5- Abusada

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Saímos as duas correndo para a cozinha. A lasanha realmente havia queimado, então Jenny resolveu reconsiderar meu convite para o cachorro quente, mas eu já não o queria tanto.

— Não quero ir para praça, aqui está gostoso... – Justifiquei fazendo um bico infantil.

— Fala isso pra lasanha queimada!

— Fica quieta, vai, eu vou cozinhar pra gente! – Me ofereci.

— Devo pegar o extintor?

— Deve pegar o macarrão e o molho!

— É serio?

— É! – Cruzei os braços mas em seguida fui procurar uma panela.

Ela sussurrou um ´´Ok'' e então foi pegar os ingredientes para que eu pudesse fazer algo para comermos.

O macarrão ficou pronto bem rápido, o que demorou mesmo foi o molho.

— Jenny, vem experimentar isso aqui. – Chamei-a, e logo ela estava atrás de mim com as mãos em minha cintura, não sei explicar direito, mas toda vez que ela me tocava uma corrente de energia passava por meu corpo e meu coração disparava. – Esta quente. – Avisei, já levando a colher até seus lábios, deixando-a provar o molho.

— Esta ótimo, já pode tirar do fogo.

Assim o fiz, levei a panela para a mesa e me sentei juntamente com Jenny que ao sentar-se olhou para a mesa procurando por algo.

— Esqueci a batata palha. – Disse já se levantando e indo até o armário.

— Batata palha com macarrão? – Arqueei a sobrancelha.

— Batata palha fica bom com tudo! – Defendeu-se trazendo o pacote para a mesa.

— Você é o que, uma viciada em batata palha?

— Digamos que sim. – Ela colocou uma montanha de batata no prato quase não sobrando espaço para o macarrão.

— Percebe-se... – Comentei pegando o pacote de suas mãos e deixando ao meu alcance.

Comemos tranquilamente, conversamos amenidades, amenidades que eu sempre fazia soar como uma indireta que a deixasse corada. Era meu divertimento, e lá no fundo eu acho que ela gostava de como a deixava sem fala na maioria das nossas conversas.

Um silêncio se instalou entre nós por alguns segundos e aquilo foi de certa forma incômodo, não só para mim, mas para Jenny também. Resolvi então chamar a sua atenção, pegando um pouco de batata palha e atirando em sua direção.

Ela ergueu a cabeça como se não estivesse acreditando no que eu tinha feito, então eu joguei mais um pouco, logo lhe roubei um sorriso. Mas em compensação acabei por iniciar uma guerra de batata palha.

— Não acredito que fez isso. – Falou ela já se levantando da mesa dando-se por vencida. – Isso foi tão infantil...

— Eu fui infantil? – Indignei-me. – Você foi bem mais infantil por ter revidado a minha infantilidade!

— Não vou discutir! – Disse ela tirando o pacote de minhas mãos.

— O importante é que eu ganhei a guerra. – Falei rindo, mas logo meu sorriso sumiu ao sentir o resto da batata que ainda estava no pacote ser despejado sobre minha cabeça

— Você o que? – Provocou ela.

— Lembre-me de nunca começar uma guerrinha de água com você... – Levantei tentando me limpar.

— Nunca comece nada comigo, eu sempre ganho!

— Tenho meus métodos pra ganhar...

— Eu vou querer conhece-los?

— Você vai implorar pra conhece-los! – Falo aproximando-me dela que tenta dar um passo para trás, mas acaba por esbarrar na pia e fica encurralada.

— Eu vou? – A voz dela saiu fraca e sua respiração estava acelerada o que me fez sorrir.

— Vai, mas não hoje... – Digo já me afastando. – Hoje eu tenho que arrumar um jeito de tirar toda essa batata do meu cabelo antes de ir trabalhar.

— Sobe as escada, primeira porta a direita, tem um banheiro. – Falou terminando de tirar a mesa – Toma um banho, vou procurar algo pra você vestir.

Fiz como ela mandou, tomei um banho, tirei toda aquela batata do meu cabelo e então segui pelo o corredor enrolada em uma toalha procurando pela dona da casa. A encontrei no quarto falando com alguém no telefone, assim que me viu, deu uma desculpa e desligou.

— Não sabia se deveria levar a roupa lá dentro pra você... – Disse ela referindo-se ao banheiro.

— Poderia ter levado. – Falo indo em direção a cama onde ela havia deixado as roupas.

— Não sei... Não queria parecer pretenciosa...

— Você me falando pra ir tomar um banho já pareceu pretencioso. – Comento a deixando vermelha – Levar uma muda de roupas não iria parecer tão pretencioso

— E se eu entrasse lá com essa desculpa pra dar uma espiada?

— Você pensou nisso é? – Pergunto quase a deixando sem rumo – Estou brincando! – Anúncio antes que ela pudesse corar mais. – Não acho que usaria essa desculpa, afinal você não precisa!

— Como assim? – Perguntou a Mulher sem entender do que eu estava falando, mas assim que olhou para mim, pode observar o modo como me livrei da toalha que escondia meu corpo.

Não fiz aquilo na intenção de provoca-la, eu teria que me vestir e ela sabia disso. Ela olhou para meu corpo por algum tempo, mas logo virou o rosto numa tentativa de me dar privacidade.

Ela não saiu do quarto, apenas virou-se e ficou em silencio.

— Pode olhar se quiser! – Falei provocando e pude ver quando ela corou – Já estou basicamente vestida, Jenny. – Anunciei colocando uma camiseta.

Ela virou sem saber o que falar, abaixou o olhar e eu sorri.

— Você é bem...

— Atrevida, é essa a palavra que esta procurando!

— É... essa serve. – Ela sorriu.

— Isso é ruim? – Me aproximei mais dela podendo sentir sua respiração.

— Ainda não decidi... – Ela disse se afastando. – Vamos, vou te dar uma carona.

Eu aceitei a carona, conversamos o caminho inteiro, mas quando chegamos o silêncio tomava conta do carro, eu não queria sair mas sabia que tinha. Então antes que eu pudesse ir embora ela chamou minha atenção

— Não e sim! – Disse ela.

— O que? – Perguntei confusa.

— Não é ruim você ser abusada...

— E o sim?

— Sim, eu vou te encontrar amanhã na festa!

Eu sorri, dei-lhe um beijo no rosto e entrei para a escola.

Uma lição de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora