Parte XXII

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E lá estava eu, em frente ao quarto dele. Procurando coragem pra entrar e ver se ele ainda estava naquele estado da última visita. Eu estava cheia de problemas, não tinha dinheiro e estava devendo o aluguel da casa. Não encontrei um novo emprego e estou perdida.

Dou uma leve batida na porta e a abro, e lá está ele. Deitado como sempre, só que dessa vez vejo que está melhor.

-Dulce? -Ele pergunta. - É você mesmo ou estou sonhando?

Ele toca em meu rosto, verificando cada pedacinho dele. Depois toca em meus cabelos e dá um sorriso.

-Eu gosto dessa cor.- Ele diz.

-Eu sei.

-Você veio ficar aqui comigo? Promete que não vai me deixar?

-Você entende porque está aqui? Entende que é pro seu bem?

Ele me olha com carinho, percebo o quanto está triste e emagrecendo. Ele toca em meu braço e sorri.

-Se você está aqui é porque se importa, não é?

Não respondo, não quero falar que fui a única que o visitou ou que procurou saber dele. Que sua família não veio um dia sequer, para pelo menos ver se ele estava bem.

-Vejo que está melhor.

-Você se importa comigo Dulce?

-Me importo. É por isso que estou aqui. É por isso que não fui à polícia pra te denuciar. É por isso que acabo voltando pra te ver, eu poderia somente ir. Mas não posso deixar um pedaço meu para trás.  É por isso que estou aqui. Agora.

-Eu preciso de sua lucidez, eu preciso de alguém pra me guiar. Sozinho eu enlouqueço Dulce.

Dou um sorriso e o abraço, ele era à minha loucura, eu era sua lucidez, estávamos procurando um ao outro nesse mar de pessoas. Ele me encontrou, e do seu jeito, me fez me apaixonar por um louco.

Seus dedos roçam meu rosto, acariciando com cuidado a minha bochecha. Sinto sua respiração e ignoro minha mente mandando eu sair dali. Viro o rosto e nos encaramos por alguns segundos, a distância dos nossos lábios finalmente acaba e eu o beijo. O ritmo lento logo se transforma em um vendaval, me afasto tentando me recompor.

Ele beija minha boca e depois beija meu rosto, dá um belo sorriso e toca em meu cabelo.

-Eu sonhei com sua boca durante anos. Eu nem acredito. Acho que vou acordar a qualquer instante.

Ele me puxa e eu deito do seu lado, ele brinca com meu cabelo durante alguns minutos.

-Posso saber seu nome? -Pergunto. -Você disse que eu saberia se eu te beijasse.

-Foi por isso que me beijou? -Ele pergunta.

Eu o olho e dou um sorriso.

-Claro que não.

-Meu nome é Samuel.

Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora