𝚁𝙾𝙻

ღ꧁ღ╭⊱ꕥ  Para cada um de nós, existe uma pessoa especial. Muitas vezes, existem duas, três, quatro ou mais. Todas vêm de gerações diferentes, atravessando oceanos de tempo para estar conosco novamente. Podem parecer diferentes, mas nosso coração reconhece. O reconhecimento da alma pode ser sutil e lento. O toque que nos desperta pode vir de um filho, um pai, uma mãe, um irmão, um amigo leal. Ou também pode ser da pessoa que amamos, um namorado ou um marido, que atravessa séculos para nos beijar mais uma vez.

Minha sessão com Liana havia terminado, e cada vez que a sessão terminava, eu ficava mais certa: eram os mesmos relatos, vistos de pontos de vista diferentes. Um do ponto de vista do Rodrigo, e o outro do ponto de vista da Liana.

Alcancei o gravador e comecei a gravar:

― Hoje, dia 1º de maio de 2017, às 21h30, deixo registrado no meu diário pessoal que, sem sombra de dúvida, Liana, minha paciente, é Luna. Isso foi revelado em sua regressão. Nela, ela afirmou ter tido um romance com Humberto, que a abandonou grávida.

Já Rodrigo, meu paciente, relatou, sem sombra de dúvida, ser Humberto. Isso foi revelado em sua regressão, no dia 13 de abril de 2017. Na visão dele, ele afirmou ter se apaixonado por Luna, uma camponesa, que o deixou. São os mesmos relatos, mas com pontos de vista diferentes.

No relato de Liana, Humberto a abandona. Já no relato de Rodrigo, Luna vai embora e o deixa. O que me faz pensar que o primo de Humberto, Diogo, tramou a separação dos dois.

Humberto diz que Diogo foi atrás de Luna, mas não a encontrou, informando a ele que ela havia partido em uma viagem. Inconformado e desiludido, Humberto se casou com Margarida de Sabóia, tornando-se uma pessoa extremamente amarga e infeliz. Já Liana afirma que Humberto a havia enganado e abandonado, segundo o primo de Humberto, Diogo.

Dois relatos iguais, com versões diferentes. Sem sombra de dúvida, essas duas almas se encontraram em outra vida. 

Diário encerrado!

É difícil, aqui na Terra, termos a noção clara das conexões espirituais. No plano espiritual, porém, esses sentimentos são límpidos. Durante a encarnação, o esquecimento do passado é uma limitação que nos permite exercer nosso livre-arbítrio plenamente. Quando encarnamos, esquecemos o passado e deixamos adormecidas lembranças e sentimentos profundos. Se duas almas que se amam se encontram, talvez não percebam imediatamente a importância uma da outra, mas sentirão uma empatia, uma simpatia profunda, que as atrai para a pessoa que acabaram de conhecer nesta nova vida.

O reconhecimento de um amor que transcende milênios pode ser forte e imediato. Mas, geralmente, para nos facilitar a vida, ele surge doce e suave, lento e profundo, como aconteceu com Rodrigo e Liana.

Existem também histórias como a de Vera, que voltou para um resgate. Ela, como Angélica, foi levada pelo desespero a cometer um crime contra seu próprio filho. Com a dor do arrependimento, sofreu por anos. Nesta vida, renasceu e, pelas voltas do destino, não pôde criar seu filho, que foi retirado de seus braços ainda recém-nascido. Não podemos generalizar, mas há casos como o de Vera, relatados pela espiritualidade, em que muitas vezes pedimos para passar por algum tipo de sofrimento. Sofrimentos específicos, para apaziguar nossa própria consciência. Perdoar nossos erros e nos perdoar.

Minha ética profissional me impedia de contar para Liana que Humberto era Rodrigo. Não podia interferir no livre-arbítrio dos dois.

Existem casos de almas predestinadas, que têm uma missão a cumprir juntas e, como em um encontro marcado, voltam para se encontrar e realizar uma missão que, por alguma razão, não pôde ser cumprida anteriormente. Quando essas almas se encontram, tudo pode acontecer, podendo haver a explosão de um amor não vivido em outras vidas. É fascinante imaginar duas pessoas eternamente unidas pelos laços do amor, que percorrem vida após vida, buscando uma à outra.

No fim, apesar de tudo, eles haviam se reencontrado e estavam felizes e juntos novamente.