Parte XXXII

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SAMUEL

Fechei meus olhos com a enxurrada de palvras que saía descontrolada da boca de Dulce. Minha cabeça estava doendo, com a droga que Eduardo tinha me dado.

Edu estava comigo à anos, era meu irmão. A única pessoa que me entendia,que me auxiliava e que sempre me mostrava o caminho. Só agora eu tinha entendido, ele me usou e usou minha ilha para matar mulheres, mulheres que ele dizia que tinham ido embora por não suportar minha loucura. Mulheres que ele sempre tinha o cuidado de me mostrar, que talvez eu podesse gostar e que eu poderia ser feliz no fim. Era tudo sobre ele, ele atraía as mulheres, e como um brinquedo ele me usava para chegar até elas. E agora minha Dulce corria perigo.

Eu não iria deixar isso acontecer.

-Temos que pegar uma faca ou algo parecido, temos que nos proteger. -Dulce repetiu.

-Vem aqui. -Chamei.

Ela veio até mim, e lhe abracei. Eu queria passar o resto da vida ali, sentindo seu cheiro suave e o calor de seu corpo. Medo encheu meu corpo, eu podia não ter a chance de lhe abraçar outra vez. Se algo der errado, se acontecer alguma coisa e se eu não conseguir mantê-la salvo. Eu não temia por mim, mas ela era tudo o que eu amava. Eu não suportava sequer a ideia de perdê-la.

-Eu te amo. -Falei.

Ela me abraçou mais forte, Dulce era uma mulher forte, sempre foi, desde que eu a vi pela primeira vez. Eu sabia que ela me odiaria com o que eu faria em seguida.

Dei um beijo nela.

Abri a porta e saí, bati a porta antes dela vir comigo. Eu não correria o risco de perdê-la, eu enfrentaria Edu e viria até ela, eu sabia que Edu estava armado, e que a mataria sem pestanejar. Tranquei a porta com a chave e coloquei em meu bolso, ela não gritou ou chorou, sabia que Edu ouviria e tudo estaria perdido.

Caminhei devagar pela casa, ouvindo qualquer barulho. Mas não tinha nada, nenhum passo ou batida, era como se eu estivesse sozinho.

Desci até a cozinha e procurei uma faca, era a única coisa que eu tinha que daria pra ser uma arma. Eu odiava armas de fogo ou qualquer outro tipo de arma, eu odiava não ter um revólver agora.

Abri a gaveta e vi duas facas lá, não eram grandes, mas dariam para matar alguém. Bile subiu até minha garganta, era a primeira vez que eu mataria alguém e eu não estava nervoso, eu não estva sequer com medo. Eu só queria proteger Dulce, e faria qualquer coisa para isso.

Segurei com força a faca e guardei a outra em meu bolso, eu só teria duas chances. Se algo desse errado? Na verdade eu não queria pensar nisso, não quando outra vida dependia de mim.

Me endireitei e saí da casa, a brisa do mar passeava por meu cabelo e lambia meu rosto. Escondi a faca em minhas costas e Caminhei até onde Dulce tinha me falado, o barco estava lá, mas não Edu.

Ele poderia estar em qualquer lugar, inclusive dentro de casa, na porta do quarto de Dulce. Corri até a casa, mas antes de chegar lá, vi uma figura em pé, com uma arma na mão.  Eduardo estava lá, balançando a cabeça, e com raiva estampada em seus olhos, apertei a faca em minha mão, ele olhou com curiosidade pro objeto e sorriu. Percebi uma linha de sangue, que manchava seu rosto.

-Só me dê ela Samuel. E poderemos ser felizes. -Ele falou.

-Só por cima do meu cadáver.  -Falei com raiva.

-Samuel eu não quero te matar, eu te amo. Eu só queria que não existisse nada para me atrapalhar.

Eduardo era gay, isso era óbvio, só que eu não era, e não deixaria ele acabar com Dulce por isso.

-Eduardo abaixa essa arma. -Falei.

-Você nunca se importou. -Ele gritou. -Eu sempre estive aqui por você. Eu sempre te ajudava e você nunca retribuiu.  Você nunca devolveu o amor que lhe dei. Nem migalhas você jogou pra mim.

-Eduardo podemos resolver isso.

-Não. Eu vou te matar e matar Dulce. Assim vocês podem viver esse amor.

Ele tremia e me lançava olhares de raiva, dei um passo e ele atirou na areia.

-Não se mova Samuel, eu não estou brincando. -Ele gritou.

-Por favor. -Falei baixinho.

-Jogue a faca no chão. -Ele falou.

Obedeci e joguei a faca longe de mim, ele se aproximou com a arma em minha direção.

-Eu teria te feito feliz. -Ele falou e colocou a arma em minha cabeça. -Agora você vai morrer.

Tirei a faca do meu bolso e enfiei em seu peito, ele agarrou meu ombro e ouvi o tiro. Caímos no chão, olhei pra ele e  vi que estava se debatendo, senti a dor tardia e olhei para minha barriga. Jorrava sangue, ele havia atirado em mim. Tentei me mexer, mas não consegui.

Olhei uma ultima vez pra Eduardo, ele estava sorrindo, minha visão estava escurecendo e eu pensei em Dulce.  Eu morreria sem dizer que a amava e sem tocar em seus lábios outra vez, vi uma sombra e olhei pro lado, e lá estava Dulce chorando e falando algo que eu não compreendia.

Minha barriga queimava em todos os lugares e eu não podia me mexer, ouvi dois tiros e alguém falando que ia ficar tudo bem. Eu jurava que a voz era de Dulce.

A escuridão tomou meu corpo e minha visão, só me deixei ir, tudo tinha acabado pra mim.

Eu estava morrendo, e não sentia medo.


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