36- Depois da tempestade, vem outra Tempestade

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Ficamos horas no hospital, assim que consegui, ligamos para Carla que foi correndo nos encontrar.

Fizeram uma lavagem estomacal na Karen, e minha mãe estava como responsável por ela, então foi a única que pôde ficar no quarto e acompanha-la durante a lavagem. Os meninos foram embora depois de umas 80 ligações perdidas dos pais deles e eu e Carla ficamos na sala de espera agoniadas por notícias.

-Você sabe o que aconteceu? - Perguntei tentando puxar assunto pois aquele silêncio estava me deixando ainda mais impaciente.

-Ela me ligou do telefone da mãe. Eu achei estranho, mas achei melhor atender. Ela pediu por ajuda... - Carla abaixava o olhar. Tanto eu como Carla sabiamos que a situação deveria estar bem crítica para Karen ter coragem de pedir ajuda para alguém - A mãe dela colocou um homem dentro de casa fazia uns dias. Ele não se dava bem com a Karen, e ela sentia o olhar daquele porco sob ela...

-Por favor, não me diz que...

-Não. Não aconteceu nada... Ela disse que fugiu de um beijo uma vez, eu queria que ela ficasse lá em casa... Mas ela disse que era melhor não. Isso poderia deixar a mãe dela irritada. Então ela voltou...

-Ela não me falou nada sobre isso

-Você a conhece, ela não gosta de compartilhar os problemas...

-O que aconteceu depois?

-A mãe dela e o namorado começaram a discutir muito, e ele começou a ameaçar a Karen, de diversas maneiras... Acho que na cabeça dele, ameaçar a Karen faria algum efeito na mãe dela...

-Mas não fez...

-Não... Ele bateu muito. E a mãe não fez nada, ele ameaçou abusar dela e tudo o que a mãe dela fez foi pedir pra ele não terminar com ela... - Eu podia ver o ódio nós olhos de Carla, eu não a culparia, certamente estava começando a odiar aquela mulher - Ele foi embora mesmo assim, e a mãe dela disse que era culpa dela, que a Karen havia estragado a vida dela... Ela me ligou pouco depois pedindo ajuda, tentando contar o que havia acontecido, mas a ligação caiu e eu não sabia o que fazer...

-Você não podia ir... - Conclui

-Se a mãe dela me visse só iria piorar tudo...

-E você colocaria toda a sua carreira em risco

-Eu nem estava pensando na minha carreira. Só estava com medo que algo acontecesse com a Karen... A mãe dela já tinha motivos suficientes para me odiar, não podia deixar ela mais nervosa porque isso colocaria a Karen em risco.

-Eu entendi... Então ligou para a minha mãe?

-Liguei... Pros garotos e pra você também, alguém precisava tirar ela daquele lugar...

Eu comecei a pensar que deveria ter feito isso antes. Sempre assisti como a mãe dela a tratava, mas sabe, elas não tinham apenas momentos ruins, elas tinham momentos felizes também. O Problema é que os poucos sorrisos não compensavam as cicatrizes no corpo, muito menos na alma.

Eu cochilei um pouco, afinal já havia amanhecido e eu estava acabada de tão cansada. Só acordei quando minha mãe veio me chamar dizendo que a Karen queria me ver.

Ela já me adiantou que as duas conversaram, que ela explicou que poderia processar a mãe dela caso quisesse. Mas Karen se recusou, disse que não queria fazer isso com a mãe dela. E que se fizesse, certamente seria taxada como uma filha ingrata. Porque no fim das contas, ninguém quer saber o que realmente aconteceu, apenas vão espalhar que uma filha está processando a mãe. Ninguém vai se interessar em conhecer a história antes de despejar ódio em cima de Karen. E eu entendia o lado dela. Todo mundo sempre vê as mães como algo sagrado, mas nem todas são iguais, e eu descobri isso da pior maneira possível, vendo a minha melhor amiga sofrer.

Uma lição de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora