28 DE JUNHO DE 2017

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Quando toquei a maçaneta, hesitei por alguns segundos. Seria mesmo necessário estar aqui? Tanta gente passa pelo mesmo que eu e não precisa de tratamento para superar as dificuldades, então por que eu seria o diferentão? O plano cobre totalmente tratamentos psicológicos, e nunca experimentei para saber se presta ou não. Pensei em dar pelo menos uma chance a tal Priscila Montes Claros, psicóloga com abordagem TCC, terapeuta em PNL e outros títulos que vi no Google, mas não quis saber o que significavam. O importante era fazer consultas em médicos que não cobrassem coparticipação no plano de saúde, que já pesava no bolso.

Abri a porta, e ela estava sentada atrás de uma mesa com seu computador, olhando fixamente para a tela. Ela me pareceu ser bem pequena de primeira vista, com seus pequenos óculos retangulares e cabelo preto preso com rabo de cavalo, mas foi só impressão mesmo. Quando me viu entrando, levantou e veio na minha direção apertar a minha mão. Provavelmente a cadeira estava totalmente abaixada e isso deu a impressão de ser muito baixinha, mas continuava pequena perto de mim, magrinha e fofinha com seu corpo compacto e frágil. Engraçado que antes de entrar imaginei que ela fosse bem parecida com isso, não sei por que.

— Você deve ser Henrique — disse ela enquanto apertava minha mão.

— Isso, doutora.

— Pode me chamar de Priscila. Sente-se onde preferir — falou ao mostrar com as duas mãos quais as opções eu tinha: cadeira ou divã; escolhi a cadeira, era até bem confortável.

Ela se sentou bem na minha frente em outra cadeira que já estava posicionada e deveria ser a que ela sempre se sentava, mesmo se a minha escolha fosse o divã. Ela estava toda de branco com um colar bem chamativo, desses de artesanato, o que me fez pensar se eu estava realmente em uma consulta de psicologia ou de frente para uma mãe de santo. Sua pele morena era bem cuidada, o rosto liso e sem marcas. Parei de reparar nela assim que começou com as perguntas.

— O que te trouxe aqui, Henrique? — perguntou enquanto trançava os dedos das mãos sobre o próprio colo, logo após cruzar as pernas.

— Bom, Priscila, estou passando por alguns problemas que têm me causado dificuldade para lidar. Tenho um emprego que odeio, pais que me cobram constantemente e me comparam com minha irmã bem-sucedida, moro de aluguel, mas o principal dos problemas, e o motivo que me trouxe aqui, é a minha namorada.

E se for tudo um sonho?Onde histórias criam vida. Descubra agora