CAPÍTULO 36

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Gabriel P.V

Eu me conhecia melhor do que ninguém, mas atualmente eu não acho que ainda seja assim.

Passei três dias dentro de um quarto de um hotel com o Nicholas, porque eu não estou ansioso para nada disso, muito pelo contrário, eu me sinto doente. Mas Nicholas sempre percebe antes que eu mesmo possa captar, porque é como se ele pudesse ver o inferno através de mim.

Eu não sei se eu realmente quero ir até lá, até onde os restos dela se encontram, porque isso ainda é estranho e doloroso, ainda é inacreditável e sem sentido, mas eu sei que preciso. Eu não quero estar fraco e atrapalhar o Nicholas, e não quero ser incapaz e saber que ela vai estar presenciando a minha insuficiência.

Era a nossa regra – nunca ser fraco –, mas no fim, eu fui, e ainda sou, e não quero continuar sendo.

Eu estou esperando o Nicholas á duas horas na frente do hotel, porque ele iria alugar um carro depois de ter descoberto o endereço dos meus avós. Eu estou impaciente, com raiva e com enjoou, porque eu estou pensando seriamente em voltar para casa depois de tudo.

E droga... Eu também estou nervoso, porque ele vai junto comigo, e isso também quer dizer que ele vai conhecer os meus avós ao meu lado, e querendo ou não, isso mexe com a minha mente de um modo que me bagunça.

— Gabriel? — Ouço a voz do Nicholas e levanto a minha cabeça, olhando para sua imagem encostada em um Mustang preto, e pensando bem, surpreendentemente combina com ele.

Ele é elegante até mesmo sem perceber, incrível. 

— Fastback 1967? Você até que tem bom gosto. — Comento baixo, me aproximando um pouco dele e parando em sua frente. — E você realmente demorou, idiota... — Murmuro, o vendo sorrir.

Faz um tempo que eu havia percebido, mas o modo que seu sorriso se estende também já não é o mesmo, pelo menos não quando o seu sorriso é direcionado a mim.

— Eu deveria ter feito antes. — Diz, me pegando devagar pelo meu pulso e me puxando para ele, deixando nossos corpos à meros centímetros. — Você está sério sobre isso? — Pergunta, me encarando sem se importar com as pessoas que transitam na calçada.

Eu encaro os seus olhos, pensando que se eu disser algo minha voz embargaria e denunciaria minha inutilidade diante esse momento. Porque eu na verdade nem sei o que fazer.

—Ei. – Ele me chama, e de repente eu percebo que minha atenção havia fugido para qualquer outro canto que não fosse ele, e quando o olho novamente, sinto seus dedos passearem entre os fios do meu cabelo, devagar. — Não precisamos fazer isso se você não quiser fazer.

— Eu sei, é só que... — Quando desvio o olhar por alguns segundos, vejo dois caras enormes nos encarando como se fôssemos duas espécimes raras no meio de humanos.

O estranho é que eu não me sinto incomodado por estar em público, só confuso do porquê nos olham como duas aberrações. Mas inferno, eu também não sou burro.

— Gabriel?

— Eu vou bater naqueles dois filhos da puta... — Declaro, encarando os brutamontes que também nos encaram escorados num porte.

— O quê? — Nicholas pergunta, confuso. Quando ele percebe para onde eu estou olhando, ele se vira e olha para os dois caras à alguns metros de distância de nós. — Não vale à pena. Eu gosto das suas mãos.

— Como você pode continuar indiferente vendo aqueles imbecis nos encarando como dois animais?! — Pergunto com uma raiva que cresce de repente, me afastando dele e jogando a bolsa com roupas em sua direção com força.

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