Sem Saída

Parte XXI

Capítulo Especial

Eu nunca aceitei minha loucura, achava que se fugisse pelo mundo, ela não viria comigo. Estava enganado, a loucura me perseguiu e eu não pude afastá-la. Como afastar algo que faz parte de quem você é? Como arrancar esse pedaço maldido, que está instalado em minha mente?

Fazia um mês que eu estava internado, eu via Dulce com certa frequência. As vezes penso que é tudo minha imaginação. 

Chega um enfermeiro e me oferece um comprimido com um pouco de água, finjo que engulo e dou um sorriso. Ele se vai e eu pego o comprimido na mão, àquilo estava me deixando pior. Jogo fora como os outros comprimidos da semana, imagino se Dulce virá hoje. Quero dizer a ela que não desista de nós, que não desista de mim. Eu preciso dela, pela primeira vez na vida, eu não quero fugir da minha insanidade. Pela primeira vez em muito tempo, eu não tenho medo do futuro. Eu não tenho medo de encarar o mundo.

Pode ser apenas minha imaginação, como sempre foi.

Levanto da cama e vou até a janela, olho pra baixo.  É meio estranho ver tantas pessoas loucas juntas. Cada um em seu mundo diferente. É poético.

Escuto uma batida na porta, e ela está lá, minha Dulce, seu cabelo vermelho é a unica coisa que brilha naquele quarto branco e sem graça. Ela dá um sorriso e vem em minha direção, me abraça e eu sorrio.

Ela é tão linda, feições suaves e pequenas sardas no canto dos olhos. Uma boca carnuda e tão vermelha como o tom de suas madeixas. Penso em como tenho sorte de tê-la ao meu lado.

Sento na cama e ela me acompanha, calada. Sinto que devo um pedido de desculpas por tudo. Toco em seu rosto e ela esbanja um sorriso.

-Queria te pedir desculpas. -Digo envergonhado.

Ela me olha com confusão, talvez não estivesse entendendo o que eu queria dizer, então continuei:

-Desculpa por... -Seus dedos tocaram minha boca, e seu rosto se aproximou do meu. No segundo que nossas bocas se tocaram, sua imagem desapareceu de meus braços.

-O quê?  -Não entendia o que tinha acontecido.

Era só minha mente perversa me pregando peças, talvez eu deveria ter tomado aquele comprimido. Caio deitado no colchão e olho pro teto. Era pedir demais que fosse real?

Talvez eu tivesse sorte e a Dulce real aparecesse hoje.