44- A Realidade é um Final

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O meu corpo todo doía... Eu chorei por tanto tempo que provavelmente não tinha mais lágrimas para dar. Mas se houvessem, eu certamente continuaria chorando.

Eu não conseguia me lembrar da minha vida antes de Jenny, e não queria imaginar a vida sem ela depois de ter experimentado um pouco de seu amor.

Eu passei dias na cama, minha mãe tentou conversar comigo algumas vezes, mas eu não conseguia dizer nada, Karen também tentou algumas vezes, mas toda vez que eu estava perto de falar algo, eu voltava a chorar... E passava longas horas chorando.

Eu não fui mais ao colégio, não aguentaria vê-la, por mais que eu quisesse, não suportaria ela me olhar com indiferença, como se eu fosse apenas uma de suas alunas quando eu já pude ouvi-la dizendo que me amava.
Isso seria tortura para mim...

Eu não queria sair de casa, por mais que a morasse longe da minha casa, eu tinha a impressão de que sairia e a veria em todos os lugares sempre com o lembrete de que ela não era mais minha.

Eu nunca imaginei que poderia sofrer tanto por alguém, nunca imaginei que poderia chorar tanto, acreditava ser impossível chorar o tanto que chorei por ela, mas não era...

E eu passei semanas assim... até não sobrar mais nada... Só o vazio

E eu passei muito tempo entre o nada e a saudade que eu sentia dela. Como se só existissem aquelas duas opções para mim, e eu passei muito, muito tempo acreditando que aquilo era verdade.

Eu cheguei a esperar que o telefone tocasse mesmo sabendo que ele jamais tocaria, eu esperei que voltasse, mesmo sabendo que jamais iria voltar.

Eu não aguentava mais, entre o vazio e a espera do que jamais iria acontecer, eu ficaria louca... E foi com essa conclusão que eu decidi ir embora.

E finalmente eu consegui conversar com a minha mãe... Não tudo, obviamente, mas eu tentei contar sobre a dor que estava sentindo, sobre como tudo estava me machucando, sobre como a saudade fere...

Eu não podia mais ficar ali...

Então eu fui... E foi uma das coisas mais difíceis que tive que fazer depois do que aconteceu. Pois ir embora, para mim é como se não tivesse mais volta,  enquanto eu estivesse lá, eu continuaria esperando por ela, mas ir embora... Significaria que ela jamais iria voltar.

Eu fui... Ela não voltou.... E hoje sei que mesmo que eu tivesse ficado ela não teria voltado pois já tinha tomado uma decisão.

Eu teria que tomar a minha também...

E eu tomei, sem muita certeza, eu confesso, mas tomei.

E eu fui para o mais longe que eu poderia, e eu senti a falta dela a cada minuto, como se eu não pudesse respirar longe dela.

Mas... Eu aprendi a respirar de novo, e mesmo que doesse, eu voltei a sorrir fraco toda vez que lembrava dela. E foram muitas e muitas vezes...

Não tenho certeza de como consegui me formar, provavelmente Carla ajudou me dando presença em algumas matérias...

Minha mãe... Ela dizia que sentia a minha falta, mas se ocupava cuidando de Karen, ela entendeu que eu não poderia mais ficar lá.

Anos e anos se passaram, e eu posso dizer que eu aprendi a viver sem ela.

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Eu demorei muito para finalmente conseguir ver isso: Ela me amava

Independente de como tudo isso terminou, independente de como eu fiquei despedaçada ao final. Eu sei que ela me amou.

O jeito que me olhava, o jeito que cuidava de mim, modo como me abraçava e parecia que eu era todo o seu mundo...

Ela me amava.

O jeito que mexia no meu cabelo, ou o modo que correspondia às minhas provocações inconvenientes.

Ela me amava.

Ela me amava tanto que escolheu me deixar ir, e demorou muito tempo para eu perceber que foi a decisão mais difícil que ela tomou por nós, e talvez a prova de amor mais bonita.

Foi o jeito dela de me proteger, pois quanto mais tempo passassemos juntas, mais meu sentimento cresceria, e no final... O final teria sido o mesmo, talvez mais doloroso. Ela queria me poupar de uma dor maior, mas eu já estava completamente apaixonada por ela, talvez ela não soubesse...

Eu não duvidaria do amor que ela sentiu por mim, nunca. Ela me amou mais do que qualquer um já tenha tentado, e eu a amei mais do que tudo em minha vida.

As vezes duas pessoas que se amam, não ficam juntas, por diversos fatores, mas isso não significa que elas não se amavam. E eu acredito que esse foi o nosso caso, eu te amaria para sempre, mesmo sem estar ao seu lado.

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-Vamos! - Karen gritava ao meu lado enquanto eu tentava dirigir

-Se você ficar gritando comigo, eu me assusto, e deixo o carro morrer - Resmungo enquanto acelero

Karen revirou os olhos, estava impaciente, e eu parecia que estava parando em todos os semáforos...

Fazia pelo menos cinco anos que eu não pisava naquela cidade, mas era aniversário da minha mãe, e faríamos algo para ela.

Era uma tarde de sol, mas nem estava tão quente... Era um dia comum, o trânsito estava normal, e eu estava me divertindo cantando as músicas do rádio com a Karen.

Eu parei em outro semáforo, e Karen aproveitou pra sair do carro e correr no mercadinho da esquina o que me fez encostar perto da calçada para esperar a madame.

Eu não esperava por aquilo... Quando aquele olhar cruzou com o meu, foi como se a visse pela primeira vez. E de novo, meu coração sorrio.

Ela estava do outro lado da rua, deixando um garotinho de uns quarto anos na escola, ele parecia com ela, tinha os mesmos olhos.

O menino entrou na escolinha, e Jenny do outro lado da rua ficou igualmente paralisada.

Eu sorri para ela, um sorriso sincero, ela me devolveu da mesma forma.

O modo que me olhou, eu soube que assim como eu, o amor entre nós ainda existia, e existiria para todo o sempre, mas que também não iria ser uma história de amor com a qual somos ensinadas a sonhar quando crianças. Nem toda história de amor é igual, mas não significa que elas não são igualmente belas.

-Você está mais bonita - Ela falou do outro lado da rua e eu sorri divertida

-Você não viu nada - Pisquei para ela como se nada tivesse acontecido e ainda estivéssemos nos provocando na época do colégio - Mas eu certamente adoraria te mostrar

-O tempo passa e você continua perigosa...

-Sempre - Dou de ombros e vejo Karen vindo correndo do mercado - Foi bom te ver - Confessei um pouco mais baixo sem saber se ela ouviria

Ela sorriu e eu tenho certeza de que ela sibilou um "eu te amo" jogado ao vento.

O vento levou suas palavras até mim, como se me abraçassem...

Karen voltou para o carro, e foi como se me fizesse voltar para a realidade.

Eu e você somos como um universo paralelo, uma brecha no tempo, não existe realidade... Mas isso não me faz te amar menos.

Eu liguei o carro e segui o meu caminho, te deixando o seu. Voltando para a minha realidade para que possa voltar para a sua.

Uma lição de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora