ღ꧁ღ╭⊱ꕥ Depois do jantar, fomos para o quintal apreciar a fogueira. Hamilton e Rodrigo já tinham acendido as chamas que dançavam sob o céu noturno. Tia Vera e Helena estenderam alguns cobertores no gramado, criando um espaço aconchegante para nós. Eu dividi um cobertor com a Nina, enquanto Hamilton narrava suas histórias, lendas da cidade que sempre me fascinavam. Adormeci embalada pela sua voz suave. Quando acordei, notei que restávamos apenas eu e Rodrigo.
― Tia Vera levou a Nina? ― perguntei, levantando-me lentamente.
― Sim, elas acabaram de entrar. Posso me sentar ao seu lado? ― Rodrigo perguntou, com um tom de cautela.
― Claro ― respondi, me espreguiçando.
Olhei para as estrelas que brilhavam intensamente naquela noite. Rodrigo se acomodou ao meu lado, e juntos contemplamos o céu infinito.
― Você acredita nas coisas que a Carol diz? ― Rodrigo perguntou, quebrando o silêncio de maneira inesperada.
― Depende! Em quê exatamente?
― Almas gêmeas! Você acha que existem?
Sorri, tocada pela pergunta. Ultimamente, minha certeza em muitas coisas estava abalada.
― Para ser sincera, eu não sei. Na faculdade, eu costumava ler sobre a teoria de Platão nas aulas de filosofia.
Ele me olhou com curiosidade e um sorriso leve.
― Eu sei, parece estranho ― ri suavemente ―, mas eu gostava.
― Filosofia! Com certeza! Uma matéria maravilhosa para descansar os olhos ― disse, zombando de mim.
Eu sorri levemente.
― Mas o que Platão tem a dizer sobre isso? ― ele perguntou, interessado.
― Bom, não sei se você sabe, mas o mito da alma gêmea foi criado por Platão, em seu livro *O Banquete* ― informei, sorrindo.
― Não fazia ideia!
― No livro, ele tenta definir o que é o amor. Ele conta sobre uma festa onde os convidados tinham que elogiar Eros, o deus do amor. Um dos momentos mais fascinantes é quando Aristófanes fala. Ele faz um discurso tão belo que se tornou a teoria da alma gêmea de Platão.
― Eu nunca tinha ouvido falar sobre isso ― seus olhos brilhavam de interesse.
Eu sorri.
― Aristófanes diz que, no início dos tempos, os humanos eram seres completos, com duas cabeças, quatro pernas e quatro braços. Eles podiam se mover rapidamente de forma circular. Mas, achando-se tão perfeitos, os humanos resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, para tomar seus lugares. ― Respirei fundo antes de continuar. Rodrigo estava atento. ― Mas os deuses venceram, e Zeus decidiu castigar os humanos por sua rebeldia. Ele usou uma espada para cortá-los ao meio. Zeus pediu a Apolo que cicatrizasse o ferimento, que hoje conhecemos como umbigo, e virasse suas faces para o lado da fenda, para que eles lembrassem do poder de Zeus. Assim, os humanos assumiram a forma que temos hoje, caíram na terra novamente e, desesperados, começaram a procurar suas outras metades. Segundo Aristófanes, procuramos por nossa outra metade porque sentimos saudade. Saudade do que era nosso antes e que agora nos falta.
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𝙰𝙺𝙰𝙸 𝙸𝚃𝙾 - 𝙵𝚒𝚘 𝚟𝚎𝚛𝚖𝚎𝚕𝚑𝚘 𝚍𝚘 𝚍𝚎𝚜𝚝𝚒𝚗𝚘
RomancePor que Liana teme entregar seu coração? Por que Vera teve seu filho retirado de seus braços ainda recém-nascido? Será que sonhos têm a ver com vidas passadas? A existência de almas gêmeas é real? Akai Ito - Fio vermelho do destino descreve a busca...