PRÓLOGO

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Começa mais um dia monótono, do qual até mesmo o tédio se torna tedioso, e isso a minha vida vem exibindo desde que sair de casa e comecei a morar em outra cidade, uma da qual eu nunca havia colocado os pés dentro. Eu nem me lembro de quantos anos se passaram desde que voltei para minha cidade, cinco? Seis? Não faço ideia, e quanto menos eu souber, melhor.

Tem algo que eu nunca me esqueço e sou obrigado a relembrar todas as noites, quando o sono mais profundo chega é quando o meu inferno começa.

No dia do meu aniversário de 10 anos eu ganhei uma festa surpresa dos meus amigos e dos meus pais, no começo aquele estava sendo o melhor dia da minha vida; abraços, presentes, doces e sorrisos. Numa mesa separada estava eu e minha turma, ao meu lado estava um menino, e eu tinha a plena consciência de que eu gostava dele, não era para menos, já que ele era o meu defensor, aquele que sempre me apoiava. Mas eu não tive a consciência de que gostar de um garoto era um imenso tabu, mas naquela noite eu aprendi da pior maneira.

Depois dos parabéns todos nós fomos para o meu quarto no intuito de jogar vídeo game, e um por um, meus colegas foram indo embora, até sobrar somente eu e meu amor. Lembro de como meu coração pulsava ao vê-lo ou de toda vez que trocávamos conversas paralelas. Era tudo tão infantil e tão puro... tão bonito, e tudo o que é belo as pessoas querem quebrar.

Eu estava determinado, eu estava animado e acima de tudo, feliz. Eu era uma criança.

Expectativas de mais...

Sentados em um tapete em cima do chão, com um sorriso eu o olhava nos olhos enquanto ele estava vidrado na tv. Eu lembro de seus traços, e cada pedacinho do seu rosto era adorável.

Eu o beijei.

Nossos lábios se tocaram por incríveis dois segundos. Minha vida também ficou incrível, incrivelmente fodida.

Nossos pais estavam na porta para nos lembrar que a madrugada se fazia presente e teríamos que nos despedir. Meu pai escancarou a porta com a pretensão de arrombá-la, mesmo estando aberta. O barulho da porta contra a parede foi tão alto que minha mãe apareceu junto com convidados restantes, com a curiosidade e a preocupação em seus olhos. Meu pai bufava de raiva ao me encarar, e pelo medo, meu amor correu para os braços de sua mãe, e aquela mesma mulher de pele negra e corpo esbelto, me chamou das maiores atrocidades.

Meus olhos já transbordavam de medo ao ver meu pai, e quando as palavras afiadas saíram de ambas as bocas, eu já soluçava.

Fui agarrado pelo pulso e as mãos enormes do meu pai apertavam a cada segundo mais forte. Fui jogado no gramado sujo do quintal, diante de uma plateia que me olhava com nojo, diante de uma mãe que não mostrava desespero, apenas decepção. E diante de todos, eu fui espancado a ponta pés e socos. Quando a sessão finalmente parou, meu corpo latejava em uma dor dilacerante, meu rosto manchado de lágrimas e sangue e meu corpo tremia com o frio que aquela madrugada cruel me propôs.

Eu era apenas uma criança.

Foi assim até os meus 16 anos, onde o meu progenitor morreu em um assalto a mão armada, e por mais 5 anos, onde eu sobrevivia graças aos remédios e a psicologia, e graças a um senhor, que sentiu pena de mim, porque ele me bancou, e nas horas vagas era ele quem ocupava um lugar especial, um lugar onde minha mãe que deveria ocupar. Ele foi mais do que o meu herói.

Mas nessa noite foi diferente, eu não revivi aqueles malditos anos. Não sei se fico feliz, ou preocupado. Normalmente os meus pesadelos não cessam. Além do mais, eles são os meus demônios, e demônios nunca dormem.

Nicholas

Adorável AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora