Uma lição de amor

1- Sorriso sincero

Eu gostava de olha-la porque ela nunca sabia como reagir. Ela ficava nervosa, e disfarçar não era bem o forte dela...
Seu nome era Jennifer, tinha o cabelo escuro, quase na altura do ombro, seu sorriso era lindo, e ficava mais lindo ainda quando estava tímida. 
Ela nem era do tipo tímida... Na verdade, eu nunca vi ninguém deixa-la assim... Ninguém além de mim...
Era o quarto período, havíamos acabado de voltar do intervalo, todos estavam eufóricos, não paravam de falar um minuto.
Jennifer estava na porta segurando alguns livros e um mapa. Ela deu uma boa olhada para mim, que retribui na mesma intensidade até que ela abaixou a cabeça e entrou na sala.
—Quer ajuda professora? – Uma garota ruivinha perguntou já se levantando e indo ate Jennifer.
—Obrigada Nat – Ela sorriu para a garota, entregando alguns livros para que ela pudesse levar.
Jennifer era a nova professora de geografia, ou quase isso... Na verdade eu que era a aluna nova (ou quase isso). Estudei a minha vida toda naquela escola, mas depois de um incidente que aconteceu no segundo prédio da escola, eu fui transferida para o primeiro, que ficava bem mais perto da diretoria. Eles queriam ficar de olho em mim para ter certeza de que eu não aprontaria mais nada enquanto estudasse lá. 
Como me mudaram de prédio, alguns dos meus professores também mudaram. Inclusive a minha professora de geografia. Confesso que foi um alívio me livrar da Eliane, nunca entendia nada que aquela mulher falava. Se eu odiava geografia, a culpa era exclusivamente dela.
—Galera, hoje só temos uma aula, então por favor... Colaborem comigo – Jennifer passou distribuindo os livros pela sala – Da pagina 232 até a pagina 240.
Ate pensei em fazer as atividades, juro, mas ao abrir o livro nas paginas solicitadas e ver o numero questões tinham ali, toda a minha coragem foi embora...
—Para quem esta pensando em usar o livro como travesseiro para tirar um cochilo, já aviso que vai valer nota, não só para geografia, mas para português também, interpretação de texto...
Eu não precisava de nota em português, estava tranquila quanto a isso. Mas em geografia... graças a Eliane eu não tinha uma nota.
—Faltam quarenta minutos para acabar a aula, são mais de 20 questões e os textos são enormes... – Pela primeira vez me pronunciei naquela sala.
—Acha que não dá? – Ela mexia com um papel em suas mãos sem olhar para mim.
—Eu não acho, eu tenho certeza. 
Ela fechou os olhos por um momento e só então levantou a cabeça para me olhar.
—E o que sugere Jully? – Eu não tinha certeza se ela sabia meu nome, até aquele momento. Mas depois do que eu fiz, não me surpreendia com os professores sabendo quem eu era.
—Eu recolho as atividades e te entrego no final do sexto período, antes de ir embora, assim temos mais tempo. 
—Tudo bem então... Quando terminarem as atividades entreguem para a Jully. – Ela se sentou em sua pesa e eu comecei a ler. Ou pelo menos tentar...
Por sorte, metade das perguntas eram matéria dada pela Jennifer, então eu tive mais facilidade em responder, Mas as outras... eu sofri um pouco para achar algo referente no texto que pudesse me ajudar.
Quando terminei e pude levantar a cabeça para olhar ao redor, vi todos guardando o material. A hora passou tão rápida que eu nem se quer percebi.
—É Jully né? – A ruivinha que havia ajudado a professora hoje mais cedo se aproximou de mim com várias folhas na mão.
—É... E você é a...? – Eu realmente não lembrava o nome dela. Nunca fui boa com essas coisas.
—Nat, meu nome é Nat... Bom.. Eu só queria te falar que não precisa se preocupar com as atividades, eu entrego para a professora.
—Obrigada por recolher para mim, mas, eu combinei que eu levaria, então eu mesma vou levar
—Por favor... Deixa eu levar... – Ela mudou a expressão, parecia implorar e eu realmente não entendi o porque 
—Desculpa Nat... Quem sabe na próxima – Peguei a folhas da mão dela e coloquei a mochila nas costas.
Ao sair no corredor vi dois garotos, gêmeos idênticos, acompanhados de uma garota baixinha de cabelo curto.
—Olha ela... – A garota disse vindo ao meu encontro
—Tenho que fazer uma coisa, vejo vocês depois – Passei reto pelo três.
Eles eram meus amigos do segundo prédio, já estavam acostumados com esse meu jeito meio rude, principalmente quando eu estava com pressa.
Karen, a garota de cabelo curto, apenas revirou os olhos e saiu puxando os gêmeos para fora da escola.
Eu fiquei por lá, andei a escola inteira, fui em cada cantinho atrás da professora, mas ela parecia ter sido abduzida por aliens, porque ninguém sabia onde ela estava. Resolvi então ir embora. E ao sair a avistei encostada no carro.
—Te procurei por toda a escola – Disse ao me aproximar 
—Achei que se eu ficasse aqui fora seria mais fácil para você me achar...
—Na próxima a gente marca certinho, ok? – Estendi a mão comas atividades
—Obrigada – Ela pegou as folhas da minha mão – Você perdeu o ônibus... – Comentou
—Não tem problema
—Onde você mora? – Pareceu curiosa
—Perto do portal da cidade
—Meio longe... – Ela desligou o alarme do carro – Entra aí, eu te levo
—Você não mora no sentindo oposto? – Estranhei
—É... Mas você perdeu o ônibus por minha causa...
—Relaxa... Daqui a pouco vou ter que entrar pra trabalhar mesmo, já fico por aqui.
—Não vou deixar você ir trabalhar sem nem ter almoçado
—Ta me chamando pra almoçar? 
—Ah... Eu... – Ela corou sem saber o que dizer
—Eu tô brincando – Tentei acalma-la – Mas tem uma barraquinha na praça que faz um cachorro quente incrível... – Sugeri
—Cachorro quente? – Repetiu me olhando
—Que foi? Não é romântico o suficiente pra você? – Ela abaixou a cabeça corando novamente – É brincadeira – Eu ri tentando fazer com que ela se sentisse mais o confortável possível – Vem, prometo que não vou te morder, não muito forte...
Ela me respondeu com um sorriso e me seguiu até a praça onde pegamos o lanche e sentamos na grama.
—Então professora... – Tentei puxar assunto enquanto comia
—Jenny – Corrigiu-me –Aqui fora pode me chamar de Jenny
—Esta me dando muita liberdade... – Comentei – Vou acabar abusando... – Brinquei deixando-a sem jeito de novo.
Ela tentava disfarçar mexendo nas folhas.
—Por favor... Me diz que você não vai corrigir as atividade agora
—Eu não vou corrigir as atividades agora. – Continuou mexendo nas folhas – Eu vou corrigir a sua atividade agora – Ela pegou a minha folha e começou a ler
—Professores... – Murmurei deitando na grama
—Você é boa em interpretação... – Comentou com uma expressão surpresa
—Eu sei que sou
—Modesta você... – Ela finalmente olhou para mim
—Muito modesta –Entrei na brincadeira 
—Porque mudou de prédio? – Ela parecia curiosa
—Ninguém te contou? – Me surpreendi, achei que todos já estavam sabendo o que eu havia aprontado.
—Tentaram me contar... mas eu não estava muito interessada em ouvir... – Admitiu 
—O que te falaram?
—Falaram que você me deixaria louca... Que não faria nada nas minhas aulas...
—Bom... Ainda não tive a chance de te deixar louca... – Me aproximei um pouco mais dela – E acho que te provei que faço as coisas na sua aula...
—Você não fazia com a antiga professora...
—Ela não prendia a minha atenção...
—E eu prendi? – Ela arqueou a sobrancelha
—Eu estou aqui, não estou?
Ela abaixou a cabeça com um sorriso no rosto, seu sorriso era o mais bonito que eu já havia visto, nem se comparava com os outro... O sorriso dela era simplesmente sincero