Parte XXIII

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Já fazia mais ou menos um mês que o Samuel estava internado na clínica. Esses dias eu passei ao seu lado, dando apoio já que sua própria família não fez. Embora estivesse feliz por está ajudando ele com seus problemas, eu também tinha os meus.

Faltava pouco pra eu perder a casa e eu ainda não tinha encontrado outro emprego. As coisas estavam ficando cada vez mais feias.

Foi naquele dia enquanto fui fazer uma das minhas visitas diárias, eu vi que mais pessoas foram lhe visitar. Tinha um homem já idoso com cara de poucos amigos, e uma mulher que aparentava uns 25 anos.

Observei quando estavam saindo do quarto de Samuel. Depois foi minha vez de visitá-lo. Ele estava pensativo, e triste.

-Quem eram àquelas pessoas Samuel?  -Perguntei.

-Meu pai e minha irmã.  -Ele respondeu aéreo.

-E o que eles queriam aqui? Porque depois de todo esse tempo? -Minhas palavras sairam atropeladas na ânsia de saber o que estava de fato, acontecendo.

- Eles querem me levar embora. Querem que eu volte pra minha cidade natal.

Meu coração palpitou, não era justo depois de tudo o que aconteceu, eu estava ali por ele. Mesmo minha mente berrando a todo instante pra me afastar, eu queria está ali. E agora eles queriam tirá-lo de mim, arrancar um pouco da loucura dos últimos meses. Eles estavam tirando minha razão para continuar existindo.

-E você vai? - Foi a única coisa que consegui perguntar.

-Eu não sei o que fazer, eles tem um documento, onde diz que eles podem decidir tudo no meu nome. Que eu não sou clinicamente capaz de tomar decisões sozinho. Que minha loucura, não me deixa viver sozinho.

-Então, você vai?

-Dulce, faz um bom tempo que eu não estou tomando os remédios daqui. Eu não posso ficar vulnerável, entende? -Ele perguntou tocando meu rosto.

-Você não está tomando os remédios?  Você está louco? -Gritei.

-Xiiii. -Ele falou abafando minha voz com um beijo. Ele se afastou um pouco, enquanto eu tomava um pouco de ar.

-Samuel, os remédios são para seu bem. Você vai ter que toma-los, querendo ou não.

-Eu vou sair daqui. Vou fugir e você vem comigo.-Ele disse, como se já estivesse planejando isso à muito tempo.

-Você não entende. Isso é loucura, Samuel.

-É loucura querer fugir da dor? Querer ficar em paz?  Eu sou louco mesmo Dulce, pensei que isso não te incomodava. Mas estava enganado.

Respirei fundo, não queria gritar.

-Isso não me icomoda, mas se você pode melhorar, porque fugir? -Lhe pergunto.

O infermeiro veio avisar que só restava alguns minutos, para o fim da visita. Quando ele saiu, dei mais um beijo em Samuel.

-Fica aqui esta noite?  -Ele pergunta. -Vamos fugir juntos.

-Ficar aqui? Tá doido Samuel?

-Escute, venha aqui pra frente da clínica, lá pelas 10 da noite. É quando os guardas trocam de turno, o portão fica sem ninguém por alguns minutos.  Aí você entra.

-Você tá louco?

-Eu sempre fui louco. Só vem. Vou está te esperando.

A visita tinha acabado, fui pra casa e a idéia de Samuel estava fazendo um pouco de sentido na minha cabeça. Daria certo fugir dali? Mas como? Decidi arrumar algumas coisas minhas e fiz uma mala. Peguei a chave da casa de samuel e fui até lá.

Subi a escada e fui direto pro cômodo que tinha móveis naquela casa, que no caso era seu quarto. Abri o guarda roupa e peguei um monte de roupas dele,  enfiei em uma mala e fui pegando o que achei necessário.  Foi no meio de toda àquela bagunça que notei um pequeno caderno.

Peguei o caderno e dei uma olhada, não tinha nome nem nada. Olhei a primeira página e vi recortes de jornais de variados crimes, onde os criminosos alegavam estarem loucos. Fui olhando mais e mais recortes de jornais em todos os idiomas que eu conhecia. Louco comete crime. Serial killer aterroriza escola. Homem mata esposa. Todos os crimes com pessoas clinicamentes instáveis. Com loucos.

Eu não sabia o que pensar, ele adorava àquelas pessoas. Ou ele fingia ser uma delas? Guardei o caderno comigo, agora era tarde demais pra tentar desvendar àquele homem. O que ele pensava ou fantasiava, me dava medo, mas estava tão envolvida com ele que eu tinha medo da verdade. Tinha medo de descobrir o porque ele era daquele jeito e o porque dele não querer mudar. Eu tava tão envolvida que eu tinha medo, de não me importar com quem ele foi ou o que ele fazia antes de aparecer na minha vida. Eu tinha medo de no fundo, acabar não me importando com nada disso.


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