O helicóptero alcançava vôo quando olhei pra trás, não devia ter olhado. O vi com um semblante vazio, como se ele tivesse perdido algo de inestimável valor. O vi de cabeça baixa, perdido em seus próprios pensamentos.
Não parecia real, ele só me deixou ir. Não me prendeu e nem falou nada. Me deixou livre. Seus olhos pareciam perdidos em um vazio sem fim, e eu me sentia do mesmo modo.
A ilha foi ficando cada vez mais longe, o imenso oceano parecia interminável, parecia infinito.
Fechei os olhos, tentando não pensar na ilha e em tudo o que aconteceu. Eu ia voltar pra minha vida, esquecer tudo. Eu manteria minha palavra de não denuciar o homem. A verdade é que ele não me machucou tanto, a maioria dos meus machucados já existia antes dele aparecer.
Peguei o pequeno caderno onde anotei os dias que fiquei ali. Arranquei a primeira folha e li.
"Tenho medo do que possa acontecer comigo, sozinha em meio a natureza com um homem que vive em seu mundo particular. É perigoso demais..."
Joguei fora e vi a folha voar pra longe.
Peguei a segunda folha e nem olhei, era doloroso. Só joguei fora e assim como a outra, ela acabou se perdendo entre o azul do céu e o azul do mar profundo.
Queria que as lembranças também se perdessem, na verdade queria esquecer daquilo tudo.Esperava acordar desse sonho a qualquer instante. Só que não era um sonho.
Quando peguei a última folha, li.
"Acabou meu sonho de ir embora. Estou trancada, sozinha e com medo. Nunca senti tanto medo em minha vida, tenho mais medo quando o vejo bem. A maldade é seu lado cru, real. Dá medo, só que não demora para ele mostrar sua fragilidade. A pior parte é se mostrar frágil, na verdade é cruel. A gente acaba querendo consolar uma pessoa triste. A verdade que isso dá o poder dessa pessoa te controlar."
Decido guardar essa última folha pra mim, como uma recordação e um lembrete.
Ao longe vejo a cidade. A civilização. Me sinto feliz por ter voltado e de estar bem. Só que existe uma parte de mim que sofre, que diz ao meu corpo que ele me traiu. Que deixei uma parte de mim para trás, que deixei lá na ilha. Naquele lugar deserto e esquecido pelo mundo.
A outra parte de mim me repreende, por estar pensando nisso. Fui sequestrada, torturada.
Não quero pensar nisso. Na verdade não devia pensar nisso.Só que eu penso nisso o tempo todo.
Estou de frente à minha casa, com minhas chaves na mão. Pego minha correspondencia e entro.Tudo parece do mesmo jeito que deixei, parece meu lar.
Sento em meu sofá e começo a olhar os e-mails, mensagens e outras coisas. Nada. Eu tinha razão, ninguém sentiu minha falta.
Pego a pilha de cartas e começo a olhar, contas, contas e mais contas. Uma carta de demissão por eu ter abandonado o trabalho e uma carta esquisita com meu nome na frente.
Abro a última e não acredito no que vejo. Era dele.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Sem Saída
Mystery / Thrillerapós ser sequestrada Dulce acorda em uma ilha deserta, sem ter como fugir vai se submeter a tudo que seu sequestrador lhe ordenar. o único problema é que ela se apaixona por quem ela deveria odiar com todas suas forças.