Sem Saída

Parte XXVIII

Loucura ou fingimento?

Eu olhava pra Samuel e não sabia de fato o que lhe responder, ele me deixou sozinha e do nada pede pra casar comigo. Eu não aguentava mais toda essa loucura vindo dele, queria lhe entender, mas como fazer isso se ele me afastava sempre. Ele me empurrava do abismo, mas no último segundo me segurava pra eu não cair. Era um círculo infinito de loucura e sanidade do qual eu estava começando a me aborrecer.

-Você não vai responder Dulce? -Ele pegou minha mão e beijou, depois colocou o anel delicadamente.

-Porque você é assim? -Perguntei. -Você me deixou sozinha a maior parte do tempo. Eu fingi que você estava do meu lado, enquanto você estava trancado em seu quarto fazendo sabe-se lá o quê. Você simplesmente me abandona aqui e eu tento te entender do jeito que posso. Depois você aparece e finge que está tudo bem, mesmo não estando. E ainda espera que eu aceite esse pedido de casamento do nada? Cadê você quando precisei? Porque estava trancado em seu quarto?

-Dulce eu sou louco, te disse que não seria fácil,  te falei que haveria dias em que eu iria simplesmente me afastar pra não te fazer mal. Eu estou aqui agora,  isso não te basta? Eu tentei ser o melhor, te dar o melhor. E pra isso tenho que me afastar. Não quero te ver sofrer.

-Você está me fazendo sofrer Samuel. -Falei e nadei para a praia.

Ele veio atrás de mim e me agarrou por trás. Ele me abraçou tão forte que tive medo de quebrar ali mesmo, quebrar por dentro.

-Me perdoe Dulce. Meu amor por você me faz me afastar, quando acho que posso te ferir de alguma forma. Você falou que me ajudaria não foi?

-Eu não posso te ajudar Samuel, pensei que o amor te ajudaria, mas não dá pra amar por nós dois. Eu vou embora. Isso vai te fazer bem, não se preocupar com ninguém.  Estando sozinho você não vai machucar ninguém com seus momentos de insanidade.

-Você não vai embora Dulce, nós vamos nos casar e viver felizes para sempre como nos livros que você adora ler.

-Isso não é um livro Samuel.

Ele agarrou minha mão com muita força.

-Você não vai embora Dulce,  não vai me abandonar de novo. -Ele gritou.

-Você está me machucando. Me solta. -Gritei com lágrimas nos olhos.

-Você acha que pode fazer isso comigo?  Vir até aqui e me fazer lembrar de tudo o que passei. Eu só quero ser amado Dulce.  E você vai me amar de qualquer jeito, você não vai me abandonar como todos os outros. Você é minha Dulce, você sempre foi.

-Me solta Samuel.

Ele começou a me arrastar até a casa e me trancou em seu quarto. Ficou andando de um lado para o outro, feito louco. Olhei ao redor e estava tudo dessarumado e sujo. Ele parecia nervoso demais, para quem estava exalando calmaria alguns minutos atrás.

-Porque você me obrigou a isso Dulce? Não poderia só aceitar o pedido. Seríamos felizes. Mas você não aceitou.

Ele me olhou sombrio.

-Samuel, por favor vamos conversar. -Falei com medo.

-Eu te amo Dulce. -Ele falou e tocou em meu rosto, instintivamente me afastei do seu toque.

-Você está com medo de mim Dulce? Eu te amo. Não vou te fazer mal.

Eu tinha algumas dúvidas sobre isso.

Eu sentei na cama, e ele se ajoelhou no chão, colocando sua cabeça em meu colo e começou a chorar. Eu fiquei parada ali sem reação, ele sempre fazia isso comigo e meu coração se abria novamente me fazendo esquecer tudo àquilo. Eu o amava demais, mas será que esse amor era o bastante? Será que o amor pode andar lado a lado com a loucura e se manter intacto?

-Casa comigo Dulce? -Ele pediu novamente em meio às lágrimas.