2- Perder uma horinha com você

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Ela ficava olhando para as nuvens, tenho quase certeza que era para não me encarar, ela sabia que eu estava a observando e isso a deixava nervosa.

— Você disse que ia trabalhar... – Ela respirou fundo e só então me olhou – Que horas entra?

—As 13...

—Meu Deus... Você esta atrasada... – Ela se levantou limpando a calça – Fiz você perder o ônibus e se atrasar pro trabalho, que tipo de professora eu sou?

—Do tipo que eu gosto... – Levantei pegando minha mochila

—Do tipo que você gosta? – Ela arqueou a sobrancelha enquanto me encarava

—Sabe... – Abaixei a cabeça desviando de seu olhar – Eu não me importaria em perder uma horinha com você... – Dei uma boa olhada em seu corpo e então levantei a cabeça para olhar em seus olhos.

Ela estava imóvel, acredito que tenha parado de respirar por um minuto.

—Acho que te deixei sem fala... – Comentei me aproximando cada vez mais dela

—Eu nunca fico sem fala – Respondeu firme ao se afastar de mim

—Nunca, é? – Apenas sorri e sai andando – Você não vem?

—Pra onde? –Ela perguntou já me alcançando

—Tenho que ir trabalhar, lembra?

—Posso pegar o carro e te dar uma carona... – Sugeriu – Onde trabalha?

—Não precisa me dar carona... – Paramos em frente a escola onde o carro estava estacionado

—E apenas um dia, você já se negou a entrar no meu carro duas vezes... – Comentou encostando em seu carro – Pode ficar tranquila... eu não mordo

—Não morde? – Dei dois paços em sua direção – Que pena... – Minha voz saiu rouca e a respiração dela começou a ficar pesada – Não é que eu não queira entrar no seu carro, vai por mim... eu quero – Confesso num sussurro a fazendo engolir em seco – Só não teria muito sentido essa carona, já que eu trabalho aqui... – Dou dois passos para trás me afastando dela como se nada tivesse acontecido.

—Aqui? – Perguntou tentando parecer o mais natural possível

—Biblioteca da escola... – Contei

—Biblioteca? – Ela arqueou a sobrancelha – É uma leitora assídua?

—Eu sou uma trabalhadora atrasada...

—E eu só estou te atrasando mais... desculpe...

—Não precisa se desculpar. Já disse, eu não me importaria de...

—Perder uma horinha comigo... – Ela completou a frase me causando um arrepio inexplicável

—Exato... – Respondi com a voz fraca

O telefone dela começou a tocar. Ela olhou para a tela e depois para mim, pude ver que ela desligaria a ligação

—Pode atender... Eu já vou indo... – apenas dei as costas e sai andando – Até amanhã, professora

Ela não me respondeu, apenas atendeu o telefone e eu entrei na escola.

Me esquivei pelos corredores, evitando as câmeras e qualquer pessoa que pudesse me dar uma bronca pelo atraso.

Cheguei em segurança até a biblioteca, que pra variar estava vazia...

Ninguém ia para a biblioteca da escola além dos que queriam matar aula e se drogar. Eu mesma só estava lá porque trabalhava ali.

Uma lição de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora