Parte XIV

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Tentei voltar à minha rotina normal, a casa parecia silenciosa demais, o que me fazia trazer as lembranças à tona. Eu não conseguia esquecer a tristeza de seu rosto, nem a tristeza de suas palavras. Eu deveria estar feliz, de ter saído da ilha, de ter fugido daquele hospício à céu aberto.

Eu não estava feliz, sabia que no fundo àquele homem precisava de ajuda. Precisava urgentemente de alguém pra salvá-lo, ou ele poderia simplesmente roubar outra garota, obrigá-la a ficar com ele.

Eu sempre vivi pela razão, me falaram que meu namorado me traía, e eu não acreditei. Então, recebi uma carta me indicando o local que o filho da puta levava as mulheres. Pensando bem, parecia a mesma letra, não era possível, era?

Corri pro quarto e procurei àquele bilhete, tirei as gavetas e despejei o conteúdo no chão. Em meio a tantos papéis, lá estava o bilhete. As letras eram perfeitas demais, para ser apenas uma coincidência. Ele havia me avisado, me mostrado o lugar das traições. Não foi só uma, foi várias. Li o bilhete novamente, tentando encontrar alguma pista, de que ele já estava planejando me sequestrar.

''Seu namorado te traí. Faz um ano que ele sai com várias garotas, queria ter te contado antes. Tive medo de te magoar. Agora sei que você vai se magoar muito mais, se não souber. O endereço se encontra abaixo, ele está lá nesse momento.

                           Um Amigo.''

Ele me vigiava. Só poderia ser isso. Olhei pela janela e notei que existia apenas uma casa que tinha vista pro meu quarto, que poderia ver tudo o que eu fazia.Uma casa que eu nunca havia notado que tinha moradores, às luzes sempre apagadas. Era estranho, mas estava aos poucos se encaixando. Ele deve ter feito tudo naquela casa, me vigiado, tirado fotos, esperado pacientemente o momento certo. Cada vez que eu pensava sobre isso, se tornava mais doentio.

Ele me mandou o bilhete, esperando que eu acabasse tudo com meu ex, e assim quase ninguém notar que eu sumi. Era um plano bom, e ele conseguiu tudo. E eu me sentia burra, pensando que o cara era doente. Ele é um psicopata isso sim, esperou paciente até que eu estivesse fragilizada e bêbada. Para me arrancar da minha vida, esperando que eu o amasse. Esperando que eu estivesse disposta a ficar na ilha, e fazê-lo feliz.

Eu fiquei com pena dele, achando que ele merecia ser amado. Ele merecia ir pra prisão isso sim. Eu sentia raiva e carinho ao mesmo tempo, meus sentimentos entravam em contradição de dez em dez minutos. Sentei em minha cama, o que estava havendo comigo?

Eu parecia tão louca quanto ele.

Sem SaídaOnde histórias criam vida. Descubra agora