7- Não pode mais fugir

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Os raios de sol batiam em meu rosto, fazendo com que eu despertasse. Senti um cheiro forte de rosas antes mesmo de abrir os olhos, me movimentei lentamente sentindo uma dor enorme em minhas costas e pescoço, só então tomei coragem para abrir os olhos. Lá estava eu, sentada ao lado de Jenny que ainda dormia com a cabeça encostada no vidro do carro. 
—Jenn - Chamei-a em um sussurro.
Ela balbuciou algo que eu não entendi enquanto despertava, esfregou os olhos e então olhou para mim.

-Droga, a gente dormiu - Ela falou quase em desespero já saindo do carro e pegando seu telefone 
—Bom dia... - Falei saindo do carro enquanto ela discava um número 
—Oi meu amor - Ela falava ao telefone - Vou me atrasar um pouco, se puder ir lá pra casa depois do almoço eu acho melhor

Eu não sabia o que dizer, nem se deveria dizer algo, apenas voltei para o carro e esperei que ela voltasse. 

—-Me desculpe, eu tinha um compromisso pra hoje cedo... - Tentou explicar sem dar muitos detalhes - Remarquei para mais tarde, posso te levar pra casa se quiser... 
—Acho melhor... - Eu disse sem olhar para ela 
Ela apenas ligou o carro e me levou. O caminho todo ela tentava puxar assunto, era como se nada tivesse acontecido, então se ela estava agindo como se nada tivesse acontecido, achei que eu deveria fazer o mesmo.

-Chegamos - Ela disse parando em frente à minha casa 
—Quer entrar? - Convidei assim que me livrei do cinto de segurança 
—Eu não sei... 
—Não sabe se quer? - arqueei sobrancelha 
—Acho que quero, mas não sei se devo... 
—Bom... Eu acho que deve, mas eu sou suspeita 
Ela sorriu e então se aproximou lentamente de mim, seus lábios estavam quase juntos aos meus quando ouvimos uma sirene vindo de trás do carro. Olhamos para trás e havia uma viatura. 
—Para um pouco mais pra frente - Sugeri 
—Por que? - Ela pareceu confusa mas fez o que eu havia pedido 
A viatura parou onde o carro de Jenny estava, e de lá saiu uma mulher com os cabelos longos e escuros presos em um coque, seus lábios pintados com um batom vermelho  e a camisa de seu uniforme estava com alguns botões abertos. A mulher se aproximou do carro e bateu na janela no lado onde eu estava sentada. Abaixei o vidro e sorri. 
—Dormiu fora? - Ela perguntou arqueando a sobrancelha 
—Não planejei, mas sim... 
Jenny olhava a cena atentamente numa tentativa de compreender o que estava acontecendo 
—Bom, obrigada por trazê-la pra casa - A mulher lançou seu olhar antes em mim para Jenny 
—Não foi nada - Jenny abaixou a cabeça sem entender o que estava acontecendo 
—Eu sou a Rachel, a mãe - Revelou a mulher deixando Jenny sem saber o que dizer 
O silêncio que se instalou entre nós já estava de certa forma me incomodando, então eu resolvi dizer algo ao notar que Jenny não consegui formular nenhuma frase. 
—E essa é a Jenny 
—A professora - Completou ela, ainda sem graça 
—Professora é? - Ela perguntou olhando fixamente para mim - Conversaremos depois - Disse ela abrindo a porta do carro 
—Me desculpe por isso - Disse em um sussurro para Jenny que nada respondeu 
Entrei em casa seguindo minha mãe para a cozinha. 
—Acho que você assustou ela... 
—Ou isso, ou ela ficou sem rumo quando se deparou com tamanha beleza - Ela apontou para sí mesma antes de pegar uma jarra de chá que estava na geladeira 
—Precisava mesmo ter feito isso? - Perguntei pegando dois copos 
—Acha que fiz algo errado?
Se eu fosse analisar, ela não tinha feito nada de mais, mas o jeito que   Jenny ficou havia me preocupado. 
—Não, não fez... Como foi o trabalho - Tentei mudar de assunto 
—Complicado, e falando nisso... Acha que pode ficar uns dias na Karen?

-Por...?

—Vou viajar, coisas do trabalho, Hell precisa de mim 
—A sua amiga que é dona de boate? - Perguntei já lembrando quem era. Nunca conheci essa amiga da minha mãe, mas ela descrevia a mulher como se ela fosse o poderoso chefão, versão feminina e sexy. Sempre que a boate se metia em problemas ela pedia ajuda para a minha mãe. 
—Sim, tudo bem você ficar na Karen né? Se quiser pode ficar na casa dos meninos também 
—Amanhã eu vejo com um deles, pode deixar 
Minha mãe viajava muito e odiava me deixar sozinha. Então eu acabava por ficar na casa de amigos. Tomamos um pouco de chá e logo minha mãe foi para o chuveiro dizendo que tinha que voltar pro trabalho. Eu subi para o quarto, tomei um banho, coloquei uma roupa velha e fui para a sala. Minha mãe já havia saído, eu coloquei um DVD e fiquei assistindo o resto da tarde. Só percebi que tinha anoitecido quando tocaram a campainha e eu tive que atender. Era o garoto da pizza, mas eu não tinha pedido nada. 
—Se perdeu no caminho? - Perguntei
—Mandaram pra você. Já está pago 
Eu peguei a pizza e entrei, na caixa havia um bilhete "Sorry Baby, não voltarei para casa, aproveite a pizza. Te amo" 
—Também amo você - Falei sozinha colocando a caixa na mesinha de centro e sentei-me novamente no sofá. Comi um pouco e me deitei adormecendo ali mesmo. 
No dia seguinte acordei com mais dor nas costas do que já estava. Definitivamente eu teria que voltar a dormir em uma cama. Mas não tinha tempo para pensar nisso, peguei minha mochila e corri para não perder o ônibus. Chegando na escola tive duas aulas de matemática e uma de educação física antes do intervalo. Ao sair da sala pude ver Jenny ao lado de Nat. Ameacei ir ao seu encontro e ela simplesmente deu as costas e entrou na sala dos professores. Eu não sabia se eu tinha feito algo, mas com certeza  iria descobrir. Procurei Karen por toda escola mas não a encontrei, acabei por ficar o resto do intervalo com o gêmeos que apenas me contaram que ela tinha faltado. O sinal bateu e no caminho para a sala avistei Jenny, que ao me ver saiu pelo corredor andando rápido. A segui com o olhar para saber em que sala ela iria ficar e voltei para a minha. Não demorou muito para eu dar uma desculpa e sair da sala indo diretamente para a sala em que Jennifer dava aula. A encontrei sentada na mesa lendo alguma coisa enquanto os alunos faziam algum trabalho. Caminhei até a sua mesa me sentando a sua frente e então chamei sua atenção. 
—Esta me evitando? - Perguntei seria mas sorrindo 
—Por que eu estaria? 
—Você me deu as costas duas vezes em um dia... 
—Jully... Não é hora pra isso - Ela falou firme - Te encontro na biblioteca mais tarde pra gente conversar Acenti com a cabeça e sai da sala voltando para a minha.
Já estava impaciente, as aulas pareciam mais longas naquele dia. Quando o sinal da última aula tocou, fui direto para a biblioteca e fiquei lá esperando Jennifer que não fez questão de chegar rápido. Mas quando chegou... Bom, eu respirei fundo e sorri.
Ela fechou a porta e sentou-se perto de mim.
—O que aconteceu? - Perguntei ainda preocupada
—Não acha que deveria ter me contado que a sua mãe é da polícia?
Eu caí no riso, toda essa tensão por conta da minha mãe. No fundo eu já imaginava que esse era o motivo.
—Talvez eu não quisesse te assustar... Já imaginou como seria essa conversa? - Perguntei parando de rir - "Oi, tudo bem? Meu nome é Jully, eu tô louca pra sair com você mas minha mãe é polícia ok?" Você certamente sairia correndo
—Como uma pessoa sensata.
—Bom... Agora você não pode mais fugir
—Não posso? - Ela arqueou a sobrancelha
—Não. Agora você também quer sair comigo
—Eu quero?
—Quer... E eu poderia dizer que você não quer fugir - Disse me inclinando sobre a mesa ficando a poucos centímetros dela
—Você é bem espertinha... - Disse ela sorrindo de canto 
—E se te deixa mais tranquila... Minha mãe realmente não se importa - Me afasto e arrumo minha postura na cadeira 
Ela ficou ali, me olhando como se estivesse pensando em algo de outro mundo.
—Quer ir pra minha casa? - Ela disse
—Superou esse medo da minha mãe bem rapidinho - Brinquei a fazendo rir - Claro que eu quero - Disse levantando-me e oferecendo uma mão para ela.

Uma lição de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora