41- O Resto

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Aquele seria o jartar mais romântico de todos os tempos, por mais que não tenha sido eu que planejou... Qualquer coisa com Jenny seria romântica pra mim. O que me fez lembrar a primeira vez que saímos pra comer cachorro quente...

Eu pensei nela o dia inteiro, pensei em tudo o que vivemos naqueles meses, tudo foi tão intenso... Eu lembrei de tudo, cada detalhe... E naquele momento eu tive certeza de uma única coisa. Eu amava a Jenny... E por mais que isso me assustasse, eu tinha coragem pra assumir isso para mim mesma agora.

Amor... O amor é algo que te deixa vulnerável ao outro. Eu nunca quis ser vulnerável. Eu queria ser aquela garota forte em que todo mundo se espelha nos filmes. Eu jamais me apaixonaria, não era algo que eu queria... Mas ela chegou e foi como se mudasse tudo, mudasse o meu ponto de vista, as minhas crenças e o meu discurso sobre amor... Eu a amava, como nunca amei ninguém na minha vida.

Nunca imaginei que um flerte qualquer poderia se transformar em algo tão importante.

Foi um flerte, só um flerte... Que levou a outro e a outro... Nunca foi algo premeditado, as coisas apenas foram acontecendo, eu fui me apaixonando aos poucos... Até estar pedida nesse sentimento.

Com ela era tudo tão fácil... Digo, talvez não pela situação em que nos encontrávamos, mas o modo como tudo caminhou. Tão naturalmente que simplesmente não poderia ser algo errado. Não... Ela foi a coisa mais certa que já havia acontecido comigo.

Karen me azucrinou a tarde inteira pra saber onde eu iria, eu não contei, mas mesmo assim ela me ajudou a escolher uma roupa e até a arrumar o cabelo.

Quando Jenny chegou, ela não tocou a campainha, apenas me mandou uma mensagem dizendo que estava na frente de casa.

Eu saí quase correndo, como se não a visse a dias, como se precisasse dela. Ela estava dentro do carro me esperando, eu entrei e dei-lhe um beijo demorado nós lábios.

-Para onde vamos? - Perguntei me arrumando no banco

-Minha vez de fazer surpresa...

-Não acha isso meio errado? Eu que te chamei pra sair, e você que planejou tudo...

-Não. Acho que assim as coisas ficam equilibradas...

Equilíbrio, eu sentia equilíbrio com ela, como se estivessemos em perfeita sintonia.

O restaurante ficava meio longe, creio que passamos por duas cidades para chegar até lá. Eu não me importei, na verdade quanto mais distante, creio eu que seria mais seguro para nós. Devido as circunstâncias, poderíamos ser mais livres, enquanto estivessemos longe da nossa realidade.

Assim que passamos pela porta de vidro, eu pude ver um pequeno palco, com uma moça vestindo vermelho cantando e com um homem um pouco atrás dela tocando piano, a iluminação era fraca, havia algo como um lampião em cada mesa, aquele era o lugar mais lindo onde eu já havia pisado.

As pessoas sempre sentadas em pares nas mesas. Era o tipo de lugar que você só vai para um encontro romântico. E naquele momento, com os dedos de Jenny entrelaçados aos meus eu pude ver que éramos um casal. Ao menos por uma noite éramos um casal.

O estranho é que eu sempre senti que éramos um casal, o modo como ela me chamava de "amor", ou como ela pensava em mim o dia todo e depois me contava sobre isso, quando ela ia comprar qualquer coisa e me trazia algo que eu gostava só porque sabia que eu iria ficar feliz por ela ter pensado em mim também...

Nós nos sentamos em uma mesa um pouco distante do palco, assim poderíamos conversar tranquilamente.

Eu não queria conversar, eu só queria ficar quieta olhando para os seus olhos. Pois quando eu sentia seu olhar sobre mim, eu sentia como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Ela me fazia ser a pessoa mais importante.

Jenny pediu vinho, e eu a acompanhei, duas taças depois eu já estava a convidando para dançar comigo.

Eu não danço, quando danço, passo vergonha. Então é algo que eu não costumo fazer com frequência. Mas eu queria. Queria ser aquele casal dançando, mesmo que pisasse no pé de Jenny algumas vezes, eu queria muito fazer aquilo com ela.

E quando eu senti suas mãos na minha cintura, o seu corpo contra o meu, sem se importar se alguém olharia feio ou não, sem medo algum... Eu senti que poderia ficar ali para sempre. Com os braços envolta do seu pescoço quase como se a abraçasse enquanto rodavamos pelo salão.

Ela era pouca coisa mais alta do que eu, mas era o suficiente para me fazer olhar para cima enquanto dançávamos. Ela sorria o tempo todo, e me abraçava forte, se eu pudesse viver em um momento, eu viveria neste, e o repetiria para todo o sempre pois nunca me senti tão feliz em toda a minha vida.

-Eu acho que amo você... - Falei baixo sem saber se ela me ouviria, por conta da música. Eu não queria viver na incerteza se ela havia me ouvido ou não, então eu repeti, mas não dá mesma forma... - Eu amo você. - Eu tinha certeza do que sentia por ela, e eu sentia que precisava que ela soubesse, sentia que eu estava pronta pra assumir isso.

Ela me abraçou mais forte, afundou seu rosto no meu pescoço e continuou a dançar. Eu não sabia o que isso significava, mas tentei me forçar a acreditar que não era grande coisa ela dizer que me amava também. Que ela não dizer, não significava que ela não amava. Apenas que não estava pronta para dizer.

Teríamos tempo, teríamos todo o tempo do mundo para que ela se sentisse confortável em dizer que me amava também.  Eu me agarrei a isso com tanta força, que nem pareceu tão fantasioso na época...

Dançamos umas duas músicas, até o nosso jantar chegar. Foi um jantar silencioso, um silêncio que eu não estava acostumada a ter com Jenny. Um silêncio que estava quase me ensurdecedo.

-Eu não posso ficar muito tempo... - Disse e foi quase como um pedido para que fossemos embora

Eu não tinha a menor intenção de que a noite terminasse tão cedo, mas também entendia as limitações de Jenny. Então apenas acenei com a cabeça e assim que terminamos de comer, fomos embora.

O silêncio no carro foi pior do que o silêncio no jantar. Não foi assim que eu havia planejado aquela noite, e tenho certeza que havia fugido um pouco do roteiro de Jenny. Eu estraguei tudo quando contei para ela o que sentia? Mas eu sentia tanto... Que estava quase transbordando de sentimentos por ela. Eu queria gritar para que todos soubessem que eu a amava, e não importava se ela havia respondido ou não. Era o que eu sentia, e eu não a amava menos por não ter me respondido. E por mais que sentisse que havia estragado a noite, eu também me sentia incrivelmente leve, pois agora ela sabia que eu a amava incondicionalmente, de um jeito que jamais alguém poderia amar.

Ela parou o carro em frente a minha casa, não estacionou, apenas parou e ficou em silêncio com o olhar fixo na rua.

-Boa noite... - Falei baixinho enquanto tirava o sinto de segurança

E antes que eu pudesse pensar em abrir a porta para sair do carro, eu senti seus lábios pressionados aos meus com força, enquanto suas mãos estavam segurando meu rosto, uma de cada lado.

Quando ela se afastou para tomar ar, eu senti seus olhos nos meus, um olhar tão triste que se eu pudesse a abraçaria e cuidaria dela para sempre. Mas meu pensamento foi interrompido quando seus lábios começaram a se mexer.

-Eu também te amo - Ela disse forçando um sorriso - Mais do que você pode imaginar... E mais do que eu deveria também... - Ela abaixou a cabeça e se arrumou em seu acento.

Eu não sei se deveria, mas eu fiquei tão feliz com o que ela disse, que talvez não tenha dado a devida importância para o resto.

O resto realmente importava? Pois eu a amava, e ela acabava de dizer que me amava também, nada mais no mundo deveria importar. Apenas nós, e o nosso amor.

Uma lição de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora